André Luiz
Vinte horas
haviam soado no relógio terrestre, quando entramos em acanhado apartamento, no
qual se realizariam trabalhos de materialização.
Tanto Hilário quanto eu não
desejávamos encerrar a semana de estudos sem observar algum serviço dessa
natureza, em companhia do Assistente.
De outra feita, acompanháramos
experiência dessa ordem, assinalando-a em registro de nossas impressões(1);
contudo, os ensinamentos de Áulus eram sempre expressivos e valiosos pelos
fundamentos morais de que se revestiam, e suspirei pelo instante de ouvi-lo
discorrer sobre os fenômenos físicos que nos propúnhamos analisar.
O recinto
destinado aos trabalhos constituía-se de duas peças, uma sala de estar ligada a
estreita câmara de dormir.
O aposento íntimo, transformado em gabinete,
albergava o médium, um homem ainda moço, e na sala espalhavam-se catorze
pessoas, aparentemente bem-intencionadas, das quais se destacavam duas senhoras
doente, que representavam o motivo essencial da reunião, de vez que pretendiam
recolher a assistência amiga dos Espíritos materializados.
Indicando-as,
falou o orientador, com grave entonação de voz:
- Venho com vocês até aqui,
considerando as finalidades do socorro aos enfermos, porque, embora sejam muitas
as tentativas de materialização de forças do nosso plano, na Terra, com raras
exceções quase todas se desenvolvem sobre lastimáveis alicerces que primam por
infelizes atitudes dos irmãos encarnados. Só os doentes, por enquanto, no mundo,
justificam a nosso ver o esforço dessa espécie, junto das raras experiências,
essencialmente respeitáveis e dignas, realizadas pelo mundo cientifico, em
benefício da Humanidade.
Quiséramos alongar o entendimento, no entanto,
renteando conosco, diversos obreiros iam e vinham, dando a perceber o início
dos trabalhos daquela noite.
A higienização processava-se ativa.
O
serviço reclama cuidado.
Segundo apontamentos recolhidos por nós, em outras
ocasiões, aqui surgiam aparelhos delicados para a emissão de raios curativos,
acolá se efetuava a ionização do ambiente com efeitos bactericidas.
Alguns
encarnados, como habitualmente acontece, não tomavam a sério as
responsabilidades do assunto e traziam consigo emanações tóxicas, oriundas do
abuso de nicotina, carne de aperitivos, além das formas-pensamentos menos
adequadas à tarefa que o grupo devia realizar.
Atento ao estudo, Áulus
recomendou-nos centralizar a atenção no gabinete do médium.
Obedecemos.
Ao
redor, laboriosa atividade seguia adiante.
Dezenas de entidades bem
comandadas e evidenciando as melhores noções de disciplina, articulavam-se no
esforço preparatório.
O instrumento medianímico já havia recebido eficiente
amparo no campo orgânico.
A digestão e a circulação, tanto quanto o socorro
às vísceras já eram problemas solucionados.
Dispensar-nos-emos de maior rigor
descritivo, porquanto, em outras páginas (1), a materialização, de acordo com as
nossas possibilidades de expressão, mereceu-nos meticuloso exame, no que
respeita às substâncias, associações, recursos e movimentos do plano
espiritual.
Agora interessava-nos a mediunidade em si.
Intentávamos
analisar-lhe o comportamento, em suas relações com o ambiente e as
pessoas.
E, para isso, a nosso parecer, nenhuma ocasião, melhor que aquela,
em que dispúnhamos da colaboração segura de um amigo competente e devotado qual
o instrutor que nos acompanhava, solícito.
Apagada a luz elétrica e
pronunciada a oração de inicio, o agrupamento, como de praxe, passou a entoar
hinos evangélicos, para equilibrar as vibrações do recinto.
