25.4.13


O tão citado Espirito de Verdade ainda é assunto de debate no meio espírita, às vezes despertando polêmicas. Nesse estudo de Paulo da Silva Neto Sobrinho, publicado na Revista Espiritismo & Ciência Especial, número 61, temos uma série de informações interessantes sobre o tema.
 
  Quando ele aparece pela primeira vez? 
  No dia 24 de março de 1856, Kardec estava em seu escritório escrevendo um texto sobre os Espíritos e suas manifestações quando, por várias vezes, ouviu repetidas batidas, cuja causa não logrou sucesso em encontrar. No dia seguinte, ou seja, 25 de março, era dia de sessão na casa do Sr. Baudin, e lá Kardec interroga o Espírito Z (Zéfiro) sobre a origem das batidas. Este acontecimento consta do livro Obras Póstumas, da seguinte forma: 
  "Pergunta: Ouvistes, sem dúvida, o relato que acabo de fazer; poderíeis dizer-me qual a causa daquelas pancadas que se fizeram ouvir com tanta persistência? 
  Resposta: Era teu Espírito Familiar. 
  P: Com que fim foi ele bater daquele modo? 
  R: Queria comunicar-se contigo. 
  P: Poderíeis dizer-me quem é ele? 
  R: Podes perguntar-lhe a ele mesmo, pois que está aqui. 
  P: Meu Espírito familiar, quem quer que tu sejas, agradeço-te o me teres vindo visitar. Consentirás em dizer-me quem és? 
  R: Para ti, chamar-me-ei A Verdade e todos os meses, aqui, durante um quarto de hora, estarei a tua disposição." (Obras Póstumas, FEB, 2006, p. 304-306) (grifo nosso). 
  Antes da próxima pergunta, Kardec colocou a seguinte nota: "Nessa época, ainda se não fazia distinção nenhuma entre as diversas categorias de Espíritos simpáticos. Dava-se-lhes a todos a denominação de Espíritos familiares." Este fato leva-nos consequentemente à conclusão de que não se deve tomar ao pé da letra a expressão "meu Espírito familiar" como se fosse algum parente já desencamado; tratava-se, no caso, do guia espiritual de Kardec, conforme ele mesmo afirma acerca do Espírito de Verdade, como será visto mais à frente. 
  Indagando sobre o porquê das batidas, teve como resposta que havia um erro no que estava escrevendo naquela ocasião, fato que depois se confirmou. 
  Voltando às perguntas, continua Kardec: 
  "P: O nome Verdade, que adotaste, constitui uma alusão à verdade que eu procuro? 
  R: Talvez; pelo menos, é um guia que te protegerá e ajudará
  P: Poderei evocar-te em minha casa? 
   R: Sim, para te assistir pelo pensamento; mas, para respostas escritas em tua casa, só daqui a muito tempo poderás obtê-las. 
  P: Terás animado na Terra alguma personagem conhecida? 
  R: Já te disse que, para ti, sou a Verdade; isto, para ti, quer dizer discrição: nada mais saberás a respeito." (Obras Póstumas, FEB, 2006, p. 304-306) (grifo nosso). 
  Em nota acrescida às respostas obtidas do Espírito de Verdade, realizada na casa do Sr. Baudin, a 9 de abril de 1856, portanto cerca de 15 dias após as anteriores, Kardec nos informa: 
  "A proteção desse Espírito, cuja superioridade eu então estava longe de imaginar, jamais, de fato, me faltou. A sua solicitude e a dos bons Espíritos que agiam sob suas ordens, se manifestou em todas as circunstâncias de minha vida, quer a me remover dificuldades materiais, quer a me facilitar a execução dos meus trabalhos, quer, enfim, a me preservar dos efeitos da malignidade dos meus antagonistas, que foram sempre reduzidos à impotência." (Obras Póstumas, FEB, 2006, p. 307) (grifo nosso). 
