O BENZEDOR E AS VERRUGAS
Comentávamos no Plano Espiritual sobre a
situação atual do Movimento Espírita na Terra, lamentando tantos conflitos entre
os irmãos de ideal e mesmo a ousadia de muitos que, ultimamente, de maneira
inadvertida, o têm feito enveredar por sinuosos caminhos, quando Joaquim
Cassiano, um velho amigo, tomando a palavra se pôs a falar:
- Conheci,
outrora, no mundo, um excelente “benzedor” de verrugas... A sua casa,
principalmente às sextas-feiras, vivia repleta de pessoas que lá compareciam a
fim de terem as suas verrugas benzidas por ele.
Muitas crianças, conduzidas
por suas mães e avós, revelando as mãos e os pés, e, às vezes, até o rosto,
cobertos por aquelas crostas que chegavam a sangrar, se beneficiavam com o
poder de suas orações.
Pacientemente, sem nada cobrar por isto, ele ia
atendendo às pessoas em fila, por ordem de chegada, sempre com um sorriso
estampado na face.
Algumas verrugas caiam logo na primeira benzição, outras,
porém, precisavam, de fato, serem benzidas por três sextas-feiras seguidas –
eram colônias de vírus mais resistentes, e que, por certo, se encontravam
instaladas há mais tempo.
Algumas crianças tinham medo de seu aspecto meio
estranho, porque, embora se trajasse com simplicidade, como quase todo benzedor,
ele não parecia ser uma pessoa do mundo.
A sua fama tanto se espalhou que
gente de todas as partes ia procurá-lo, sendo, vários deles, portadores desses
pequeninos quistos de virulência até em suas partes mais íntimas, como, por
exemplo, no coração.
Sim, porque, conforme sabemos, existem verrugas externas
e internas, com as internas se mostrando muito mais difíceis de serem curadas,
exigindo benzições extras.
O poder espiritual do referido benzedor, que
atendia a multidão numa casinha muito pobre, era tão admirável que dispensava o
auxílio de qualquer galho de arruda, guiné, ou outro expediente parecido –
presenciei que, não raro, bastava leve toque de sua abençoada mão, ou um simples
olhar seu, para que as verrugas, como que trevas se envergonhando na presença da
luz, começassem, espontaneamente, a regredir...
Interessante é que ele
chegava a ser procurado até por quem não possuía verruga alguma, mas que tinham
medo de que esses pequeninos tumores, que podem se tornar extremamente
agressivos, de hora para outra, pudessem lhes aparecer.
Durante muitos anos,
aquele famoso benzedor do interior de Minas Gerais, praticamente criado na zona
rural, que deve ter aprendido o seu ofício com benzedores mais antigos que ele,
se dedicou à tarefa de benzer verrugas, impedindo que elas se transformassem em
coisa pior.
Vocês sabem, existem benzedores para benzer todas as espécies de
males: quebranto, cobreiro, espinhela caída, olho excomungado, erisipela, vento
virado, peito arrotado, e vai por aí afora...
Mas, como nada se eterniza na
Terra, um dia, aquele humilde homem de fé desencarnou, e, então, as verrugas
voltaram a infestar as mãos e os pés, o rosto, e até, segundo dissemos, o
coração de muitos que ainda não haviam conseguido desenvolver em seu organismo
eficiente defesa contra elas...
Joaquim Cassiano fez significativa pausa e,
ante o nosso respeitoso silêncio, concluiu a sábia metáfora:
- Este
incansável benzedor de verrugas era Chico Xavier, e as verrugas, meus amigos,
infelizmente, somos nós, os espíritas personalistas, que não vemos o que estamos
fazendo com o corpo da Doutrina!...
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 23
de setembro de 2013.
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