A vida não para
Acabei de rezar um terço
em memória dos mortos. Fiz isto em consolo àqueles que me acorrem, do lado de cá
da vida, para pedir pelas almas dos que já se foram. É um gesto de solidariedade
por mães e pais que querem ver seus filhos bem e de parentes, de uma maneira
geral.
Este gesto contemplativo em favor dos seus familiares já mortos é um
fenômeno interessante, percebo bem no lado de cá da vida.
De um lado, os
parentes que chegam aos cemitérios para reverenciarem, em forma de respeito, aos
que se foram para a eternidade. De outro, os próprios espíritos que, muitos
deles, nem sabem o que está acontecendo. É uma cena dantesca, muitas vezes, por
quê?
Ontem, em um cemitério, acompanhei uma família pedindo por seu pai que
morrera recentemente. Pois bem, estavam eles ali, circunspectos, em oração, com
velas e flores, e imaginem quem estava de pé perto do túmulo também orando...o
próprio “defunto”.
Meus caros, ele mesmo nem sabia que havia morrido. Estava
ali com a família, normalmente, sendo também solidário ao dia de finados. Foi
neste instante que uma equipe espiritual veio socorrê-lo com muito cuidado para
não provocar traumas. As ditas preces dos familiares o ajudou a sair daquele
estado de ilusão que já durava algum tempo.
Outros, iam ao cemitério para
acompanhar seus familiares já que estavam sendo lembrados e ficavam muito
felizes com isso. Sabia, no fundo, que era amado de verdade, daí a solidariedade
dos seus no dia dos mortos.
Outras catacumbas, apesar de frequentadas, nada
se via no lado de cá da vida. Eram apenas os familiares num gesto de amor.
Certamente que suas preces estavam sendo dirigidas e recebidas para quem eram
endereçadas, mas nem um sinal de alma viva naquele local.
Os transeuntes do
cemitério era uma confusão total. A certa hora, eu não sabia mais quem era vivo
e quem era morto. O que aprender disto tudo, meus caros?
Vi com meus próprios
olhos e cheguei a uma conclusão: o que vale mesmo é o sentimento
verdadeiro.
É claro que se alguém se digna a sair de casa para fazer uma
homenagem a um antepassado isto é deverasmente louvável, mas não ir e de lá
emitir vibrações de alegria e saudade também valerá a pena.
O contato com os
“mortos”, na verdade, se dá diariamente, aprendi do lado de cá da vida com ainda
mais ênfase. Eu mesmo me empresto todos os domingos com o médium Carlos num
diálogo prazeroso. Outras vezes com a minha querida Antonieta, nas Minas Gerais,
para outros comentários. Aqui e acolá, visito outros que me pedem socorro e
assim por diante.
Gosto de ser lembrado? Claro que gosto, até porque a vida
espiritual é mais ativa do que a vida material. Digo, sem pestanejar, que
trabalho mais como morto, muitas vezes, do que como vivo. E tem gente que espera
morrer para descansar...
É a vida que se manifesta plenamente. Tenho
obrigações mil por aqui e todos aqueles que se dignem a trabalhar não vai faltar
o que fazer. Desemprego por aqui definitivamente não há.
Trabalhem, meus
irmãos, trabalhem na esfera do bem. Aproveitem as oportunidades para amar, para
brincar, para festejar, para ser útil aos outros.
Nossa vida não para. Não
para não.
Fiquem com Deus,
Helder Camara
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