ENTÃO VOCÊS
EXPLIQUEM!
Sei que alguns companheiros
de Ideal – não muitos! – não concordam com a tese que defendemos – em nosso
caso, muito mais que simples tese, porque, claro, estando deste Outro Lado, é de
supor que algo de mais substancial saibamos a respeito – de que Chico Xavier
tenha sido a reencarnação de Allan Kardec.
Todavia, tais irmãos,
embora fraternalmente, chegam a investir contra nós, somente não nos alcançando
com algum sopapo por estarmos, na atualidade, domiciliados no Mais Além, fora do
alcance de seus músculos e nervos...
Vocês já imaginaram, então,
se, em vez de defendermos a tese de que Chico era Kardec, dissemos que Chico
tivesse sido a reencarnação, por exemplo, de um inquisidor famoso como Bernardo
Gui, ou mesmo de um Tomás de Torquemada?!
Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro! Porque aí, de fato, além de eu vir, com todo o respeito, a precisar do
socorro de Nossa Senhora, haveria necessidade de que ele fosse
perpétuo...
Tudo bem. Vocês, caros
amigos, que não aceitam que Allan Kardec, o inesquecível Professor Hippolyte
Leon Denizard Rivail, possuidor de DNA europeu, olhos claros, tendentes à cor
cinza, descendente de prestigiosa família de magistrados e advogados, educados
em Yverdum, na Suíça, possa ter reencarnado como um quase (Chico, você me
desculpe!) caipira mineiro de tez morena, cego de um olho, semianalfabeto, filho
de uma senhora que era humilde lavadeira e de um pobre vendedor de bilhetes de
loteria, têm todo o direito de negar – esse direito, inclusive, o de espernear –
jus esperniandi – não é negado sequer a nenhum dos patriotas do “Lava Jato” –
não me refiro, claro, a nenhum dos nossos heróicos irmãos dos lava jatos
espalhados pelo Brasil, que vivem de ganhar honestamente o pão de cada dia
tirando a sujeira dos carros daqueles que, ironicamente, possuem contas
bancárias na Suíça – ironicamente, porque, talvez, a única semelhança física
entre Kardec e Chico é que os dois não tinham um tostão furado no
bolso!...
Sim, vocês, os cépticos de
tal tese, têm todo o direito de não concordar conosco, os que admitimos que a
figura enérgica do Codificador se confunda com a daquele cândido Médium, que,
quando era preciso, sabia sim ser igualmente valente – e isto não a partir dos
50 de idade, qual ocorreu com Kardec, ao ousar enfrentar as fogueiras da
Inquisição que ainda crepitavam na segunda metade do século XIX, mas, sim, ao
partir dos 17 quando, abraçando a Causa Espírita, praticamente sozinho enfrentou
o duro preconceito da época, sendo, inclusive, excomungado pela Igreja até à 5ª
geração!
Sim, vocês têm todo o
direito a que estamos aludindo, no entanto, igualmente, nos julgamos no direito
de pedir a vocês expliquem o fato de Allan Kardec, depois de ter codificado a
Doutrina, ter se escafedido (termo chulinho este que arranjei, mas, para um
espírito chulo como eu, está passando de bom!) e nunca mais nada a mínima
satisfa para nós que ficamos na expectativa de que, após ter dado o ponta pé
inicial, não viesse ele a tirar o time de campo e nos levar perder por
WO!
Expliquem o logro que o
Espírito da Verdade, não respeitando sequer a intimidade de seu lar, pregou-lhe,
prometendo que ele haveria de voltar – o coitado – que deve ter sido mistificado
– chegou até a fazer contas de próprio punho, convencido de que a sua volta a
Terra, a fim de concluir a Obra iniciada, haveria de se dar no crepúsculo do
século em andamento – século XIX –, ou, então, no alvorecer do outro – século
XX!...
Expliquem, ainda, o logro
anterior, que, desta vez, lhe fora pregado na casa do Sr. Baudin, quando Z.
(espírito que muitos querem nivelar aos piores espíritos Umbralinos) também
revelou que, com o intuito de dar sequência o trabalho que estava – e ainda
está! – apenas começando, seria preciso que ele
voltasse.
Expliquem – vocês precisam
explicar muita coisa! – o que o espírito do Dr. Demeure, seu particular amigo,
lhe recomendou, em 1866 – Kardec desencarnaria em 1869, daí três aninhos
somente: “Deixai para mais tarde as grandes obras destinadas a completar o
monumento esboçado em vossas primeiras publicações.” Para mais tarde
quando?!...
Bem, o meu espaço acabou, e
eu vou ficando por aqui. Se vocês tiverem alguma explicação convincente, e
racional, a nos prestarem, voltaremos a conversar, certo?! Porque, tenho outras
explicações a lhes pedir – explicações que agora não vou lhes
adiantar.
No mais, o meu muito
obrigado.
INÁCIO
FERREIRA