O que é um título entre os
homens?
Um reconhecimento por um
feito, por uma causa defendida, o que mais?
É claro que representa um
incentivo, algo em que os outros te presenteiam com o reconhecimento, é
positivo, mas o que mais importa é a sua coerência interior, é a sua consciência
que está no caminho certo, que faz tudo que está ao seu alcance em torno da
causa defendida.
Quando me deram a
oportunidade, por várias vezes, de ser agraciado com o Prêmio Nobel da Paz via
nisso uma oportunidade de promoção da causa que defendia e não de mim
mesmo.
Esta consciência, desde
cedo, me fez evitar de pensar que seria superior aos outros. É, porque uma
premiação, lá no fundo, suscita mesmo é o orgulho. Você começa a se achar o
melhor, começa a voar na imaginação.
Quando se tem consciência
do que se é e do que representa uma premiação, seja ela qual for, nos colocamos
mais humildes diante da situação.
Quando soube que os
militares estavam no encargo de não permitir tal premiação vi nisso um motivo de
alegria. É que ao combaterem a premiação estavam, no fundo, emancipando-a para
todos. Estavam corroborando a ideia que defendia. Combatendo-me estavam na
prática me promovendo – ou promovendo a causa que defendia. Tornou-se mais
notório que estávamos incomodando, então o meu discurso ficou mais fácil de ser
trazido para onde ia e mais e mais gente corria para nos escutar a palavra. Este
era o prêmio maior.
Os militares no Brasil,
naquela época, defendiam uma causa justa: a paz social. O problema é que ao
defender esta causa eles simplesmente suprimiam a liberdade e como ter paz sem
liberdade. Tornou-se, então, um eufemismo, um golpe contra eles mesmos. Por
isso, demoraram tanto em sair do poder.
Paz social se faz com
liberdade e justiça, emprego e renda, desenvolvimento e participação. Não se faz
com o tacão ou com armas na mão. Eis o erro primacial que eles criaram e não
sabiam como sair.
Criaram o grande inimigo, a
segurança nacional, e depositaram nela todas as razões para cometer os seus
desatinos. Mataram gente inocente, usurparam famílias, suprimiram liberdade de
ir e vir, expulsaram irmãos de sua própria pátria, fizeram de um
tudo.
Os militares mais
conscientes sabiam do equívoco que estavam cometendo e se preocupavam onde tudo
aquilo iria dar. Outros, porém, menos ajuizados, cumpriam ordens sem questionar,
“pintavam o sete” em desrespeito aos direitos civis
mínimos.
Tudo isso e muito mais eu
disse nas minhas palestras internacionais e todos ficaram sabendo que no Brasil
se mentia quando dizia que havia o respeito aos direitos civis. Tive que
denunciar a tortura em alto e bom som para que se alertasse sobre que tipo de
governo estávamos submetidos.
Fez parte de um contexto de
vida nacional e desejo que nunca mais isto se repita, mas não podemos deixar
jamais de aprender com a história, sobretudo as novas
gerações.
Este documento que ora é
apresentado apenas reforça tudo que todos já sabiam que é a supressão de
liberdade de expressão de um velho padre.
Deixa estar, isto já passou
e não busco louros. O que me importa, como sempre me importou, é servir ao
Cristo, servindo aos nossos irmãos de caminho, este é o prêmio maior que Deus já
me concedeu, nisto sou um vencedor. Não que atingi qualquer coisa, mas que estou
ativo na caminhada, isto, sim, é o que importa.
Graças a
Deus!
Helder Câmara – Blog Novas
Utopias
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