No capítulo 42 – “Em
Conversação” –, André Luiz nos fala sobre o diálogo com o Ministro Benevenuto,
que acabara de chegar dos campos da Polônia, afirmando: “Muito doloroso o
quadro que vimos (...); habituados ao serviço da paz na América, nenhum de nós
imaginava o que fosse o trabalho de socorro espiritual nos campos da Polônia.
Tudo obscuro, tudo difícil. Não se podem, ali, esperar claridades de fé nos
agressores, nem tão-pouco na maioria das vítimas, que se entregam totalmente a
pavorosas impressões. Os encarnados não nos ajudam, apenas consomem nossas
forças. Desde o começo do ministério, nunca vi tamanhos sofrimentos coletivos”.
*
A Segunda Grande Guerra
estava para acontecer e o Mundo Espiritual Superior, na tentativa de evitá-la,
sentia-se impotente. Na tentativa de inspirar decisões que pudessem ser tomadas
em favor da paz, evitando derramamento de sangue e a destruição de nobres
patrimônios culturais da Humanidade, os espíritos, que transitavam nos
gabinetes humanos, não logravam êxito. A mente encarnada fixa na violência,
impedia o registro de qualquer apelo de ordem superior.
*
Neste trecho do relato de
André Luiz, aproveitamos para responder àqueles que vivem indagando pela
influência do Mundo Espiritual sobre, por exemplo, a situação política vigente
no Brasil, com tanta corrupção e injustiça prejudicando milhares. Muitos,
diante de nossa aparente passividade, chegam a duvidar de que, realmente,
possamos existir, nós, os desencarnados. Acontece, porém, que, consoante as
Leis Divinas, não dispomos de outro poder de intervenção junto aos encarnados
que não seja o da sugestão mental, através dos apelos direcionados, de mil
formas diferentes, aos que ocupam posições de poder, conduzindo os destinos de
tanta gente.
Sentimo-nos, literalmente,
como humildes ferreiros batendo sobre “ferro frio”, sem a menor capacidade de
moldá-lo conforme melhor convém à sua utilidade geral.
O mesmo acontece quando,
muitas vezes, amigos vários nos questionam sobre a nossa capacidade de
influenciação no Movimento Espírita, impedindo que desvios doutrinários
aconteçam, chegando a deturpar a mensagem da Terceira Revelação. Claro que não
estamos alheios aos atavismos do Movimento Espírita, que, a partir de determinados
companheiros invigilantes, colocam a pureza da Doutrina sob séria ameaça.
Acontece, porém, que os nossos alvitres, dos irmãos de Ideal que nos
encontramos deste Outro Lado, não são atendidos, ou, então, são tidos a conta
de alertas mistificadores, intermediados por sensitivos em estado obsessivo.
*
O Ministro Benevenuto, em seu
diálogo, ainda destacou: “Nunca, como na guerra, evidencia o espírito humano a
condição de alma decaída, apresentando características essencialmente
diabólicas”. Ousaríamos dizer que não apenas na guerra, mas em qualquer
situação em que interesses escusos estejam em jogo – interesses ligados ao
poder transitório, ao dinheiro, à vaidade, a pretenso poder espiritual
conferido pela liderança de natureza religiosa... O Espiritismo, dizemos aqui o
que temos dito alhures, vem sendo vítima do maior blefe mediúnico de todos os
tempos, inédito nos anais do Espiritualismo em geral, com o envolvimento de
centenas e centenas de espíritos encarnados, no Brasil e no Exterior, que estão
se deixando influenciar maleficamente, dando azo a que o elitismo se acentue na
gleba da Doutrina, fadada a reviver o Cristianismo em sua primitiva pureza.
*
Os Espíritos Amigos, como
elucida o Ministro Benevenuto, frustram-se profundamente, e não é sem grande tristeza
que observam a mole humana encaminhar-se, uma vez mais, para o abismo da
ilusão, sem a necessária coragem de romper com os interesses mesquinhos que já
a fizeram cair tantas vezes.
*
Nós mesmos, que nada somos,
em mais de uma oportunidade, temos procurado alertar para os perigos que o
Movimento Espírita atravessa, vendo, porém, baldados parte de nossos sinceros
esforços, por aqueles que se unem para desqualificar-nos o tentame, a fim de
continuarem usufruindo das benesses de um ilusório poder.
O que vem acontecendo em
nosso Movimento, dá-nos plena convicção de que, infelizmente, o Espiritismo não
se encontra preparado para a generalização de seus postulados, sem que, à sua
frente, centenas viessem a reivindicar autoridade de liderança, a fim de serem entronizados
como seus “chefes” religiosos, perturbados pela ideia de hegemonia espiritual –
a mesma ideia que, na imagem bíblica, fez com que Satanás se precipitasse do
Paraíso.
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 29 de janeiro de 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário