A vida sempre nos propõe
desafios a superar. Não seria vida se não houvesse obstáculos a transpor. O que
nos faz fortes é exatamente este movimento de superação constante. Lógico que
não sabemos onde vai dar, mas tentamos encontrar as soluções devidas e
obtenhamos êxito ou não há sempre um processo de crescimento
interior.
Este desafio vive hoje a
Igreja Católica Apostólica Romana da qual fiz parte e continuo a fazer neste
lado de cá da vida.
Os embates ideológicos são
naturais em qualquer grupo social e organizacional e a Igreja nunca esteve
isenta de pressões em várias direções nas suas decisões internas. Perfeitamente
natural o choque de opiniões. Acontece que ele deve estar ancorado em bases
éticas e, principalmente, bases de conduta cristã.
A respeito dos últimos
acontecimentos no Vaticano em que um grupo de cardeais apresentou uma carta ao
Papa Francisco indicando o seu descontentamento quanto a posicionamentos
referente ao possível conteúdo de uma nota oficial acerca da família, creio que
não há nada demais na manifestação em contrário, o que está em jogo, mais uma
vez, é a publicidade dada ao documento expondo a Igreja a interpretação pública
de questões de âmbito interno. Apenas isso.
Já imaginaram, qualquer que
seja a organização, o tamanho que seja, publicar notícias internas que nada
dizem respeito ao público maior que as serve. O conteúdo deve ser preservado, o
que não quer dizer que tenha o devido debate entre suas
paredes.
O aspecto relevante não é o
conteúdo do “Instrumentum Laboris”, este deve ser questionado por todas as
partes que o constituem no seu processo elaborativo, mas o que preocupa é esta
ação pública que pressupõe um quê de conspiração, o que deverasmente deve ser
combatido.
O que vemos no lado de cá
da vida é enorme insatisfação de um grupo de padres sobre os destinos que a
Igreja toma. São padres que defendem a perpetuidade de determinados princípios.
Defendem eles que há pontos aos quais a Igreja não deve jamais negociar.
Acreditam que a modernidade é coisa negativa porque traz em seu bojo a alteração
de costumes que deixam de lado valores invioláveis. Notadamente este grupo é
formado por teólogos de peso, que dedicaram as suas vidas na constituição de uma
Igreja regida pela preservação de determinados costumes e de um patrimônio moral
conquistado ao longo de séculos, segundo eles.
De outro lado, há os
“vaticanistas”. Assim se denominam porque entendem que deve haver constantemente
o embate com as novas ideias que o mundo traz para que haja uma reflexão das
posturas da Igreja perante eles. Acreditam estes que há pontos que podem e devem
ser revistos, mas que não entre em confronto com a doutrina do
Cristo.
Percebam que o que ocorre
no mundo dos vivos na carne é apenas um prolongamento do que está acontecendo
entre nós neste lado da vida.
O que está por trás de tudo
isso é o receio que a Igreja não seja jogada em algumas armadilhas da
modernidade e preserve seus postulados fundamentais. O que é meritório, no
entanto, o que está em jogo, como sempre esteve, é como se procede o embate das
ideias. Isto, pelo que sei, sempre foi polêmico e não muito auspicioso para os
ditames éticos da Igreja.
Quando os homens, sejam
eles na carne ou fora dela, esquecem a inspiração de Jesus tudo cai por terra.
Ora, pensemos, se há a divergência que ela seja bem-vinda, pois mostra várias
faces de um mesmo tema e somente enriquece a sua compreensão. O que não é
interessante, de maneira alguma, é agir contraditoriamente aos princípios que
abraça e querer impor a autoritariamente sua vontade
.
Desculpe trazer estas
questões internas da Igreja, mas creio que seja um momento fértil para mostrar,
mais uma vez, que a vida deste lado é tão intensa quanto entre
vocês.
Serve para mostrarmos que a
vida tem continuidade do lado de cá porque é deste lado, na maioria das vezes,
que é gerada a matriz para o mundo daí.
A Igreja Católica, como
qualquer outro organismo vivo, é formada da diversidade e, pelo tamanho que tem,
esta diversidade é bastante ampla.
Participo de vários grupos
simultaneamente e observo que muitos possuem a preocupação de manter tudo em
ordem, mas desejam ardentemente que a Igreja possa proporcionar respostas
adequadas aos desafios que a atualidade propõe.
Sei que tudo isto pode
parecer jogo político - e é, mas a vida é feita disto mesmo. Devemos ser
coparticipantes da construção de tudo que nos rodeia. No meu caso, faço isto
pelo meu compromisso com a Igreja.
O Papa Francisco é
altamente bem-intencionado e saberá se posicionar diante destas solicitações,
com a autoridade e sabedoria solicitadas ao mandatário primeiro da Igreja entre
os homens.
Ao todo, todos ganham.
Ganha-se até quando se procede inconvenientemente para que se pontue que este
não deve ser o melhor caminho a ser percorrido.
Creio que tais explicações
sejam necessárias embora possam parecer enfadonhas, mas há sempre o elemento
didático nestas questões discutidas.
Inspire o Nosso Senhor
Jesus Cristo a tratarmos tudo com a devida fraternidade que deve reinar em
irmãos comprometidos com a causa do mestre de nossas
vidas.
Paz,
Helder
Camara
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