21.11.13


NAS PEGADAS DE JESUS

 "Tenho-vos dito estas coisas estando ainda convosco; mas o Paracleto, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito." (João, XIV, 25-26.)

 A religião de Jesus é a eterna religião da luz e da verdade. Ela não se limita à prática de simples virtudes, tal como os homens a julgam.
 Abrangendo os amplos horizontes da vida espiritual, ensina-nos os meios indispensáveis para a aquisição da imortalidade.
 A religião de Jesus não desaparece no túmulo, mas ergue-se como um Sol majestoso além da campa; onde tudo parece mergulhar em trevas, no nada, a verdade, a vida se manifesta com todo o fulgor!
 A religião de Jesus não é a religião da cruz, mas a religião da luz! Não é a religião da morte, mas a da vida! Não é a religião do desespero, mas a da esperança! Não é a religião da vingança, mas a da caridade! Não é a religião dos sofrimentos, mas a da felicidade!
 A morte, o desespero, o martírio, os sofrimentos, são oriundos das religiões humanas, assim como a cruz é o instrumento de suplício inventado pelos carrascos da velha Babilônia, da Roma Primitiva, cujos senhores massacravam corpos e almas, infringindo os preceitos do Decálogo.
 A religião de Jesus não é a religião da força, mas sim a religião do direito.
 Quando as multidões absortas se aproximavam do Mestre querido, para ouvirem suas prédicas ungidas de fé, perfumadas de caridade e cintilantes de esperança, nunca o moço nazareno lhes acenou com uma cruz; nunca pretendeu colocar sobre os ombros de seus infelizes irmãos o peso do madeiro infamante.
 Ao contrário, atraía-os com olhares de piedade e em suas sublimes exortações, em seus amorosos conselhos, para todos tinha palavras de perdão, de afeição, de consolação.
 Aos aflitos e desanimados dizia: "Vinde a mim vós que vos achais sobrecarregados; aprendei de mim, que sou humilde e manso de coração; tomai sobre vós meu jugo, que é suave, meu fardo, que éleve, e achareis descanso para as vossas almas."
 A grande missão de Jesus foi abater todas as cruzes que o mundo tinha levantado; foi arrasar todos os calvários. Ele foi o portador do bálsamo para todas as feridas, do consolo para todas as aflições, da luz para todas as trevas.
 Só aquele que tiver a ventura de percorrer as páginas do Novo Testamento e acompanhar os passos de Jesus desde o seu nascimento até a sua morte e gloriosa ressurreição, bem poderá avaliar no que consiste a doutrina do ressuscitado.
 É admirável ver o grande evangelizador no meio da plebe maltrapilha, repartindo com todos, os tesouros do seu amor! Falava-lhes a linguagem do Céu; convidava-os à regeneração, à perfeição; fazia-lhes entrever o futuro cheio de promessas salutares; animava-os a buscarem as coisas de Deus; finalmente, procurava gravar naquelas almas, turbadas pelo sofrimento, o benévolo reflexo da vida eterna, que ele tinha por missão oferecer a todas as almas.
 Jesus não foi o emissário da espada, o gladiador que leva o luto e a morte à família e à sociedade; mas sim o médico das almas, o príncipe da paz, o mensageiro da concórdia; o grande expoente da fraternidade e do amor a Deus.
 Ao longo das estradas pedregosas por onde passou, pelas cidades e aldeias, o Mestre concitava os seus ouvintes a serem bons, apontava-lhes os tesouros do Céu e a todos garantia o auxílio desse Deus invisível, cujo amparo se estende aos pássaros do céu, aos lírios dos campos.
 Após o seu admirável Sermão do Monte, e para demonstrar a ação de suas palavras, cura um leproso que, prostrado a seus pés, o adora, dizendo: "Senhor, se quiseres, bem me podes tornar limpo!"
 Na sua viagem para Cafarnaum, um centurião aproxima-se dele, pede-lhe a cura de um seu criado: a milícia celestial se agita e o doente se restabelece.
 Chegando à cidade de Cafarnaum, entra em casa de Pedro e encontra de cama, presa duma febre maligna, a sogra deste. Imediatamente, ao toque de suas mãos compassivas, a pobre velha se ergue.
 Acompanhado de seus discípulos, numa barca no Mar da Galiléia, a tempestade se desencadeia, o vento sopra rijo e as ondas se encapelam. Os discípulos, tomados de pavor, apelam para o Mestre, e a uma palavra sua os ventos cessam, o mar se acalma.
 Chegados à outra banda, ele expele uma legião de Espíritos malignos que obsediavam um pobre homem.
 Ao sair novamente da terra dos gadarenos e de volta a Cafamaum, uns homens se aproximam do nazareno e levam-lhe um paralítico que jazia em um leito. O doente recebe o perdão de suas faltas e o homem, curado, rende graças a Deus.
 Jairo, um chefe de sinagoga, sabendo os grandes prodígios operados por Jesus, corre ao seu encontro, pede-lhe libertar sua filha da morte. Enquanto Jesus caminha para a casa de Jairo, uma mulher que sofria, havia doze anos, moléstia incurável, toca-lhe na túnica e sara. Chegado o Mestre à casa do fariseu, livra a mocinha das garras da morte!
 Eis que Jesus sai da casa de Jairo, dois cegos correm após o Mestre, clamando: "Filho de Davi, tem misericórdia de nós!" Seus olhos se abrem e eles saem a divulgar na Galiléia, as grandes coisas que o Senhor lhes fez.
 No mesmo instante um grupo de homens traz ao Filho de Deus um mudo endemoninhado; Jesus expulsa o Espírito maligno e o mudo recupera a fala!
 E à proporção que as graças eram dadas, a multidão crescia, porque nelas crescia a palavra de Deus; e Jesus andava por toda parte anunciando a todos o Reino de Deus: contava parábolas, fazia comparações e, sob a forma de alegoria, transfundia nas almas a vontade suprema para que todos, removendo obstáculos, pudessem com o auxílio divino, libertar-se dos sofrimentos acabrunhadores por que passavam.
 Durante um longo período de três anos consecutivos, Jesus, todo dedicado à alta missão que tão bem desempenhou, não perdeu um só momento para deixar bem esclarecida a sua tarefa libertadora.
 Grande reformador religioso, aboliu todos os cultos, todos os ritos, todos os sacramentos de invenção humana, que só têm servido para dividir a Humanidade, formar seitas, constituir partidos, em prejuízo da unificação dos povos, da fraternidade que soube proclamar bem alto.
 E foi por isso que fariseus e escribas, sacerdotes, doutores da lei e pontífices congregados em conciliábulo maléfico, concitaram a turba bestializada contra o meigo Rabino, e unidos aos Herodes, aos Caifases, aos Pilatos e Tartufos; uns por malevolência sanguinária, outros por ambição e orgulho, outros por avareza, vil mercancia, covardia e subserviência, levaram o meigo evangelizador ao patíbulo infamante, torturando-o com morte acintosa.
 Mas o triunfo da verdade não se fez demorar; quando todos julgavam morto o redentor do mundo, quando julgavam haver abafado a sua doutrina de amor, eis que a pedra do sepulcro, onde haviam depositado o corpo do moço galileu, estremece ao toque de dois luminosos Espíritos; a cavidade da rocha se mostra vazia; Jesus aparece a Maria Madalena, ressoa por toda parte o eco da ressurreição!
 Triunfante das calúnias, das injúrias, dos tormentos, dos suplícios, da morte, o filho amado de Deus reenceta suas substanciosas lições, embalsamando seus amorosos discípulos com os eflúvios da imortalidade, únicos que nos garantem fé viva, esperança sincera e caridade eterna!
 Não valeu a prevenção dos sacerdotes, a ordem de Pilatos; não valeram os selos que lacravam o sepulcro e os soldados que o guardavam; no alvorecer do primeiro dia da semana tudo foi derribado, e o Cristo, ressuscitado, voltou à arena mundial, vitorioso na luta contra os seus terríveis algozes!
 E em sua narrativa cheia de simplicidade, diz o Evangelho, por todos os evangelistas, que o Cristo Jesus apareceu depois de morto, comunicou-se com os onze apóstolos, apareceu aos demais discípulos, e, depois, a mais de quinhentas pessoas das cercanias de Jerusalém; explicou-lhes novamente as Escrituras, repetiu-lhes a sua doutrina, que não pode ficar encerrada num túmulo, nem numa igreja: produziu diante deles fenômenos estupendos, como a pesca maravilhosa, anunciou-lhes todas as coisas que deviam acontecer, garantiu-lhes a vinda do Consolador, prometeu-lhes, além disso, a sua assistência até a consumação dos séculos, não só a eles, mas a todos os que lhe seguissem os passos e alou-se às altas regiões do espaço, donde velaria por todos.
 A religião de Jesus não consiste em dogmas e promessas falazes; é a religião da realidade.
 Religião sem manifestações e comunicações de Espíritos, é a mesma coisa que cidade sem habitantes ou casa sem moradores.
 A religião consiste justamente nessa comunhão de Espíritos, nesse auxílio recíproco, nessa afeição mútua.
 Por que é o Cristo a nossa esperança e a nossa fé? Por que lhe dedicamos amor, respeito, veneração? Por que nele confiamos nas nossas aflições? Por que lhe fazemos preces? Por que lhe devotamos admiração e lhe rendemos graças?
 Porque sabemos que ele pode e vem iluminar-nos a vida, robustecer-nos a crença, proteger-nos e amparar, auxiliar-nos e acariciar, como um pai devotado proporcionaria a felicidade e o bem-estar a seus filhos. Pois, sendo Cristo as primícias do Espírito, como afirma o apóstolo Paulo; estando certos de que ele ressuscitou, apareceu, comunicou-se, porque não podem fazer o mesmo aqueles Espíritos que nos foram amigos, parentes, aqueles que viviam conosco, mantendo mútua afeição?
 Na Epístola aos Coríntios diz o apóstolo da luz: "Se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou e é vã a nossa fé."
 A ressurreição do Cristo implica a ressurreição dos mortos; e se fosse contrária à lei de Deus, a manifestação, a aparição, a comunicação dos mortos, Jesus teria infringido essa lei; teria ido de encontro ao seu primeiro mandamento, que diz termos obrigação de obedecer ao nosso Pai celestial, amá-Lo de todo nosso coração, entendimento e alma e com todas as nossas forças!
 Mas já que o Cristo apareceu e se comunicou, é sinal certo de que a lei de Deus consiste na comunicação dos Espíritos. Jesus não invocou, no Tabor, os Espíritos de Moisés e Elias? Esta é a religião de Jesus, pois se baseia em fatos irrefutáveis; esta é a religião da fraternidade, porque tem por base a afeição verdadeira, que não termina no túmulo; seguir as pegadas de Jesus é o bastante para que sejamos por ele guiados e vençamos também como ele venceu a morte com o triunfo da ressurreição.

Livro: Parábolas e Ensinos de Jesus - Cairbar Schutel

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