1.2.13


O PODER
 
    O impulso do poder se torna, às vezes, tão irresistível que, mesmo no hercúleo esforço da transformação moral da pessoa para melhor, reponta em forma de exibicionismo, quando a sua ainda não é uma humildade verdadeira, ou de pressão sobre os outros, em conflito de transferência doentia do que gostaria de fazer e não se encoraja a realizá-lo, o que não ocorre por virtude, mas sim, por frustração.
    Nas experiências primeiras, o espécime mais forte sempre venceu o menos equipado, o que permitiu ao homem mais tarde usar a astúcia e a inteligência para dominar os animais de grande porte, assim como controlar as forças do planeta que lhe ameaçavam a existência.
    Ao alcançar o patamar da razão lúcida, permaneceu-lhe o conceito de sobrepor-se aos demais como forma de auto-realização, mesmo que inconscientemente, o que o tem conduzido a lutas tão desgastantes quão desnecessárias.
    O poder funciona como instrumento de intimidação, de projeção, de vaidade, despertando inveja nos fracos e interesses apaixonados nos inseguros.
    Não são poucos aqueles que tudo empenham para a conquista do poder, a fim de receberem a bajulação doentia dos que se locupletam com os sobejos das suas extravagâncias. E o fazem, perdendo os melhores momentos da existência, no afã de se tornarem temidos, face à certeza que têm de não conseguirem ser amados.
    Mas o poder defrauda todos aqueles que nele confiam.
    O poder da juventude cede lugar ao da maturidade e essa à velhice com os seus desajustes e demências.
    O poder do dinheiro não compra tudo do quanto se faz necessário para a plenitude, embora auxilie a avidez diminuindo algumas dores e desconfortos, que podem ressurgir em forma de angústias morais e frustrações profundas por falta de amor verdadeiro.
    O poder público e o religioso se transferem de mãos a cada momento, quando outros mais ousados derrubam os sistemas ou alteram as Constituições que lhes ofereciam base.
    O poder da força física diminui de acordo com a natural decadência do organismo.
    O poder da cultura, decorrente da inteligência brilhante e da memória privilegiada, decresce e desaparece com o envelhecimento, as enfermidades degenerativas, os golpes inesperados que produzem traumatismos crânioencafálicos...
    Qualquer tipo de poder terreno, a morte, por mais demorada de chegar, termina por diluir.
    Fama e poder - eis os dois pilotis feitos de fantasia razão da precariedade da sua duração!
    Somente o poder do amor se transfere para além do túmulo, acompanhando o ser na sua escalada ascencional no rumo da Vida.
    Quando Jesus se encontrava diante de Pilatos, esse lhe disse que representava o poder, ao que o Mestre, imperturbável, lhe respondeu, que ele o tinha porque houvera sido concedido, mas que não era dele próprio.
    A sua força transitória entregou-O aos inimigos, que eram crucificá-lo porque estava nos desígnios de Deus, mas não impediu que Ele retornasse vivo e exuberante, dando prosseguimento dando prosseguimento ao ministério que viera realizar na Terra.
    Posteriormente, o poder de Pilatos passou, como o de todo o Império romano, desaparecendo a falsa glória e a opulência ilusória, enquanto Ele permaneceu real, vibrando nas mentes e nos corações que O amam e anelam por encontrá-lo.
    O poder real é aquele que decorre dos valores intelecto-morais, adquiridos a esforço e perseverança, que facultam o crescimento interior projetando o Espírito para Deus.Esse poder, porém, quando se instala na mente e no coração, ao invés de perturbar, libera das paixões, dulcifica e harmoniza, tornando aquele que o possui um centro de irradiação de amor e paz que a todos mimetiza. Esforçar-se por conquistar esse poder iluminativo, deve ser a meta do indivíduo inteligente enquanto jornadeia na Terra, o que não o impede de adquirir outros poderes, a fim de que bem os possa utilizar, servindo a si e à Humanidade.
 
Joanna de Angelis
 Londres (Inglaterra), 18 de junho de 1.998.

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