O CEGO DE SILOÉ
Parte II
(continuação)
Encontrando Jesus o "cego de
nascença", viu logo que a cegueira era de nascimento e não provinha do
pecado dos pais, por isso deliberou curar o cego.
Se a cegueira desse cego viesse do pecado
dos pais, é bem possível que o Mestre não se arrojasse a fazer tão dificultosa
cura.
De quantos cegos espirituais está cheio o
mundo, sem que o próprio Jesus atualmente os possa curar!
E isso por quê? Porque a cegueira é
proveniente do pecado dos pais; a "religião enganosa" dos pais fez
belidas nos olhos dos filhos, e como a vista é coisa melindrosa, eles não
permitem que se lhes tirem a catarata.
A cegueira pode ter por causa o pecado do
próprio cego.
Como analisar esta hipótese sem admitir a
lei da reencarnação?
Como pode Deus criar uma alma pecadora, e
por ser pecadora, condená-la à cegueira?
Admitindo uma única existência terrestre
para cada indivíduo, não se explica porque uns nascem cegos, outros surdos,
outros aleijados, outros idiotas, outros estúpidos; ao passo que outros são
sadios e inteligentes!
As religiões dominantes não explicam essas
anormalidades.
Encarando-se a questão em face da Filosofia
Espírita, aquilo que parecia hipótese, o viver muitas vezes na Terra, torna-se
realidade. Chega-se à conclusão de que o Espírito já existia antes do
nascimento do corpo, e continua a existir depois da morte desse mesmo corpo, e,
por uma série de vidas sucessivas, se vai aperfeiçoando, passando por provas
necessárias ao seu progresso e adquirindo conhecimentos indispensáveis à sua
evolução.
O que é deformado fez mau uso dos seus
membros; o aleijão é o resultado do mau emprego dos órgãos que o Espírito fez,
quando encarnado de outra vez na Terra.
A língua foi dada ao homem para falar bem;
se ela falar mal, estará desviando o seu itinerário e paralisar-se-á um dia, como
a locomotiva fora dos seus trilhos.
Os olhos são duas luminárias para guiar o
corpo, como diz o Evangelho - se eles não desempenham esse mister, se
escurecem.
É a isto que se chama "cegueira
produzida pelo próprio cego".
Entretanto, este pecado é mais fácil de
extinguir-se do que o outro, esta cegueira é mais fácil de ser curada do que a
outra, que resulta do pecado dos pais, porque quando foi o próprio cego que
pecou, o pecador é um só, e quando foram os pais que pecaram, os pecadores são três:
o pai, a mãe e o filho; o pai porque ensinou, a mãe porque confirmou, o filho
porque aceitou e referendou o pecado, passando-o à sua descendência.
Cegos por pecados próprios, diz o Evangelho
haver Jesus curado muitos durante a sua peregrinação na Terra. Além daqueles a
quem abriu os olhos diante dos mensageiros de João Batista e em outras ocasiões
narradas pelos evangelistas, refere Mateus que, logo após a ressurreição da
filha de Jairo, curou a dois que o seguiam e clamavam: "Filho de Davi, tem
compaixão de nós".
Quando Jesus passava na estrada de Jericó,
outros dois clamavam: "Filho de Davi, tem misericórdia de nós".
E o divino Mestre fê-los recuperar a vista.
Passemos à terceira hipótese:
A cegueira de nascença é graça de Deus para
que suas obras sejam manifestas.
Todas essas doenças incuráveis que Jesus
curou, durante a sua passagem por este mundo, são graças de Deus; e os doentes,
longe de serem pecadores ou sofrerem a conseqüência do pecado de seus pais,
eram Espíritos missionários, enviados para que neles as obras de Deus fossem
manifestas. Foi isto que Jesus quis dar a entender, quando curou o "cego
de nascença", e disse, em primeiro lugar, "que nem ele nem seus pais
pecaram, mas deu-se isto para que as obras de Deus fossem manifestas"; e
em segundo lugar, quando mandou o "cego" lavar-se na piscina de
Siloé.
Siloé quer dizer enviado, e mandando Jesus
lavar-se o cego naquela piscina, quis mostrar a seus discípulos e aos mais que
assistiam à cura, que aquele "cego" era "enviado".
Enviado para que as obras de Deus fossem
manifestas publicamente por seu intermédio.
Passemos agora ao cego propriamente dito.
Exame feito no cego.
Jesus passou, viu um homem cego, viu que a
causa da cegueira não era pecado próprio do cego, nem de seus pais.
