19.5.14


Faltou Deus

Corre o homem pela estrada trajando-se simplesmente, mas com um eletrodoméstico às mãos, outros oportunizam o momento para fazer o mesmo.
- O que tem para mim? O que tem para mim?
Vejo crianças incentivadas pelas mães e vão todos a correr para retirar da loja saqueada seu objeto de desejo. Selvageria total, estado de caos.
O que aconteceu, meus irmãos, no nosso Estado querido esta semana?
Triste, constato, que faltou Deus.
O comportamento reinante com a greve da Polícia Militar era de insegurança total, bastante natural haja vista que é ela que cuida do combate a violência, dá a proteção social.
O meu povo, parte pequeníssima dele, se rebelou contra o status quo, mas se comportou bastante mal, irreconhecível. Não eram somente aqueles que fizeram do furto e do roubo profissão, infelizmente não, eram pessoas comuns do dia a dia, que aproveitaram a situação e puseram-se a igualmente furtar.
Onde erramos como sociedade?
Como consertar esta miséria social?
As leis não servem mais para coibir os impulsos menores?
Estas e outras perguntas poderiam ser feitas diante do quadro desolador e imoral que presenciamos nas ruas das nossas cidades pernambucanas esta semana.
Penso, cá com os meus botões, que temos guetos enormes de abandono social completo. São pessoas que vivem isoladas aonde nada chega com a devida qualidade e apenas parcos recursos, para não morrer de fome, chegam aos seus lares – porque não posso chamar de casas. São pessoas abandonadas pela sorte que vivem com esmolas governamentais, mas estão absolutamente vulneráveis.
Vulneráveis de atenção social.
Vulneráveis de atenção governamental.
Vulneráveis de fé.
Vulneráveis de moral.
Vivem a vida numa reação automática e tentam tirar proveito de tudo, sobretudo das coisas materiais, haja vista que nada possuem. Em momentos como estes, do salve-se quem puder, saem das “tocas” a procura daquilo que não têm.
O que fazer diante desta situação caótica?
Apenas orar não serve, é preciso agir, e agir com coragem.
A responsabilidade pela existência destes guetos de abandono total é de todos nós e todos podem fazer alguma coisa. A começar dos governos que devem deixar de ficar nas suas poltronas confortáveis e irem onde o povo está, principalmente o mais miserável. Depois, as instituições sociais devem chegar junto e dar a sua contribuição. Imprescindível a participação das igrejas, sela ela qual for, para dar um pouco de sustentação material, mas, em primeiro lugar, a sustentação em Deus.
Poucos dos que estavam ali, tenho a certeza, possuem uma fé firme, uma crença permanente e ativa. Vivem ao Deus dará. O que puder conseguir no dia a dia usufruem perdidamente sem pensar no amanhã, isto não pode acontecer. É necessário pensar a longo prazo, definir uma meta nas suas vidas, querer sair da situação em que estão, agirem para o bem. Falta-lhes educação em Deus.
Quando se abraça Deus em uma religião se abraça, sobretudo, o amor. E com amor no coração jamais presenciaríamos as cenas indecorosas, revoltantes, que vimos naqueles dias de incerteza.
Onde falta Deus, falta amor. Onde falta amor predomina o egoísmo. O egoísmo encontrou guarida nos corações e mentes destes todos que pensaram somente em se darem bem, sem freios e sem sentimentos de solidariedade.
Vejo alegre, porém, mães incentivando seus filhos a devolverem o que subtraíram das lojas, menor dor e vergonha ao menos.
- Foi isto o que eu te ensinei, menino? Eu não criei um ladrão em casa, criei um homem, um homem de bem. Volte e vá devolver o que roubou imediatamente. Não quero isto na minha casa, que vergonha! - Ouvi uma mãe dizer para seu filho.
Claro que naquela turba de violência descontrolada havia vândalos do além a tocar mais fogo na fogueira incentivando os outros no medo geral e na balburdia. Covardes. Escondem-se subliminarmente e dão as ordens para ver o circo pegar fogo.
Nisto tudo a lição da falta de Deus, de amor ao próximo, de ausência de valores firmes e nobres. Necessitamos, portanto, de educação urgente urgentíssima de bons costumes, de honra, de elevação moral. Precisamos de Deus no coração de nosso povo.
Esta sublevação dos subterrâneos da nossa sociedade serve de alerta para o perigo do que é não se mexer a fundo com as desigualdades sociais e se instaurar o reino do egoísmo e da mais valia, onde eu tiro o meu e cada um que tire o seu.
Sem pensar no coletivo, no bem comum, todos sofrem, todos se tornam vítimas, mas, na prática, todos são os responsáveis.
Que não se fique apenas na indignação, mas que se procure a ação profilaxial.
Estudemos o ser humano e encontraremos nele possibilidades de elevação moral, mas necessitamos alimentá-lo diariamente neste sentido, senão tudo será bagunça e caos.
Fiquemos com Deus!
Helder Camara

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