Colaboradores
desencarnados extraiam forças de pessoas e coisas da sala, inclusive da Natureza
em derredor, que casadas aos elementos de nossa esfera da câmara mediúnica
precioso e complicados laboratório
Correspondendo à atuação a magnática dos
mentores responsáveis, desdobrou-se o médium, afastando-se do veículo físico,
de modo tão perfeito que o ato em si mais se afigurava a própria desencarnação,
porque o corpo jazia no leitos, como se fora um casulo, largado e inerte.
O
veículo físico, assim prostrado, sob o domínio dos técnicos do nosso plano,
começou a expelir o ectoplasma, qual pasta flexível, à maneira de uma geléia
viscosa e semilíquida, através de todos os poros e, com mais abundância, pelos
orifícios naturais, particularmente da boca, das narinas e dos ouvidos, com
elevada percentagem a exteriorizar-se igualmente do tórax e das extremidades dos
dedos. A substância, caracteriza por um cheiro especialíssimo, que não
conseguimos descrever, escorria em movimentos reptilianos, acumulando-se na
parte inferior do organismo medianímicos, onde apresentava o aspecto de grande
massa protoplásmica, viva e tremulante.
Companheiros nossos prestavam
carinhosa assistência ao médium separado da vestimenta física, como se ele fora
um doente ou uma criança.
Á margem da ação, Áulus esclareceu prestimoso:
-
O ectoplasma está me si tão associado ao pensamento do médium, quanto as forças
do filho em formação se encontram ligadas à mente maternal. Em razão disso,
toda a cautela é indispensável na assistência ao medianeiro.
Hilário que
ouvia, reverente, indagou:
- Tal cuidado decorre da possibilidade de
inconveniente intervenção do médium nos trabalhos?
- Exatamente.
E Áulus
prosseguiu:
- Se pudéssemos contar com mais ampla educação do instrumento,
decerto menos teríamos a temer, de vez que a própria individualidade do servidor
colaboraria junto de nós, evitando-nos preocupações e contratempos prováveis. A
materialização de criaturas e objetos de nosso plano, para ser mais perfeita,
exige mais segura desmaterialização do médium e dos companheiros encarnados que
o assistem, porque, por mais nos consagremos aos trabalhos dessa ordem, estamos
subordinados à cooperação dos amigos terrestres, assim como a água, por mais
pura, permanece submetida às qualidades felizes ou infelizes do canal por onde
se escoa.
- Isso nos deixa entrever – acentuou meu colega – que o pensamento
mediúnico pode influir nas formas materializadas, mesmo quando essas formas se
encontrem sob rigoroso controle de amigos da nossa esfera...
- Sim –
confirmou o Assistente -, ainda quando o médium não consiga senhoreá-las de
todo, pode perturbar-lhes a formação e a projeção, prejudicando-nos
conseqüentemente o serviço. Daí, o impositivo da completa isenção de ânimo, por
parte de quantos se devotam a semelhantes realizações.
Hilário, não obstante
satisfeito, continuou ponderando:
- As Faculdades de materialização, desse
modo, não traduzem privilégio para os seus portadores...
- De modo
algum.
E, depois de breve pausa:
- O próprio verbo referente ao assunto,
em sentido literal, não encoraja qualquer interpretação em desacordo com a
verdade. Materializar significa corporificar. Ora, considerando-se que
mediunidade não traduz sublimação e sim meio de serviço, e reconhecendo, ainda,
que a morte não purifica, de imediato, aquele que se encontra impuro, como
atribuir santidade a médiuns da Terra ou a comunicantes do Além pelo simples
fato de modelarem formas passageiras, entre dois planos?
- Então, essa
força...
Meu companheiro não terminou.
Áulus percebeu-lhe o pensamento e
atalhou, asseverando:
- Essa força materializante é como as outras
manipuladas em nossas tarefas de intercâmbio. Independe do caráter e das
qualidades morais daqueles que a possuem, constituindo emanações do mundo
psicofísico, das quais o citoplasma é uma das fontes de origem. Em alguns raros
indivíduos, encontramos semelhante energia com mais alta percentagem de
exteriorização, contudo, sabemos que ele será de futuro mais abundante e mais
facilmente abordável, quando a coletividade humana atingir mais elevado grau de
maturação.
