28.12.15

COLÓQUIO DE JESUS COM NICODEMOS - Parte II

"Havia um homem dentre os fariseus, chamado Nicodemos, principal entre os judeus; este foi ter com Jesus à noite e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; pois ninguém pode fazer estes milagres que tu fazes, se Deus não estiver com ele, Jesus respondeu-lhe: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer sendo velho? Pode, porventura, entrar novamente no ventre de sua mãe e nascer? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, o que é nascido do Espírito é Espírito. É-vos necessário nascer de novo. O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai: assim é todo aquele que é nascido do Espírito. Como pode ser isso? perguntou-lhe Nicodemos. Respondeu-lhe Jesus: Tu és mestre em Israel e não entendes estas coisas? Em verdade, em verdade te digo que falamos o que sabemos e testificamos o que temos visto e não recebeis o nosso testemunho. Se vos tenho falado das coisas terrenas, e não me credes, como que crereis, se vos falar das celestiais? Ninguém subiu ao Céu, se não aquele que desceu do Céu, a saber, o Filho do Homem. Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna". (João, III, 1-15. )
(continuação)
Pelo que se depreende da nova pergunta de Nicodemos a Jesus, já se pode concluir: ele, não lhe convindo nascer de novo por esta forma - abandonar sua seita, seus dogmas, seus cultos, suas honras, suas vaidades, seus preconceitos fingiu não entender a palavra, a ordem expressa do redentor do mundo.
E então muito admirado por haver o Mestre proferido tal sentença, perguntou: "Como pode o homem nascer, sendo velho?
Pode, porventura, entrar novamente no ventre materno e renascer?"
Ao que Jesus lhe respondeu: "Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus; o que é nascido da carne é carne; o que é nascido do Espírito é Espírito. Não te maravilhes de eu te dizer: necessário vos é nascer de novo".
Por este trecho vemos, bem claro, que as condições de salvação impostas por Jesus são duas: "nascer da água e nascer do Espírito".
Vamos analisar a primeira proposição: "nascer da água".
Que pretende o Mestre dizer com isto: "nascer da água?"
Não pode ser outra coisa senão: nascer neste mundo, com um corpo carnal; pois todos os corpos orgânicos e inorgânicos são, em última análise, produtos da água.
Sem água, em nosso mundo não haveria nascimento, crescimento e vida.
Tudo nasce da água, tudo vive da água; os peixes nos mares, nos lagos e nos rios, donde vêm? Da água. Os animais nos campos e nas matas, donde vêm, senão da água?
Os pássaros que perambulam na Terra e voam nos ares, não é da água que vêm?
Até as ervas nascem da água!
Plantai uma semente ou um galho, uma muda, deixai-os sem água e eles não nascerão. Tirai os peixes das águas e eles morrerão. Os animais dos campos, das matas; os pássaros rasteiros e dos ares; os homens das roças e das cidades, todos eles, sem água, não nasceriam, não cresceriam, não viveriam porque a água é condição de vida para os corpos, e até nosso próprio corpo contém três quartas partes de água, com a qual se alimenta, vive, cresce e se nutre.
Água por dentro, água por fora; e até a própria criança no ventre materno não dispensa a água que a envolve e lhe dá vida.
É da água que vem tudo; portanto, "nascer da água" não quer dizer outra coisa, senão nascer neste mundo com corpo da natureza, que é peculiar ao gênero humano.
Notai! O trecho do Evangelho é bem claro: "nascer da água". 
Explicação mais clara do que esta, nem mesmo a água, por mais límpida e cristalina que seja.
Não é preciso pedir emprestado o dogma do batismo das igrejas, para explicar uma coisa que o próprio Evangelho, que é a palavra de Jesus, ensina e explica com toda a clareza.
Aqueles que vêm a este mundo e ficam imbuídos dessas crenças irrisórias, crenças que nada ensinam, que nada explicam, e que, tendo empanados os olhos por esses cultos e sacramentos sacerdotais chegam a ponto de só crerem nesta vida; descrêem completamente da vida eterna, da vida do Espírito, da vida no espaço, da imortalidade, como aconteceu com Nicodemos, que não compreendia a palavra do Mestre; só poderão salvar-se e entrar no Reino de Deus morrendo, para verem face a face a vida eterna, a imortalidade, e depois votarem a este mundo, "nascendo da água com um corpo de carne", fazendo-se crianças para então, sem preconceitos, sem vaidades, sem orgulho, estudarem a Doutrina de Jesus e receberem essa chave com a qual se abre a porta do Reino do Céu.
Vamos passar agora à segunda condição de salvamento: "nascer do Espírito".
Como atrás ficou explicado, segundo os dizeres de Jesus, há necessidade de nascer da água, para entrar no Reino de Deus isto é, é preciso entrar na vida material, na vida carnal, justamente esta vida em que vivemos com um corpo de carne.
Mas como esta vida não é bastante para efetuarmos a nossa ascensão para a felicidade, mesmo neste mundo Deus nos facultou, como premissa da vida eterna, a vida Espiritual, a vida moral, porque o homem não vive só do corpo, não vive só de pão.
Esta vida espiritual não é uma coisa visível, pois afeta somente o nosso "Eu" íntimo, o nosso Espírito que também é invisível.
É uma vida interior que sentimos, proclamada por todos os povos, por todos os códigos de moral e esboçada maravilhosamente por Jesus Cristo no seu Evangelho.
