Allan Kardec, no livro A
Gênese
31. - Pelas relações que hoje pode
estabelecer com aqueles que deixaram a Terra, possui o homem não só a prova
material da existência e da individualidade da alma, como também compreende a
solidariedade que liga os vivos aos mortos deste mundo e os deste mundo aos dos
outros planetas.
Conhece a situação deles no
mundo dos Espíritos, acompanha-os em suas migrações, aprecia-lhes as alegrias e
as penas; sabe a razão por que são felizes ou infelizes e a sorte que lhes está
reservada, conforme o bem ou o mal que fizerem. Essas relações iniciam o homem
na vida futura, que ele pode observar em todas as suas fases, em todas as suas
peripécias; o futuro já não é uma vaga esperança: é um fato positivo, uma
certeza matemática. Desde então, a morte nada mais tem de aterrador, por lhe
ser a libertação, a porta da verdadeira vida.
32. - Pelo estudo da situação dos
Espíritos, o homem sabe que a felicidade e a desdita, na vida espiritual, são
inerentes ao grau de perfeição e de imperfeição; que cada qual sofre as
conseqüências diretas e naturais de suas faltas, ou, por outra, que é punido no
que pecou; que essas conseqüências duram tanto quanto a causa que as produziu;
que, por conseguinte, o culpado sofreria eternamente, se persistisse no mal,
mas que o sofrimento cessa com o arrependimento e a reparação; ora, como
depende de cada um o seu aperfeiçoamento, todos podem, em virtude do
livre-arbítrio, prolongar ou abreviar seus sofrimentos, como o doente sofre,
pelos seus excessos, enquanto não lhes põe termo.
33. - Se a razão repele, como incompatível
com a bondade de Deus, a idéia das penas irremissíveis, perpétuas e absolutas,
muitas vezes infligidas por uma única falta; a dos suplícios do inferno, que
não podem ser minorados nem sequer pelo arrependimento mais ardente e mais
sincero, a mesma razão se inclina diante dessa justiça distributiva e
imparcial, que leva tudo em conta, que nunca fecha a porta ao arrependimento e
estende constantemente a mão ao náufrago, em vez de o empurrar para o abismo.
34. - A pluralidade das existências, cujo
princípio o Cristo estabeleceu no Evangelho, sem todavia defini-lo como a
muitos outros, é uma das mais importantes leis reveladas pelo Espiritismo, pois
que lhe demonstra a realidade e a necessidade para o progresso. Com esta lei, o
homem explica todas as aparentes anomalias da vida humana; as diferenças de
posição social; as mortes prematuras que, sem a reencarnação, tornariam inúteis
à alma as existências breves; a desigualdade de aptidões intelectuais e morais,
pela ancianidade do Espírito que mais ou menos aprendeu e progrediu, e traz,
nascendo, o que adquiriu em suas existências anteriores (no 5).
35. - Com a doutrina da criação da alma no
instante do nascimento, vem-se a cair no sistema das criações privilegiadas; os
homens são estranhos uns aos outros, nada os liga, os laços de família são
puramente carnais; não são de nenhum modo solidários com um passado em que não
existiam; com a doutrina do nada após a morte, todas as relações cessam com a
vida; os seres humanos não são solidários no futuro. Pela reencarnação, são
solidários no passado e no futuro e, como as suas relações se perpetuam, tanto
no mundo espiritual como no corporal, a fraternidade tem por base as próprias
leis da Natureza; o bem tem um objetivo e o mal conseqüências inevitáveis.
36. - Com a reencarnação, desaparecem os
preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer
rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou
escravo, homem ou mulher. De todos os argumentos invocados contra a injustiça
da servidão e da escravidão, contra a sujeição da mulher à lei do mais forte,
nenhum há que prime, em lógica, ao fato material da reencarnação. Se, pois, a
reencarnação funda numa lei da Natureza o princípio da fraternidade universal,
também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por
conseguinte, o da liberdade.
O Espiritismo é ao mesmo tempo uma ciência
de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas
relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, ele
compreende todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações.
Pode-se defini-lo assim:
O Espiritismo é uma ciência que trata da
natureza, da origem e da destinação dos Espíritos, e das suas relações com o
mundo corporal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário