3.12.17

O Conselheiro e o Remador

     Era uma vez dois amigos que foram criados juntos. Aprenderam a engatinhar, nadavam no rio, brincavam e faziam tudo que todos os meninos pequenos fazem juntos. Com o tempo, foram se distanciando, como acontece com todos os bons amigos ao saírem para a vida.
     O primeiro conseguiu descobrir prazer em aprender. Assim, investiu boa parte do seu tempo nessa atividade. Nos estudos e em qualquer outra coisa que se determinava aprender, dedicava-se. Nas horas em que concentrar-se não parecia ser muito fácil, usava uma frase para se manter atento e no caminho certo: Se isto faz parte da minha vida, eu a farei muito bem feito. Fixava-se nos seus propósitos, fazendo primeiro o que era preciso, para depois fazer o mais quisesse. Assim, era comum triunfar nos exames e testes: quer fossem na escola ou na vida profissional.
     O outro resolveu que não era necessário dedicar-se com tanto cuidado. Na escola, passava, mas estudava pouco. Obedecia sempre sua voz interior. Fazia primeiro tudo o que queria, o que gostava e, depois, no pouco tempo que sobrava - quando sobrava - atropelava-se para fazer o que era necessário. Nos exames, não tinha tanto sucesso. Não conseguia vencer seu impulso de atender, primeiro, o que o desejo pedia, sem medir consequências.
     O rei abriu concurso para prestadores de serviços. Os dois amigos passaram. A sorte maior apareceu para o primeiro. Foi contratado como conselheiro do rei. O outro conseguiu serviço de remador no navio do rei.
     Um dia, o rei e todos os conselheiros embarcaram para uma viagem no mar. Falavam de negócios enquanto aproveitavam a brisa que soprava do mar. Mais próximo da popa, os remadores suavam para fazer o navio seguir adiante.
     O remador, vendo seu amigo de infância bem à vontade com o rei, ficou abalado: - Olha só aquele preguiçoso, deitado na sombra, enquanto eu aqui derretendo neste calor infernal, disse para si mesmo, enquanto continuava a remar.
     - Por que ele tem o direito de estar lá, e eu não? Afinal, não somos filhos de Deus?
     Quanto mais pensava, mais furioso ficava.
     Já anoitecia e o remador não se conteve e começou a resmungar para outro amigo remador que estava a seu lado.
     - Olhe aqueles inúteis. Intitulam-se conselheiros estratégicos, mas só ficam à toa, jogando conversa fora. Por que é que nós temos de suar tanto para puxar as carcaças deles contra a maré? isto não é justo! Eles deviam estar aqui, remando também. Afinal, não somos filhos de Deus?
     Naquela noite, ancoraram para pernoitar. O remador foi acordado no meio da noite, por uma mão que lhe sacudia. Era o rei.
     - Há um barulho esquisito vindo daquela direção, disse o rei, apontando para a terra. - Não consigo dormir imaginando o que seja. Por favor, vá até lá e descubra.
     O remador pulou do navio e subiu um morro. Voltou pouco depois.
     - Não é nada, Majestade. Alguns lenhadores estão cortando árvores, por isso tanto barulho na floresta.
     - Ah, sim, disse o rei. - Quantos lenhadores?
     O remador não tinha se dado ao trabalho de olhar com mais cuidado. Correu de novo, morro acima, e voltou.
     - Vinte e um, Majestade.
     - E que tipo de árvore estão cortando?, perguntou o rei.
     Isso o remador também não tinha reparado. Voltou a subir e descer o morro com a resposta.
     - Pinheiro, Majestade.
     - Por que estão cortando as árvores?, perguntou o rei.
     E lá se foi o remador mais uma vez, subindo e descendo o morro.
     - Para vender, Majestade.
     - Ah, e quem é o dono das árvores?, perguntou o rei.
     Exausto, o remador repete o caminho.
     - Disseram que o dono é um homem muito rico, Majestade, disse o remador, praticamente sem fôlego.
     - Está bem, disse o rei. - Venha comigo.
     Foram até a proa do navio e o rei acordou o amigo de infância do remador.
     - Há um barulho esquisito lá em cima daquele morro - disse-lhe o rei. - Vá lá e descubra o que é.
     O conselheiro desapareceu rumo à terra e voltou pouco depois.
     - É uma equipe de lenhadores, Majestade - disse o conselheiro.
     - Quantos são?, perguntou o rei.
     - Vinte e um, Majestade.
     - Que tipo de árvore estão cortando?, perguntou o rei.
     - Pinheiro, Majestade.
     - Por que estão cortando árvores?, perguntou o rei.
     - Para negociar, Majestade. O reflorestamento de pinheiros é do prefeito do vilarejo. Ele realiza os cortes a cada dois anos. O corte é autorizado. Ele mostrou-me o ofício real. Ele pede desculpas por tê-lo incomodado, Majestade, e, para compensá-lo, aguarda-o para o café da manhã que será preparado especialmente para recebê-lo. Mais uma informação, se me permite, majestade. As árvores são cortadas em toras de 4 a 5 metros, excelentes para construir casas.
     Depois disso, o rei olhou para o remador.
     - Eu ouvi seus resmungos, hoje cedo - disse o rei . - Sim, todos somos filhos de Deus. Mas todos os filhos de Deus têm o seu trabalho a executar. Precisei mandá-lo 4 vezes à terra para obter respostas. Meu conselheiro foi uma vez só e me trouxe mais do que as respostas que eu pedi. E é por isso que ele é meu conselheiro estratégico, e você fica com os remos do navio.


 Artigo escrito por João Alberto Costenaro e Paulo Roberto Ferreira.

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