8.2.16

Jeito de Foliar

Festa popular invade as ruas do meu Brasil.
Que maravilha ver tanta gente fantasiada, cheia de alegria, a cantar, a dançar, a amar.
O carnaval é festa popular das mais interessantes porque faz o ser humano extravasar as coisas negativas que enferrujam o seu organismo e a sua mente. É uma verdadeira lavagem mental e espiritual.
A alegria do povo pernambucano, em particular, que tive a oportunidade de vivenciar de perto, é coisa contagiante. Já me referi outras vezes que a minha vontade como bispo era sair no meio do povo para dizer da alegria de viver. Pelo menos é assim que vejo o carnaval. Que festa bonita e colorida. Festa do povo em geral. Ricos e pobres se encontram na mesma praça, cantando e dançando a mesma música. É uma forma de socializar a alegria.
Eu não posso me responsabilizar aqui é com os excessos. E não posso me associar aqui com os que aproveitam a festa popular para roubar, agredir, exagerar na dose. Dose em todos os sentidos. Isto não é carnaval, isto é desvario.
Como é importante separar uma coisa da outra. Escrevo isso porque creio que não devo censurar algo que faz parte da alma do povo brasileiro. É uma expressão livre da vontade em querer brincar, brincar saudavelmente.
O que acontece é que pedaços expressivos da população aproveitam para se esbaldarem. Estes não são carnavalescos, são desnutridos de bom senso e, muitas vezes, de autoestima. Escondem-se numa fantasia qualquer ou exageram nos sentidos humanos para locupletar o seu vazio interior ou sua falta de amor-próprio.
O problema, portanto, não é do carnaval, mas do que fazem com o carnaval.
Não posso aqui ser ingênuo do complexo de coisas que ocorre durante esta festa popular. Trabalho, diuturnamente, no lado espiritual da festa, em diminuir os efeitos dos equívocos cometidos por parte das pessoas que não são brincantes, são “brigantes”.
É lastimável também ver o estado febril que a bebida provoca e o acoplamento dos espíritos sobre todos aqueles que aproveitam o momento para se deliciar nos prazeres da carne.
É este o carnaval que os homens conseguiram produzir por enquanto. O que hei de fazer, condenar? Jamais. Não vou tirar o excesso pela essência.
Como não posso falar de bem dos blocos líricos que vi passar todos os anos na porta das Fronteiras?
Como não devo expressar a beleza das escolas de samba que apresentam um verdadeiro espetáculo cultural para as nossas lentes visuais?
O ponto de equilíbrio, quero crer, um dia o homem saberá dar. Enquanto isto não acontece, vamos aperfeiçoando, pouco a pouco, o jeito de foliar.
Educando para evitar os danos que podem perdurar pelo resto da vida.
Orientando para evitar tomar decisões precipitadas.
Acolhendo os desequilibrados no corpo e no espírito.
Neste carnaval, como na vida toda, deixe a alegria passar e brinque no bloco do amor e da fraternidade.
Evoé!

Helder Câmara – Blog Novas Utopias

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