 
DIANTE DISSO, PARA NÓS FICA BEM CLARO QUE KARDEC FICOU SABENDO QUEM realmente era o Espírito de Verdade, visto ele confessar que estava longe de supor a sua superioridade, o que nos leva a concluir que deveria ser alguém de extraordinário valor pois, se não fosse um Espírito de elevada categoria, teria dito o seu nome sem maiores reservas. Por outro lado, foi um Espírito que esteve encarnado entre nós, ou seja, que era conhecido; caso contrário não se poderia supor a sua elevada evolução. Além disso, o coloca à frente, na linha de comando dos bons Espíritos, ao afirmar que eles agiam sob suas ordens. 
  Algumas objeções têm-se feito quanto a esta superioridade, quando relacionada ao Espírito de Verdade, tendo em vista principalmente dois pontos: que dar pancadas não seria coisa que um Espírito superior faria, pois estaria se rebaixando caso o fizesse; e também por ter sido tratado de Espírito familiar. 
  Para o primeiro ponto podemos encontrar uma explicação do próprio Kardec, em O Livro dos Médiuns, segunda parte, Capítulo XI, item 145: 
  "Resta-nos destruir um erro assaz espalhado: o de confundirem-se com os Espíritos batedores todos os Espíritos que se comunicam por meio de pancadas. A tiptologia constitui um meio de comunicação como qualquer outro, e que não é, mais do que o da escrita, ou da palavra, indigno dos Espíritos elevados. Todos os Espíritos, bons ou maus, podem servir-se dele, como dos diversos outros existentes. O que caracteriza os Espíritos superiores é a elevação das ideias e não o instrumento de que se utilizem para exprimi-las. Sem dúvida, eles preferem os meios mais cômodos e, sobretudo, mais rápidos; mas, na falta de lápis e de papel, não escrupulizarão de valer-se da vulgar mesa falante e a prova disso é que, por esse meio, se obtém os mais sublimes ditados [ .. .]. 
  Assim, pois, nem todos os Espíritos que se manifestam por pancadas são batedores. Este qualificativo deve ser reservado para os que poderíamos chamar de batedores de profissão e que, por este meio, se deleitam em pregar partidas, para divertimentos de umas tantas pessoas, em aborrecer com as suas importunações ... Acrescentemos que, além de agirem quase sempre por conta própria, também são amiúde instrumentos de que lançam mão os Espíritos superiores, quando querem produzir efeitos materiais." (O Livro dos Médiuns, FEB, 2007, p. 198-199) (grifo nosso). 
  Portanto, o que importa não é o meio pelo qual uma mensagem foi transmitida, mas tão somente o seu conteúdo. Agora, quanto ao segundo ponto, ou seja, de ter sido identificado como um Espírito familiar, temos também a explicação de Kardec de que, na época, não se fazia nenhuma distinção entre as diversas categorias de Espíritos simpáticos; eram todos genericamente chamados de Espíritos familiares, conforme já mencionamos anteriormente. 
  Assim, o Espírito de Verdade se apresentou a Kardec e, por motivo de discrição, não disse absolutamente nada sobre si mesmo. Aliás, "muita discrição" foi a atitude que Ele recomendou ao Codificador (Obras Póstumas, 2006, p. 313). 
  É IMPORTANTE OBSERVAR QUE isso aconteceu antes do lançamento de O Livro dos Espíritos; porém, se Kardec tivesse dito quem de fato Ele era e divulgado tal coisa, será que hoje em dia estaríamos falando sobre o 
Espiritismo? Considerando que ainda não estamos no fim dos tempos, época em que, segundo creem alguns, deverá acontecer a parusia (N.E.: ou parúsia, a segunda vinda de Jesus Cristo à Terra), alguém aceitaria sem maiores reservas que seria verdadeira a sua identidade, ou acreditaria na revelação deste Espírito? Feito isso, teria o Espiritismo sobrevivido? Sua sobrevivência se deve ao fato de que, no princípio, Kardec sempre procurou ressaltar o aspecto científico da Doutrina. E isso não foi porque quis fazer desta forma, mas certamente por atender à orientação do Espírito de Verdade. 
