O PODER
O impulso do poder se torna, às vezes, tão irresistível que,
mesmo no hercúleo esforço da transformação moral da pessoa para melhor, reponta
em forma de exibicionismo, quando a sua ainda não é uma humildade verdadeira, ou
de pressão sobre os outros, em conflito de transferência doentia do que gostaria
de fazer e não se encoraja a realizá-lo, o que não ocorre por virtude, mas sim,
por frustração.
Nas experiências primeiras, o espécime mais forte sempre
venceu o menos equipado, o que permitiu ao homem mais tarde usar a astúcia e a
inteligência para dominar os animais de grande porte, assim como controlar as
forças do planeta que lhe ameaçavam a existência.
Ao alcançar o patamar
da razão lúcida, permaneceu-lhe o conceito de sobrepor-se aos demais como forma
de auto-realização, mesmo que inconscientemente, o que o tem conduzido a lutas
tão desgastantes quão desnecessárias.
O poder funciona como instrumento
de intimidação, de projeção, de vaidade, despertando inveja nos fracos e
interesses apaixonados nos inseguros.
Não são poucos aqueles que tudo
empenham para a conquista do poder, a fim de receberem a bajulação doentia dos
que se locupletam com os sobejos das suas extravagâncias. E o fazem, perdendo os
melhores momentos da existência, no afã de se tornarem temidos, face à certeza
que têm de não conseguirem ser amados.
Mas o poder defrauda todos aqueles
que nele confiam.
O poder da juventude cede lugar ao da maturidade e essa
à velhice com os seus desajustes e demências.
O poder do dinheiro não
compra tudo do quanto se faz necessário para a plenitude, embora auxilie a
avidez diminuindo algumas dores e desconfortos, que podem ressurgir em forma de
angústias morais e frustrações profundas por falta de amor verdadeiro.
O
poder público e o religioso se transferem de mãos a cada momento, quando outros
mais ousados derrubam os sistemas ou alteram as Constituições que lhes ofereciam
base.
O poder da força física diminui de acordo com a natural decadência
do organismo.
O poder da cultura, decorrente da inteligência brilhante e
da memória privilegiada, decresce e desaparece com o envelhecimento, as
enfermidades degenerativas, os golpes inesperados que produzem traumatismos
crânioencafálicos...
Qualquer tipo de poder terreno, a morte, por mais
demorada de chegar, termina por diluir.
Fama e poder - eis os dois
pilotis feitos de fantasia razão da precariedade da sua duração!
Somente
o poder do amor se transfere para além do túmulo, acompanhando o ser na sua
escalada ascencional no rumo da Vida.
Quando Jesus se encontrava diante
de Pilatos, esse lhe disse que representava o poder, ao que o Mestre,
imperturbável, lhe respondeu, que ele o tinha porque houvera sido concedido, mas
que não era dele próprio.
A sua força transitória entregou-O aos
inimigos, que eram crucificá-lo porque estava nos desígnios de Deus, mas não
impediu que Ele retornasse vivo e exuberante, dando prosseguimento dando
prosseguimento ao ministério que viera realizar na Terra.
Posteriormente,
o poder de Pilatos passou, como o de todo o Império romano, desaparecendo a
falsa glória e a opulência ilusória, enquanto Ele permaneceu real, vibrando nas
mentes e nos corações que O amam e anelam por encontrá-lo.
O poder real é
aquele que decorre dos valores intelecto-morais, adquiridos a esforço e
perseverança, que facultam o crescimento interior projetando o Espírito para
Deus.Esse poder, porém, quando se instala na mente e no coração, ao invés de
perturbar, libera das paixões, dulcifica e harmoniza, tornando aquele que o
possui um centro de irradiação de amor e paz que a todos mimetiza. Esforçar-se
por conquistar esse poder iluminativo, deve ser a meta do indivíduo inteligente
enquanto jornadeia na Terra, o que não o impede de adquirir outros poderes, a
fim de que bem os possa utilizar, servindo a si e à Humanidade.
Joanna
de Angelis
Londres (Inglaterra), 18 de junho de 1.998.
Nenhum comentário:
Postar um comentário