Era uma vez dois amigos que foram criados
juntos. Aprenderam a engatinhar, nadavam no rio, brincavam e faziam tudo que
todos os meninos pequenos fazem juntos. Com o tempo, foram se distanciando,
como acontece com todos os bons amigos ao saírem para a vida.
O primeiro conseguiu descobrir prazer em
aprender. Assim, investiu boa parte do seu tempo nessa atividade. Nos estudos e
em qualquer outra coisa que se determinava aprender, dedicava-se. Nas horas em
que concentrar-se não parecia ser muito fácil, usava uma frase para se manter
atento e no caminho certo: Se isto faz parte da minha vida, eu a farei muito
bem feito. Fixava-se nos seus propósitos, fazendo primeiro o que era preciso,
para depois fazer o mais quisesse. Assim, era comum triunfar nos exames e
testes: quer fossem na escola ou na vida profissional.
O outro resolveu que não era necessário
dedicar-se com tanto cuidado. Na escola, passava, mas estudava pouco. Obedecia
sempre sua voz interior. Fazia primeiro tudo o que queria, o que gostava e,
depois, no pouco tempo que sobrava - quando sobrava - atropelava-se para fazer
o que era necessário. Nos exames, não tinha tanto sucesso. Não conseguia vencer
seu impulso de atender, primeiro, o que o desejo pedia, sem medir consequências.
O rei abriu concurso para prestadores de
serviços. Os dois amigos passaram. A sorte maior apareceu para o primeiro. Foi
contratado como conselheiro do rei. O outro conseguiu serviço de remador no
navio do rei.
Um dia, o rei e todos os conselheiros
embarcaram para uma viagem no mar. Falavam de negócios enquanto aproveitavam a
brisa que soprava do mar. Mais próximo da popa, os remadores suavam para fazer
o navio seguir adiante.
O remador, vendo seu amigo de infância bem
à vontade com o rei, ficou abalado: - Olha só aquele preguiçoso, deitado na
sombra, enquanto eu aqui derretendo neste calor infernal, disse para si mesmo,
enquanto continuava a remar.
- Por que ele tem o direito de estar lá, e
eu não? Afinal, não somos filhos de Deus?
Quanto mais pensava, mais furioso ficava.
Já anoitecia e o remador não se conteve e
começou a resmungar para outro amigo remador que estava a seu lado.
- Olhe aqueles inúteis. Intitulam-se
conselheiros estratégicos, mas só ficam à toa, jogando conversa fora. Por que é
que nós temos de suar tanto para puxar as carcaças deles contra a maré? isto
não é justo! Eles deviam estar aqui, remando também. Afinal, não somos filhos
de Deus?
Naquela noite, ancoraram para pernoitar. O
remador foi acordado no meio da noite, por uma mão que lhe sacudia. Era o rei.
- Há um barulho esquisito vindo daquela
direção, disse o rei, apontando para a terra. - Não consigo dormir imaginando o
que seja. Por favor, vá até lá e descubra.
O remador pulou do navio e subiu um morro.
Voltou pouco depois.
- Não é nada, Majestade. Alguns lenhadores
estão cortando árvores, por isso tanto barulho na floresta.
- Ah, sim, disse o rei. - Quantos
lenhadores?
O remador não tinha se dado ao trabalho de
olhar com mais cuidado. Correu de novo, morro acima, e voltou.
- Vinte e um, Majestade.
- E que tipo de árvore estão cortando?,
perguntou o rei.
Isso
o remador também não tinha reparado. Voltou a subir e descer o morro com a
resposta.
- Pinheiro, Majestade.
- Por que estão cortando as árvores?,
perguntou o rei.
E lá se foi o remador mais uma vez,
subindo e descendo o morro.
- Para vender, Majestade.
- Ah, e quem é o dono das árvores?,
perguntou o rei.
Exausto, o remador repete o caminho.
- Disseram que o dono é um homem muito
rico, Majestade, disse o remador, praticamente sem fôlego.
- Está bem, disse o rei. - Venha comigo.
Foram até a proa do navio e o rei acordou
o amigo de infância do remador.
- Há um barulho esquisito lá em cima
daquele morro - disse-lhe o rei. - Vá lá e descubra o que é.
O conselheiro desapareceu rumo à terra e
voltou pouco depois.
- É uma equipe de lenhadores, Majestade -
disse o conselheiro.
- Quantos são?, perguntou o rei.
- Vinte e um, Majestade.
- Que tipo de árvore estão cortando?,
perguntou o rei.
- Pinheiro, Majestade.
- Por que estão cortando árvores?,
perguntou o rei.
- Para negociar, Majestade. O
reflorestamento de pinheiros é do prefeito do vilarejo. Ele realiza os cortes a
cada dois anos. O corte é autorizado. Ele mostrou-me o ofício real. Ele pede
desculpas por tê-lo incomodado, Majestade, e, para compensá-lo, aguarda-o para
o café da manhã que será preparado especialmente para recebê-lo. Mais uma
informação, se me permite, majestade. As árvores são cortadas em toras de 4 a 5
metros, excelentes para construir casas.
Depois disso, o rei olhou para o remador.
- Eu ouvi seus resmungos, hoje cedo -
disse o rei . - Sim, todos somos filhos de Deus. Mas todos os filhos de Deus
têm o seu trabalho a executar. Precisei mandá-lo 4 vezes à terra para obter
respostas. Meu conselheiro foi uma vez só e me trouxe mais do que as respostas
que eu pedi. E é por isso que ele é meu conselheiro estratégico, e você fica
com os remos do navio.
Artigo escrito por João Alberto Costenaro e
Paulo Roberto Ferreira.
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