  De certa forma, essa era a opinião de Herculano Pires quando disse: "Kardec teve de agir com prudência na divulgação do Espiritismo, para que a reação violenta e fanática das religiões não asfixiasse no berço a nova mundividência que nascia das pesquisas mediúnicas." (Pires, l.H. Curso Dinâmico de Espiritismo. A Casa do Caminho, 1990, p. 13). 
  Em 9 de agosto de 1863, Kardec, prestes a lançar o livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, fica sabendo o real objetivo do Espiritismo: 
  "Aproxima-se a hora em que te será necessário apresentar o Espiritismo qual ele é, mostrando a todos onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo. Aproxima-se a hora em que, à face do céu e da Terra, terás de proclamar que o Espiritismo é a única tradição verdadeiramente cristã e a única instituição verdadeiramente divina e humana [ ... ]." (Obras Póstumas, 2006, p. 340) (grifo nosso). 
  Se o Espiritismo é a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo, não há como não aceitá-lo como uma religião que, segundo o acima colocado, foi para o que veio. Teria algum bom motivo pelo qual Ele pessoalmente não viesse completar o que não pôde dizer naquela época? 
  Poucos dias depois, a 14 de setembro de 1863, Kardec recebe mais uma mensagem, da qual ressaltamos o seguinte trecho: 
  "[ ... ] Nossa ação, sobretudo a do Espírito de Verdade, é constante ao teu derredor e tal que não a podes negar. [ ... ] Com esta obra, o edifício começa a se livrar dos seus andaimes e já se lhe pode a cúpula a desenhar-se no horizonte." (Obras Póstumas, 2006, p. 341) (grifo nosso). 
  Fica demonstrada de forma explícita a ação do Espírito de Verdade sobre Kardec, que também O reconhecia como seu guia espiritual, fato que podemos confirmar em seus escritos publicados na Revista Espírita 1861 (p. 356): "Sim, senhores, este fato é não só característico, mas é providencial. Eis, a este respeito, o   que me dizia ainda ontem, antes da sessão, o meu guia espiritual: o Espírito de Verdade." (grifo nosso). 
  ESTRANHAM ALGUMAS PESSOAS ESTA AFIRMATIVA de Kardec de que o Espírito de Verdade era seu guia espiritual. E aqui temos mais um bom motivo para que ele não o identificasse claramente como sendo Jesus, porquanto iriam ridicularizar tanto o Espiritismo quanto a ele que, na melhor das hipóteses, seria taxado de mais um louco entre milhares que se dizem em contato com Jesus. Entretanto, a darmos crédito ao que Emmanuel afirma sobre o Codificador, esta possibilidade é bem real. Vejamos:
  "Um dos mais lúcidos discípulos do Cristo baixa ao planeta, compenetrado de sua missão consoladora, e, dois meses antes de Napoleão Bonaparte sagrar-se imperador, obrigando o Papa Pio VII a coroá-lo na igreja de Notre Dame, em Paris, nascia Allan Kardec, aos 3 de outubro de 1804, com a sagrada missão de abrir caminho ao Espiritismo, a grande voz do Consolador prometido ao mundo pela misericórdia de Jesus Cristo." (Xavier, F. C. A Caminho da Luz. FEB, 1987. p. 194) (grifo nosso). 
   Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, não deixa por menos, qualificando Kardec como "um dos mais lúcidos discípulos do Cristo", fato que o coloca à altura da nobre missão que recebeu para trazer ao mundo a nova revelação, presidida, conforme vimos, pelo próprio Cristo. 
