No capítulo 37, de “Nosso
Lar”, antes de transcrever “A Preleção da Ministra” Veneranda, volta a falar
André Luiz sobre a questão do “Bônus-Hora”, sistema de remuneração, que, não
sendo propriamente moeda, é “ficha individual, funcionando como valor
aquisitivo”. Intrigava-lhe o sistema econômico que prevalecia na cidade
espiritual, que havia “banido” o dinheiro como forma de remuneração pelo
esforço individual nos serviços prestados à coletividade.
Ele refletia: “Como poderia
estar a compensação da hora afeta a Deus? Não era atribuição do administrador
espiritual, ou humano, a contagem do tempo?” Notemos, no entanto, que, em
qualquer parte da Criação Divina, “a compensação da hora” fica por conta de
Deus, que, certamente, não se detém apenas na quantidade de horas trabalhadas,
mas, sobretudo, na sua qualidade. Aliás, a questão do “Bônus-Hora” também é
tratada por Jesus na Parábola dos Trabalhadores da Vinha, quando o Dono da Casa
delibera remunerar os trabalhadores que contratara segundo o Seu critério de
avaliação do esforço e do mérito de cada um. Nos versículos de 13 a 15, o Dono
da Casa responde aos rebelados: “Toma o que é teu, e vai-te; pois quero dar a
este último, tanto quanto a ti. Porventura não me é lícito fazer o que quero do
que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom?”
*
Conversando com Tobias, André
tem oportunidade de registrar novos esclarecimentos sobre o assunto: “Aos
administradores, em geral, impende a obrigação de contar o tempo de serviços,
sendo justo, igualmente, instituírem elementos de respeito e consideração ao
mérito do trabalhador; mas, quanto ao valor essencial do aproveitamento justo,
só mesmo as Forças Divinas podem determinar com exatidão. Há servidores que,
depois de quarenta anos de atividade especial, dela se retiram com a mesma
incipiência da primeira hora, provando que gastaram tempo sem empregar
dedicação espiritual, assim como existem homens que, atingindo cem anos de
existência, dela saem com a mesma ignorância da idade infantil.” (destacamos)
*
Realmente, existem vidas que,
perdendo em quantidade, ganham em qualidade, e vidas que ganhando em
quantidade, perdem em qualidade. Podemos aqui, citar como exemplo, a vida do
missionário Eurípedes Barsanulfo, que, tendo vivido apenas 38 anos no corpo
carnal, do ponto de vista espiritual, viveu intensamente, conferindo singular
proveito à sua encarnação. E, ainda, citamos o extraordinário exemplo de Chico
Xavier, cuja vida, ao mesmo tempo, ganhou em quantidade e qualidade – vivendo
92 janeiros no corpo, realizou uma obra que a grande maioria, talvez, não venha
a realizar nem em muitos séculos de existência.
*
A lição do “Bônus-Hora” deve,
sem dúvida, servir-nos de advertência, de vez que, em termos espirituais, o
tempo não conta apenas e tão somente pelo correr dos ponteiros do relógio.
Muitos espíritas costumam dizer: - Estou há 40, ou há 50 anos na Doutrina!...
Como se o muito tempo de estágio na Doutrina lhes conferisse crédito para
opinarem a respeito de tudo sempre de maneira acertada, com as suas opiniões
tendo que ser acatadas pelos considerados iniciantes. Ora, diante da
Reencarnação, nas experiências que nos são conferidas através das Vidas
Sucessivas, essa argumentação de “muito tempo na Doutrina” carece de sentido,
posto que uma criança possa ser portadora de uma bagagem muito maior que a de
um adulto.
*
É de se notar, antes que
adentremos no conteúdo da preleção de Veneranda, que a sua conferência estava
sendo realizada, em grande auditório, de modo INTEIRAMENTE GRATUITO –
infelizmente, na atualidade – ah, e como eu me envergonho disso! –, quase todos
os grandes Eventos Espíritas estão sendo pagos! E o pior é que alguém é sempre
posto à porta deles para impedir a entrada daqueles que não têm dinheiro...
Que vexame!...
- Você não entra, porque não
pagou a inscrição! Você não entra porque não tem dinheiro! Ou você só pode
ficar na sala anexa ao grande auditório – não pode ter a visão direta do
orador!...
Ora, gente, não perca tempo
com isso – não participe dessa baboseira. Qualquer orador espírita bem
intencionado fala tão bem quanto àquele que possa ser considerado grande
tribuno – o que nos deve interessar é a Mensagem da Doutrina a ser transmitida,
e não o timbre de voz do fulano ou do beltrano, ou as piadinhas sem graça que
ele conta para arrancar aplausos da plateia. Vocês precisam começar a
prestigiarem os oradores locais, da cidade ou da região. Os “oradores” que
falam de graça, e que não dão maiores despesas aos promotores de um Evento
Espírita que a despesa com uma simples hospedagem, um almoço em casa de amigos
e, no máximo, o dinheiro gasto com combustível – nada de pagarem hotéis 5
estrelas, nada de passagens de avião, em primeira classe, às custas dos
participantes do Congresso, ou do Encontro, nada de carros de luxo para buscar
o médium, ou o orador – e, por favor, acabem de vez com as chamadas “Salas
Vip”, que são os “Salões do Elitismo”.
INÁCIO FERREIRA – Blog Mediunidade
na Internet
Uberaba – MG, 30 de outubro
de 2017.
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