Alguém
me solicitou por carta, enviada ao médium, que, se possível, eu apontasse
alguns evidentes sinais de progresso humano, do qual, do começo ao fim da
missiva, ele se encontra descrente.
Perguntou-me
se o progresso tecnológico dos tempos atuais seria suficiente para se concluir
sobre o avanço da Humanidade, que, desde todas as eras, jamais conheceu tanto
conforto.
Não
há como negar que o homem, no que pese o quase ainda estado de barbárie em que
vive na Terra, tem evoluído, haja vista a questão dos direitos humanos –
liberdade de pensamento e de culto religioso, por exemplo – que, a trancos e
barrancos, vem efetuando consideráveis conquistas.
Todavia,
os discretos, porém promissores sinais de progresso do espírito humano que,
tomando como base o Brasil, eu consigo detectar são outros – sinais que, em
verdade, me deixam esperançoso em relação ao futuro da Humanidade, porque,
particularmente, considero o povo brasileiro como expressão da Humanidade
futura.
Então,
sem mais delongas, permitam-me enumerar o que, isoladamente, pude listar do
que, favoravelmente, de algum tempo a esta parte, vem me surpreendendo no
espírito encarnado – isoladamente, faço questão de frisar.
-
dois ou três motoristas que, num universo de milhares, fizeram parar os seus
veículos para que alguns pedestres atravessassem a avenida na faixa de
segurança;
-
um jovem transeunte que se preocupou em arredar da calçada uma pedra solta que
poderia vir a provocar a queda de quem por ali caminhasse;
-
uma jovem que estendeu o braço a um irmão acometido de cegueira, conduzindo-o
até o local onde deveria tomar o ônibus para o bairro em que reside;
-
um policial que, educadamente, advertiu o condutor de um veículo que estava
equipado com uma caixa de som que fazia tremer as paredes dos prédios por onde
acelerava o seu envenenado carango;
-
uma senhora que, de vassoura em punho, estava varrendo e recolhendo o lixo que
pessoas, sem maior noção de saúde pública, haviam atirado defronte a casa em
que ela reside;
-
dois meninos que, compadecendo-se de pobre vira-lata atropelado, mobilizaram os
seus familiares a fim de encaminhá-lo a uma clínica veterinária, assumindo
todas as despesas pertinentes;
-
um senhor que, gentilmente, ofereceu um lenço de papel de um amigo para que ele
não continuasse assuando o nariz com os dedos, lançando o produto de sua
secreção nasal em direção aos outros;
-
uma funcionária de uma casa bancária que atendia ao caixa com uma delicadeza
sem precedentes, sorrindo para os clientes de todos os níveis sociais;
-
um administrador público que deliberou ele mesmo inspecionar as obras que
estavam sendo realizadas na periferia da cidade da qual ele é o alcaide;
-
dois médicos e dois odontólogos – viva! – que estavam cumprindo o seu horário
de trabalho numa Unidade de Pronto Atendimento – UPA, situada na periferia;
-
um rapaz que, dentro do também chamado “coletivo”, levantou-se e cedeu lugar a
uma simpática gestante;
-
um universitário que instava com os colegas de classe para que tivessem maior
respeito para com o professor, a fim de que, pelo menos, ele conseguisse concluir
as suas aulas;
-
trinta árvores sobreviventes, entre as mais de duzentas que foram plantadas, no
canteiro central de uma ampla avenida;
-
dois casais de canários-da-terra, com os seus filhotes, cantando empoleirados
num fio elétrico, sem mais nenhum estilingue por perto a ameaçá-los de morte...
Enfim,
a minha lista não é assim tão extensa e – reconheço – nem tão sintomática
quanto seria de se desejar, mas, feliz ou infelizmente, foi o que eu pude
arranjar.
Claro
que vocês, os nossos irmãos internautas, poderão auxiliar-me a enriquecê-la em
louvor do progresso da Humanidade, do qual, em tempo algum, não nos será lícito
duvidar.
INÁCIO
FERREIRA
Uberaba
– MG, 15 de fevereiro de 2016.
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