  Particularmente, acreditamos que esta condição de guia espiritual se relaciona ao período em que Kardec assumiu a missão de codificar a Doutrina Espírira, seguindo as orientações dos Espíritos Superiores, ou seja, um guia específico, que o ajudaria a cumprir esta missão. Quem teria sido Kardec, numa reencarnação passada, para que o Espírito de Verdade o chamasse de "meu apóstolo"? (Kardec, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB, 1990, p. 137). 
  Se porventura Kardec houvesse mesmo sido o reformador checo Jan Huss, em nova roupagem (Incontri, D. Para entender Allan Kardec. Lachâtre, 2004, p. 22-24) ou talvez, quem sabe, o ressurgimento do antigo precursor João Batista (Aleixo, S. F. O Espírito das Revelações. Lachâtre, 2001, p. 40-41), teremos que vê-lo, em qualquer destas hipóteses, como um missionário cujas reencarnações estariam relacionadas à missão de anunciar e/ou resta. belecer a revelação divina aos homens. 
  EM JANEIRO DE 1862, KARDEC PUBLICA NA Revista Espírita um artigo intitulado "Ensaio sobre a interpretação da doutrina dos anjos decaídos", sobre o qual houve várias mensagens dos espíritos. Dentre elas, destacamos uma recebida em Haia (Holanda), cujo teor é: 
  "Sobre este artigo não tenho senão poucas palavras a dizer, senão que é sublime de verdade; nada há a acrescentar, nada há a suprimir; bem felizes aqueles que unirem fé a essas belas palavras, aqueles que aceitarão esta Doutrina escrita por Kardec. Kardec é o homem eleito por Deus para instrução do homem desde o presente; são palavras inspiradas pelos Espíritos do bem, Espíritos muito superiores. Acrescentai-lhe fé; lede, estudai toda esta Doutrina: é um conselho que vos dou." (Revista Espírita 1862, p. 115) (grifo nosso). 
  Aqui temos a informação de que Kardec foi "o homem eleito por Deus para instrução do homem", e somando-se à afirmação do Espírito de Verdade de que iria a sua casa "para te assistir pelo pensamento", podemos deduzir que o Codificador era um médium de intuição, fato que poderemos também corroborar tomando-se de suas próprias palavras: 
 "Sem ter nenhuma das qualidades exteriores da mediunidade efetiva, não contestamos em sermos assistidos em nossos trabalhos pelos Espíritos; porque temos deles provas muito evidentes para disto duvidar, o que devemos,sem dúvida, a nossa boa vontade, e o que é dado a cada um de merecer. Além das ideias que reconhecemos nos serem sugeridas, é notável que os assuntos de estudo e observação, em uma palavra, tudo o que pode ser útil à realização da obra, nos chega sempre a propósito - em outros tempos eu teria dito: como por encantamento -, de sorte que os materiais e os documentos do trabalho jamais nos fazem falta. Se temos que tratar de um assunto, estamos certos de que, sem pedi-lo, os elementos necessários à sua elaboração nos são fornecidos, e isto por meios que nada têm senão de muito natural, mas que são, sem dúvida, provocados por colaboradores invisíveis, como tantas coisas que o mundo atribui ao acaso." (Revista Espírita 1867, p. 274) (grifo nosso). 
  Um pouco mais à frente, em agosto de 1863, numa mensagem a respeito da publicação da Imitação do Evangelho, título da primeira publicação de O Evangelho Segundo o Espiritismo, entre outras coisas, foi dito a Kardec: 
  "[ ... ] Ao te escolherem, os Espíritos conheciam a solidez das tuas convicções e sabiam que a tua fé, qual muro de aço, resistiria a todos os ataques. 
  Entretanto, amigo, se a tua coragem ainda não desfaleceu sob a tarefa tão pesada que aceitaste, fica sabendo bem que foste feliz até ao presente, mas que é chegada a hora das dificuldades. Sim, caro Mestre, prepara-se a grande batalha; o fanatismo e a intolerância, exacerbados pelo bom êxito da tua propaganda, vão atacar-te e aos teus com armas envenenadas. Prepara-te para a luta. Tenho, porém, fé em ti, como tens fé em nós, e sei que a tua fé é das que transportam montanhas e fazem caminhar por sobre as águas. Coragem, pois, e que a tua obra se complete. Conta conosco e conta, sobretudo, com a grande alma do Mestre de todos nós, que te protege de modo tão particular," (Obras Póstumas, p. 340-341) (grifo nosso). 