É nesta vida que se manifestam os prazeres e os sofrimentos, também invisíveis. De um lado, as virtudes, a santidade, a paz de consciência, a alegria de coração; de outro as paixões más, o remorso, a tristeza.
Dizendo Jesus: "forçoso é nascer do Espírito", chamou a atenção de Nicodemos para esta vida interior, a fim de que ele ficasse sabendo que, sendo ele, Jesus, portador de um Espírito novo, que deve normalizar em todas as almas a vida do Espírito, todos os que quiserem entrar no Reino de Deus precisam nascer desse Espírito, viver nesse Espírito; assim como os que entram na vida carnal, nasce da água e vivem da água.
O nascimento, tanto da água como do Espírito, é indispensável.
Não é bastante nascer da água, não basta tomar um corpo de carne neste mundo e nascer aqui, não basta nos encarnarmos aqui nesta Terra, precisamos, principalmente, "nascer do Espírito"; por isso o Mestre acrescentou no versículo 6: O que é nascido da carne é carne; o que é nascido do Espírito é Espírito.
Quando visitou o Mestre, Nicodemos já havia "nascido da água", mas não havia nascido do Espírito; por isso Jesus lhe disse: "o que é nascido da carne, é carne", quer dizer: "aquele que só no mundo terreno vê meio de nascimento e de vida", é material, porque ainda não percebeu que o homem não é somente carne, é também Espírito; e assim como o homem tem corpo material e espiritual, existem também mundo material e mundo espiritual.
Nicodemos permanecia boquiaberto e admirado diante de Jesus, pois não compreendia a doutrina nova que o nazareno lhe pregava; Jesus insiste, afirmando: "Não te maravilhes de eu te dizer, necessário vos é nascer de novo. O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde ele vem, nem para onde vai: assim é todo aquele que é nascido do Espírito".
Esta lição vem confirmar mais uma vez a primeira sentença pronunciada pelo Mestre, logo que Nicodemos o saudou: Em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
Jesus insiste com Nicodemos para que ele se torne como uma criança, que não sabe donde veio, nem para onde vai; e fez uma comparação do conhecimento que temos sobre o vento: "Sabemos que o vento existe porque ouvimos a sua voz, seu ruído, seu sussurro; mas não sabemos donde ele vem, nem para onde vai".
Nicodemos acreditava que o Espírito vinha de Adão e Eva e que de lá todos descendiam; e que, ao sair deste mundo, iria para o seio de Abraão ou para a Geena. Acreditava assim, porque assim eram os artigos de fé da religião Farisaica, da qual era sacerdote; mas Jesus afirmou não ser verdadeira essa crença, quando disse: "O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde ele vem, nem para onde vai": assim é aquele que é nascido, que acaba de nascer do Espírito; abjura essas crenças falsas, caducas, e fica crendo só no Espírito, embora não saibas donde vem, nem para onde vai; porque depois, com vagar, aprenderás; o camelo estando descarregado e o boi sem jugo, fácil lhes será receber o fardo leve e o jugo suave, prometido e oferecido por Jesus a todos os que se acham prontos para o trabalho.
Mas Nicodemos, por mais que Jesus explicasse, não encontrava meios de compreender; ou então fingia não compreender; porque lhe era preciso abandonar as crenças velhas de sua religião, que lhe tentavam dizer donde ele vinha e para onde ia, embora o próprio Nicodemos não cresse nas afirmativas falsas da religião de que era sacerdote.
E continuando a manifestar admiração, vira-se para Jesus e pergunta: "Como pode ser isto?", ao que o Mestre lhe respondeu: "Tu és mestre em Israel e não entendes estas coisas? Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?".
Por sua vez, Jesus se mostra admirado por não compreender Nicodemos a sua palavra tão clara. "Tu és mestre, tu ensinas aos outros e não entendes isto que te estou ensinando? Se eu somente estou falando daquilo que podes ver com teus olhos e que todos podem observar todos dias - Se eu mostro os Espíritos nascendo em corpos, e os corpos nascendo da água: falo-te de coisas que qualquer pessoa pode saber, porque são coisas que se vêem sempre, bastando só prestar atenção, e tu não entendes; como poderei falar-te das coisas celestiais, que ninguém pode ver com os olhos da carne, e que se acham ocultas ao homem que só é nascido da carne?".
Jesus prosseguiu: "Nós falamos o que sabemos e testificamos o que temos visto; assim acontece com o que acabo de dizer-te, e não recebes meu testemunho, esse próprio testemunho que está diante de tuas vistas; como poderei falar-te daquilo que não está ao alcance de tua vista?"
Terminou Jesus lembrando a Nicodemos uma passagem das Escrituras, que diz haver Moisés levantado uma serpente no deserto, por ocasião em que os israelitas atravessaram certa região, depois da saída do Egito, onde proliferavam víboras peçonhentas, cujas picadas matavam instantaneamente. Todos aqueles que olhavam a Serpente de Bronze não sofriam mal, embora fossem picados pelas víboras.
É que a ele, Jesus, importava também sofrer todas as injustiças, todo o repúdio dos homens, ser levantado, ser crucificado; porque assim a sua vida seria um exemplo luminoso da doutrina que ele pregava, e todos aqueles que se tornassem crentes nas suas palavras, teriam a vida eterna, ou seja, não ficariam limitados, como estão os demais homens, à vida terrena, como o próprio Nicodemos estava.

Livro: Parábolas e Ensinos de Jesus - Cairbar Schutel

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