- Até lá, desse modo...
- Até lá, utilizar-nos-emos dessas
possibilidades como quem aproveita um fruto ainda verde, em circunstâncias
especiais da vida, suportando, porém, o assédio de mil surpresas desagradáveis
ao recolhê-lo, de vez que, em experiências como esta, submetemo-nos a certas
interferências mediúnicas indesejáveis, tanto quanto a influências menos
edificantes de companheiros encarnados, francamente inaptos para os serviços
dessa espécie.
Hilário que escutava, atencioso, a lição, ponderou ainda:
-
Imaginemos que o médium esteja possuído de interesses inferiores, seja em
matéria de afetividade mal conduzida, de ambição desregrada ou de pontos de
vista pessoais, nos diversos departamentos das paixões comuns...
E, depois da
alegação reticenciosa, indagou:
- Nessa posição poderá influir nos fenômenos
em estudo?
- Sem dúvida alguma – elucidou Áulus, com naturalidade - ,
consciente ou inconscientemente.
- E os amigos do grupo? Se imbuídos de
propósitos malsãos conseguem perturbar-nos?
- Certamente!
- E por que nos
sujeitarmos a fatores incapazes, assim?
Os olhos do Assistente brilharam,
expressivos.
E, afagando o meu colega, Áulus falou, com sensatez:
- Não
diga . Digamos .
Simbolizemos a necessidade como sede escaldante e a mediunidade imperfeita ou
mal comandada como sendo a água menos limpa. Á falta do liquido puro, não
podemos hesitar. Utilizamo-nos da água nas condições em que a encontramos. E, em
seguida, que fazer? Teremos paciência com a fonte, decantando-lhe, pouco a
pouco, a corrente poluída. A mediunidade sublimada, através de instrumentos
dignos e conscientes no mandato que lhes corresponde, é algo de eterno e divino
que a humanidade está edificando. Isso não é obra de afogadilho. A improvisação
não é alicerce para os santuários da sabedoria e do amor que desafiam o
tempo.
Meu colega e eu sorrirmos, encantados com aquele monumento de
compreensão e tolerância.
Em derredor, grande massa de substância
ectoplásmica leitosa-prateada, da qual se destacavam alguns fios escuros e
cinzentos, amontoava-se, abundante.
Técnicos de nosso plano manipulavam-na,
com atenção.
Áulus fixou a paisagem de trabalho ativo e explicou-nos:
- Ai
temos o material leve e plástico de que necessitamos para a materialização.
Podemos dividi-lo em três elementos essenciais, em nossas rápidas noções de
serviço, a saber – fluidos A, representando as forças superiores e sutis de
nossa esfera, fluidos B, definindo os recursos do médium e dos companheiros que
o assistem, e fluidos C, constituindo energias tomadas à Natureza terrestre. Os
fluidos A podem ser os mais puros e os fluidos C podem ser os mais dóceis; no
entanto, os fluidos B, nascidos da atuação dos companheiros encarnados e, muito
notadamente, do médium, são capazes de estragar-nos os mais nobres projetos. Nos
círculos, aliás raríssimos, em que os elementos A encontram segura colaboração
das energias B, a materialização de ordem elevada assume os mais altos
característicos, raiando pela sublimidade dos fenômenos; contudo, onde
predominam os elementos B, nosso concurso é consideravelmente reduzido,
porquanto nossas maiores possibilidades passam a ser canalizadas na dependência
das forças inferiores do nosso plano, que, afinadas aos potenciais dos irmãos
encarnados, podem senhorear-lhes os recursos, invadindo-lhes o campo de ação e
inclinando-lhes as experiências psíquicas no rumo de lastimáveis
desastres.