 
  NESTA MENSAGEM, CONFIRMA-SE QUE KARDEC recebia uma proteção "de modo tão particular" de Jesus, designado como "Mestre de todos nós", o que vem corroborar tudo quanto estamos citando.a seu respeito em relação a ele ser uma pessoa especial, que o qualificava para a missão de trazer ao mundo a terceira revelação divina e ser assistido por quem pensamos que foi. 
  Além disso, podemos ainda citar do Espírito de Verdade: ''As grandes missões só aos homens de escol são confiadas e Deus mesmo os coloca, sem que eles o procurem, no meio e na posição em que possam prestar concurso eficaz." (O Livro dos Médiuns} FEB, 2007, p. 488), o que nos permite, objetivamente, qualificar Kardec como um homem de escol. 
  Mas estaríamos, segundo alguns poderão supor, diante de uma outra dificuldade, qual seja: Jesus poderia se manifestar? Não vemos nenhum problema nisso, desde que não o mantenhamos no pedestal em que foi colocado quando o transformaram num Deus, retirando-lhe a sua condição humana, da qual nunca negou ser. É certo, pois nós, os espíritas, disso não duvidamos - que Ele é realmente um Espírito puro -, e nesta condição, segundo a classificação dos Espíritos feita por Kardec, Jesus pode perfeitamente se comunicar, o que, por exemplo, pode ser corroborado pelo fato acontecido na estrada de Damasco, quando Ele aparece a Paulo de Tarso, questionando-o sobre porque Lhe perseguia (At 9,5), ou no episódio em que Ele não permite a Paulo e Silas seguirem para Bitínia (At 16,7). 
  Quanto à natureza de Cristo, Kardec, até o mês de setembro de 1867, não quis entrar em maiores detalhes, argumentando: 
  "[ ... ] uma solução prematura, qualquer que ela seja, encontraria muita oposição de parte a parte, e afastaria do Espiritismo maispartidários do que ela lhe daria; eis por que a prudência nos faz um dever nos abstermos de toda polêmica sobre esse assunto, até que estejamos seguros de poder colocar o pé sobre um terreno sólido.""(Revista Espírita 1867, p. 272) (grifo nosso). 
  É dentro desta mesma prudência que vemos o porquê de Kardec não ter também dito claramente que Jesus era o Espírito de Verdade. 
  Acreditamos que, talvez, seja muito mais complicado um Espírito puro se manifestar a seres humanos do que vir como um deles e ser aprisionado num corpo físico, como aconteceu ao "nosso guia e modelo" quando esteve encarnado aqui entre nós por trinta e poucos anos. Isso ocorre por pura questão de vibrações; a nossa é tão inferior em relação aos espíritos puros desencarnados que torna difícil sintonizarmos com eles. Em relação a reencarnarem entre nós é, julgamos, "menos difícil", porquanto não se fala em vibrações equivalentes, mas em leis naturais que regulam a encarnação de um espírito puro em mundos inferiores, atendendo ao desejo de Deus. 
 
  NO EVANGELHO, A QUEM esse nome poderia qualificar? 
  Mas afinal, a quem poderíamos qualificar com o codinome "a Verdade"? De onde podemos tirar algo para relacionar com ele? Se o Espiritismo, conforme sustentam os Espíritos superiores, é o Cristianismo redivivo, só podemos encontrar alguma coisa no Evangelho, o que, convém lembrar, também foi sugestão de Kardec para que assim procedêssemos. 
