21.12.15

Prêmio Nobel

O que é um título entre os homens?
Um reconhecimento por um feito, por uma causa defendida, o que mais?
É claro que representa um incentivo, algo em que os outros te presenteiam com o reconhecimento, é positivo, mas o que mais importa é a sua coerência interior, é a sua consciência que está no caminho certo, que faz tudo que está ao seu alcance em torno da causa defendida.
Quando me deram a oportunidade, por várias vezes, de ser agraciado com o Prêmio Nobel da Paz via nisso uma oportunidade de promoção da causa que defendia e não de mim mesmo.
Esta consciência, desde cedo, me fez evitar de pensar que seria superior aos outros. É, porque uma premiação, lá no fundo, suscita mesmo é o orgulho. Você começa a se achar o melhor, começa a voar na imaginação.
Quando se tem consciência do que se é e do que representa uma premiação, seja ela qual for, nos colocamos mais humildes diante da situação.
Quando soube que os militares estavam no encargo de não permitir tal premiação vi nisso um motivo de alegria. É que ao combaterem a premiação estavam, no fundo, emancipando-a para todos. Estavam corroborando a ideia que defendia. Combatendo-me estavam na prática me promovendo – ou promovendo a causa que defendia. Tornou-se mais notório que estávamos incomodando, então o meu discurso ficou mais fácil de ser trazido para onde ia e mais e mais gente corria para nos escutar a palavra. Este era o prêmio maior.
Os militares no Brasil, naquela época, defendiam uma causa justa: a paz social. O problema é que ao defender esta causa eles simplesmente suprimiam a liberdade e como ter paz sem liberdade. Tornou-se, então, um eufemismo, um golpe contra eles mesmos. Por isso, demoraram tanto em sair do poder.
Paz social se faz com liberdade e justiça, emprego e renda, desenvolvimento e participação. Não se faz com o tacão ou com armas na mão. Eis o erro primacial que eles criaram e não sabiam como sair.
Criaram o grande inimigo, a segurança nacional, e depositaram nela todas as razões para cometer os seus desatinos. Mataram gente inocente, usurparam famílias, suprimiram liberdade de ir e vir, expulsaram irmãos de sua própria pátria, fizeram de um tudo.
Os militares mais conscientes sabiam do equívoco que estavam cometendo e se preocupavam onde tudo aquilo iria dar. Outros, porém, menos ajuizados, cumpriam ordens sem questionar, “pintavam o sete” em desrespeito aos direitos civis mínimos.
Tudo isso e muito mais eu disse nas minhas palestras internacionais e todos ficaram sabendo que no Brasil se mentia quando dizia que havia o respeito aos direitos civis. Tive que denunciar a tortura em alto e bom som para que se alertasse sobre que tipo de governo estávamos submetidos.
Fez parte de um contexto de vida nacional e desejo que nunca mais isto se repita, mas não podemos deixar jamais de aprender com a história, sobretudo as novas gerações.
Este documento que ora é apresentado apenas reforça tudo que todos já sabiam que é a supressão de liberdade de expressão de um velho padre.
Deixa estar, isto já passou e não busco louros. O que me importa, como sempre me importou, é servir ao Cristo, servindo aos nossos irmãos de caminho, este é o prêmio maior que Deus já me concedeu, nisto sou um vencedor. Não que atingi qualquer coisa, mas que estou ativo na caminhada, isto, sim, é o que importa.
Graças a Deus!

Helder Câmara – Blog Novas Utopias

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