Viu mais, que a cegueira em vez de ser
treva, era luz, e deliberou curar o homem, porque, curando-o, as obras de Deus
seriam manifestas.
* * * * *
Havia muitos anos vivia o homem que era
cego, e vivia andando pelas ruas porque era mendigo e esmolava.
Todos os dias os fariseus encontravam esse
homem e nunca se deram ao incômodo de examiná-lo, nem de tentar curá-lo.
Foi preciso que os vizinhos do cego o
levassem à sinagoga, à igreja, para ser examinado pelos sacerdotes do
farisaísmo que, apesar de todos os testemunhos de cegueira, não quiseram crer
que o homem tivesse sido cego de nascença!
Inquiriram as testemunhas, mas não creram
nas testemunhas; inquiriram os pais do cego, e não acreditaram nos pais do
cego; inquiriram o cego e não acreditaram no cego; finalmente, por causa de
todas as informações e afirmações, o cego foi expulso da igreja! Sabendo Jesus
disso, deliberou dar uma lição aos fariseus, pois era mister fazer a obra de
Deus resplandecer ainda com mais intensidade.
Chamou, então, o que fora cego e lhe
perguntou: "Crês tu no Filho de Deus?" "Quem é ele,
Senhor?", perguntou o cego. "Sou eu que falo contigo", respondeu
Jesus. O homem que fora cego tornou: "Creio, Senhor", e o adorou.
Jesus então disse abertamente: Eu vim a este mundo para um juízo, a fim de que
os que não vêem vejam; e os que vêem se tornem cegos.
Esta sentença mostra a justiça dos
desígnios de Deus e a sua admirável sabedoria.
O cego que era pobre, que mendigava,
despido de sabedoria, de aparatos, fora da igreja, foi curado, viu Jesus,
afirmou sua crença no Filho de Deus e o adorou.
Os fariseus, que não eram cegos, que não
eram pobres, que não mendigavam, que eram cheios de sabedoria terrena, que eram
sacerdotes e estavam dentro das igrejas, viram Jesus, mas não creram em Jesus,
não o receberam e até o perseguiram e crucificaram
Que triste contraste entre os fariseus e o
cego!
E por que é assim? Porque o cego se fez
cego por amor à glória de Deus, para que a glória de Deus fosse manifesta; ao
passo que os fariseus se fizeram videntes por ódio à glória de Deus, para que a
glória de Deus não fosse manifesta.
O que não via começou a ver, e os que
pensavam ver se tornaram cegos! Cegos, completamente cegos; cegos da pior
espécie de cegueira: a cegueira espiritual, moléstia que permanece na vida
eterna.
Tão cegos eram os fariseus, e tanto mais
cegos se tornaram, que chegaram ao auge de não mais se conhecerem e de nem
mesmo saber que eram cegos! Tal foi a confusão em que se achavam que
perguntaram a Jesus: "Porventura somos nós também cegos?"
E Jesus respondeu-lhes, fazendo alusão ao
cego de nascença a quem havia curado, porque não tinha pecado e por ser
necessária a manifestação das obras de Deus: "Se fôsseis cegos não teríeis
pecado algum, mas o vosso pecado fica subsistindo, porque vós dizeis: Nós
vemos."
Mas, que viam os fariseus?
Viam o mundo, viam as ruas, viam as casas,
viam as coisas da Terra, viam o dinheiro!(*)
Mas, será isto, verdadeiramente, ver? Se
assim é, qualquer asno também vê. O asno também vê as ruas, as casas, os
carros.
Os fariseus viam como vêem os asnos, mas
não viam como vêem aqueles que querem ver manifestas as obras de Deus. Na
verdade, eles não viram Jesus, não viram a cura do cego, não viram o cego, não
viram as obras de Deus que foram manifestas a todos! Entretanto, o cego fora
curado diante deles, Jesus estava à sua frente, e as obras de Deus foram
manifestas ante os seus olhos!
* * * * *
As graças de Deus são luzes que nos
iluminam o caminho da vida, que nos mostram as obras divinas, desvendando-nos o
reino da felicidade imortal.
Quem ama a Deus e procura cercar-se de suas
obras, se é cego, fica vendo; se é surdo, ouve; se é mudo, fala; porque as
obras de Deus vivificam os nossos sentidos para nos extasiar com as suas
maravilhas.
(*) Viam a lei, e diz Paulo: "É
evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo
viverá da fé. "(Gál.,III, 11.)
Livro: Parábolas e Ensinos de
Jesus - Cairbar Schutel
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