  Fizemos uma pesquisa, na qual procuramos eliminar as passagens comuns entre os evangelistas. Como resultado encontramos Jesus empregando por 60 vezes a expressão "Em verdade vos digo", quantidade que reportamos ser bem significativa. 
  Podemos enumerar mais duas outras passagens para demonstrar a importância que Ele dava à palavra verdade. primeira: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim." (João 14,6). No desdobramento da parte inicial deste versículo, teremos os três epítetos a que Jesus se atribui: "Eu sou o Caminho. Eu sou a Verdade. Eu sou a Vida." Será que por aqui já não daria para identificarmos quem poderia se denominar a Verdade? Segunda: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (João 8,32) que, se a colocássemos dessa forma: "E conhecereis a Jesus, e Jesus vos libertará", ficaria plenamente inteligível e, além disso, poderia perfeitamente ser aplicada. 
  Somente estas passagens já nos levaram a concluir que Jesus é, de fato, o Espírito de Verdade, pois estariam nelas as razões de ter usado o nome "a Verdade". 
  E colocamos a seguinte pergunta: algum Espírito superior teria a insensatez ou vaidade de usar o codinome "a Verdade", sabendo que poderíamos relacioná-lo a Jesus? Improvável, pois a elevação que tais Espíritos atingiram não lhes permitiria dizer coisas dúbias que induziriam as pessoas a pensar coisas equivocadas, principalmente em se tratando de levar alguém a confundi-Ios com Jesus. 
  Vejamos, agora, estas passagens do Evangelho: 
  "Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós." (Jo 14,18). 
  "Quando vier o Paráclito, que vos enviarei de junto do Pai, o Espírito da Verdade, que vem do Pai, dará testemunho de mim." (Jo 15,26). 
   "No entanto, eu vos digo a verdade: é de interesse que eu parta, pois, se não for, o Paráclito não virá a vós. Mas se for, envia-lo-ei a vós." (Jo 16,7). 
  "Tenho ainda muito que vos dizer, mas não podeis agora suportar. Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras." (Jo 16,12-13). 
  "[ ... ] Chega a hora em que já não vos falarei em figuras, mas claramente vos falarei do Pai." (Jo 16,25). 
  Então, temos aqui Jesus afirmando duas coisas: sua volta e que enviaria o Espírito de Verdade. Inclusive, condiciona a vinda dele com a sua partida para o mundo espiritual, o que seria perfeitamente aplicável se ambos fossem a mesma personalidade. 
  O problema que geralmente se vê é que Jesus trata o Espírito de Verdade como se fosse outra pessoa, razão pela qual alegam não poder ser Ele este personagem. Entretanto, esquecem-se de que, repetidas vezes, usou deste expediente, conforme podemos ver nos Evangelhos. A designação de "Filho do Homem", neles constante, certamente só poderá nos levar a atribuí-Ia a Jesus; porém, sempre utilizava esta expressão como se fosse para uma outra pessoa e não a Ele próprio. 
  Uma coisa bem interessante iremos encontrar no livro "Apocalipse", que é uma referência explícita de que Jesus viria com um novo nome: 
  "Venho logo! Segura com firmeza o que tens, para que ninguém tome a tua coroa. Quanto ao vencedor, farei dele uma coluna no templo do meu Deus, e daí nunca mais sairá. Escreverei nele o nome do meu Deus e o nome da Cidade do meu Deus - a nova Jerusalém, que desce do céu, de junto do meu Deus - e o meu novo nome." (Ap 3,11-12). 
   Portanto, há aqui uma previsão da volta de Jesus com um novo nome que, por tudo quanto está sendo colocado nesta pesquisa, só nos leva a deduzir ser o Espírito de Verdade.

 O restante dessa messagem está na Revista Espiritismo & Ciência Especial, número 61 e na próxima edição, trazendo as informações sobre o que os Espíritos disseram, o que Kardec disse, se o Espírito de Verdade nos deixou alguma pista e a conclusão do tema com o pensamento de outros autores espíritas.

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