As elucidações não poderiam ser mais claras.
Dispúnhamo-nos a
prosseguir no entendimento, todavia, Garcez, um dos técnicos espirituais do
serviço, veio até nós, invocando o auxilio magnético de Áulus.
O campo
fluídico na sala se fizera demasiado espesso. Os pequenos jactos de força
ectoplásmica, arremessados até lá, em caráter experimental, tornavam ao
gabinete, revelando forte teor de toxinas de variada classificação.
As
catorze pessoas assembleadas no recinto eram catorze caprichos
diferentes.
Não havia ali ninguém com bastante compreensão do esforço que se
reclamava do mundo espiritual e cada companheiro, ao invés de ajudar o
instrumento mediúnico, pesava sobre ele com inauditas exigências.
Em razão
disso, o médium não contava com suficiente tranqüilidade. Figurava-se-nos um
animal raro, acicato por múltiplos aguilhões, tais os pensamento descabidos de
que se via objeto.
- Não atingiremos, então, a materialização de ordem
superior...- falou o Assistente, algo preocupado.
- De modo algum – informou
Garcez com desapontamento. – Teremos tão-só o médium desdobrado, incorporando a
nossa enfermeira para socorro às irmãs doentes. Nada mais. Não dispomos do
concurso preciso.
Áulus atendeu à solicitação que lhe era dirigida e auxiliou
magneticamente a transferência de certo coeficiente de energias do vaso físico
ao corpo perispiritual que se mostrou vivamente reanimado.
O veículo de
matéria densa, no leito, desceu à mais funda prostração, mas o médium, em seu
perispírito, evidenciava maior vitalidade e maior lucidez.
Amigos espirituais
envolveram-no em extenso roupão ectoplásmico e a enfermeira uniu-se a ele,
comandando-lhe os movimentos.
O médium, não obstante ausente do corpo carnal,
achava-se controlado pela benfeitora, à maneira de um médium psicofônico,
diferenciado apenas pela roupagem singular, estruturada com apetrechos
ectoplásmicos imprescindíveis à permanência dele no recinto, onde explodiam
pensamentos perturbados e inquietantes.
Vendo-o caminhar, inseguro, abraçado
pela enfermeira que o movimentava para o serviço assistencial, hilário,
ciciante, falou para o nosso orientador:
- O médium está consciente durante o
fenômeno?
- Fora do corpo sim, mas possivelmente, não guardará qualquer
lembrança, logo regresse ao campo físico.
Meu colega ainda aventurou:
-
Vemo-lo avançar com indumentos materializados e sob a orientação da enfermeira
amiga. Entretanto, caso alimente, nessas condições, qualquer desejo menos digno,
pode interferir no trabalho, prejudicando-o?
- Perfeitamente - disse Áulus
-, ele está sob controle, mas controle não significa anulação. Qualquer impulso
infeliz do nosso companheiro correrá por conta do serviço. Daí, a inconveniência
das atividades dessa espécie, sem alto objetivo moral.
O medianeiro das
curas, enlaçado pela entidade generosa, alcançou o estreito aposento, exibindo a
roupagem delicada, semelhante a uma túnica de luar, emitindo prateada luz. No
entanto, à medida que varava a atmosfera reinante no recinto, a claridade
esmaecia, chegando a apagar-se quase de todo.
Diante do nosso olhar
indagador, o Assistente esclareceu:
- A posição neuropsíquica dos
companheiros encarnados que nos compartilham a tarefa, no momento, não ajuda.
Absorvem-nos os recursos, sem retribuição que nos indenize, de alguma sorte, a
despesa de fluidos laboriosamente trabalhados.
A convite do orientador,
penetramos a sala.
Efetivamente, escuras emissões mentais esguichavam
contínuas, entrechocando-se de maneira lastimável.
Os amigos, ainda na carne,
mais se nos figuravam crianças inconscientes.
Pensavam em termos
indesejáveis, expressando petições absurdas, no aparente silêncio a que se
acomodavam, irrequietos.
Exigiam a presença de afeições desencarnadas, sem
cogitarem da oportunidade e do merecimento imprescindíveis, criticavam essa ou
aquela particularidade do fenômeno ou prendiam a imaginação a problemas
aviltantes da experiência vulgar.
O concurso dos amigos espirituais era ali
recebido, não como gentileza de benfeitores, mas como espetáculo fútil a ser
obrigatoriamente elaborado por servos ínfimos.
Ainda assim, os obreiros do
nosso plano ofereciam o melhor pelo êxito da tarefa.
A enfermeira devotada
socorreu as doentes, aplicando-lhes raios curativos. Várias vezes, deixou o
recinto e tornou a ele, porquanto, à simples aproximação dos pensamentos
inadequados que lhe senhoreavam as vibrações, toda a matéria ectoplásmica se
ressentia, obscurecendo-se ao bombardeio das formações mentais nascidas da
assistência.
Terminado que foi o trabalho medicamentoso, um risonho
companheiro de nossa esfera tomou pequena porção das forças materializantes do
médium sobre as mãos e afastou-se para trazer, daí a instantes, algumas flores
que foram distribuídas com os irmãos encarnados, no intuito de sossegar-lhes a
mente excitadiça.
Calmando-nos a curiosidade, Áulus esclareceu:
- É o
transporte comum, realizado com reduzida cooperação das energias medianimicas.
Nosso amigo – e designou com a destra o emissário das flores – apenas tomou
diminuta quantidade de força ectoplásmica, formando somente pequeninas
cristalizações superficiais do polegar e do indicador, em ambas as mãos, a fim
de colher as flores e trazê-las até nós.
- É importante observar – disse
Hilário – a facilidade com que a energia ectoplásmica atravessa a matéria densa,
porque o nosso companheiro, usando-a nos dedos, não encontrou qualquer
obstáculo na transposição da parede.
- Sim – comentou o instrutor -, o
elemento sob nossa vista é extremamente sutil e, aderindo ao nosso modo de ser,
adquire renovada feição dinâmica.
- E se fosse o médium o objeto do
transporte? Traspassaria a barreira nas mesmas circunstâncias?
-
Perfeitamente, desde que esteja mantido sob nosso controle, intimamente
associado às nossas forças, porque dispomos entre nós de técnicos bastante
competentes para desmaterializar os elementos físicos e reconstituí-los de
imediato, cônscios da responsabilidade que assumem.
- Você não pode esquecer
que as flores transpuseram o tapume de alvenaria, penetrando aqui com semelhante
auxilio. De idêntica maneira, caso encontrássemos utilidade num lance dessa
natureza, o instrumento que nos serve de base ao trabalho poderia ser removido
par o exterior com a mesma facilidade. As cidadelas atômicas em qualquer
construção da forma física, não são fortalezas maciças, qual acontece em nossa
própria esfera de ação. O espaço persiste em todas as formações e através dele,
os elementos se interpenetram. Chegará reintegrar as unidades e as
constituições atômicas, com a segurança dentro da qual vai aprendendo a
desintegrá-las.
Logo após, os amigos presentes, sempre interessados em
acordar os irmãos encarnados para as realidades do espírito, acomodaram o
médium, religando-o ao corpo carnal.
O rapaz esfregou o rosto, estremunhando;
contudo, sob a atuação de passes calmantes, arrojou-se, de novo, à hipnose
profunda.
Forças ectoplásmicas recomeçaram a surgir das narinas e dos
ouvidos, revitalizadas e abundantes.
Alguns companheiros passaram a
compartimento vizinho, seguidos por nós.
Nesse aposento, sobre pequeno fogão
elétrico grande balde de parafina fervente requisitava-nos a atenção.
Um
amigo de semblante simpático cobriu a destra com a pasta dúctil que manava
fartamente do médium e materializou-a com perfeição, mergulhando-a, logo após,
na parafina superaquecida, deixando aos componentes da reunião o primoroso molde
como lembrança.
Uma jovem que nos saudou, cordialmente o ectoplasma,
modelando três flores que, submersas no vaso, ficaram, depois, em mesa próxima
para os assistentes, à guisa de doce recordação daquela noite de tolerância e
carinho.
Afeiçoados da casa trouxeram do exterior diversas conchas marinhas,
em que se viam delicados perfumes que se volatizaram no recinto em vagas
deliciosas.
Reparando que os tarefeiros espirituais submetiam o instrumento
medianímico a complicadas operações magnéticas, através das quais a substância
materializante era restituída ao corpo físico, inteiramente purificada, crivamos
o instrutor de questões e perguntas.
Realmente todas as pessoas, na Terra,
possuíam consigo a energia que examinávamos? Seria lícito esperar no futuro mais
amplas manifestações dela? Essa força era invariavelmente influenciável ou, em
alguma circunstância, conseguia organizar-se por si?
Áulus deixou aos demais
obreiros as medidas atinentes à fase terminal dos trabalhos e elucidou:
- O
ectoplasma está situado entre a matéria densa e a matéria perispirítica, assim
como um produto de emanações da alma pelo filtro do corpo, e é recurso peculiar
não somente ao homem, mas a todas as formas da Natureza. Em certas organizações
fisiológicas especiais da raça humana, comparece em maiores proporções e em
relativa madureza para a manifestação necessária aos efeitos físicos que
analisamos. É um elemento amorfo, mas de grande potência e vitalidade. Pode ser
comparado a genuína massa protoplásmica, sendo extremamente sensível, animado de
princípios criativos que funcionam como condutores de eletricidade e magnetismo,
mas que se subordinam, invariavelmente, ao pensamento e à vontade do médium que
os exterioriza ou dos Espíritos desencarnados ou não que sintonizam com a mente
mediúnica, senhoreando-lhe o modo de ser. Infinitamente plástico, dá forma
parcial ou total às entidades que se fazem visíveis aos olhos dos companheiros
terrestres ou diante da objetiva fotográfica, dá consistência aos fios,
bastonetes e outros tipos de formações, visíveis ou invisíveis nos fenômenos de
levitação, e substancializa as imagens criadas pela imaginação do médium ou dos
companheiros que assistem mentalmente afinados com ele. Exige-nos, pois, muito
cuidado para não sofrer o domínio de Inteligências sombrias, de vez que manejo
por entidades ainda cativas de paixões deprimentes poderia gerar clamorosas
perturbações.
E, apontando o mediador que despertava sonolento,
enunciou:
- Nosso amigo, polarizado as energias do nosso plano, funciona como
entidade maternal, de cujas possibilidades criativas os Espíritos materializados
totalmente, ou não, retiram os recursos imprescindíveis às suas manifestações,
sendo, a prazo curtíssimo, autênticos filhos dele.
Assinalando a
conceituação, Hilário falou entusiástico:
- Isso dá a entender que nas forças
geradoras extravasadas do médium e dos cooperadores de nossa esfera poderemos
surpreender igualmente os princípios fundamentai da genética humana, em
figurações que a ciência terrena ainda não conhece...
- Sim, sem dúvida –
confirmou o Assistente -, os princípios são os mesmos, embora os aspectos sejam
diferentes. O futuro nos reserva admiráveis realizações nesse ponto. Trabalhemos
e estudemos.
Nossas disponibilidades de tempo, contudo, haviam terminado. E,
por isso, Áulus encerrou a notável conversação, convidando-nos a
voltar.
____________
(1) “Missionários da Luz”. – (Nota do Autor
espiritual.)
Livro: “Nos Domínios da Mediunidade” - Francisco C.
Xavier - André Luiz