Democracia é Coisa Séria
Acompanho com pesar as
manifestações violentas que acontecem no nosso País. São manifestações duras,
muitas delas, porque redundam em violência pura. Não é o agressor, neste caso, o
Estado, através da Polícia Militar, é o próprio povo, e isto definitivamente não
pode acontecer.
As manifestações, de maneira geral, são ordeiras e justas.
Acompanhei algumas delas recentemente e posso comprovar da imparcialidade dos
seus manifestantes. As causas que defendem são consideráveis e muitas delas são
frutos do desleixo do poder público em não atender prontamente as reivindicações
ou não querer o diálogo aberto com a população.
Isto é democracia.
Agora,
o que tenho presenciado igualmente, Brasil afora, são manifestações organizadas
por alguns que atentam a democracia porque na sua raiz sequer são manifestações.
São aproveitadores dos movimentos sociais que ficam na espreita para derramar o
seu ódio ferino. Saqueiam, cometem agressões, depredam o patrimônio público, e o
pior é que fica por isso mesmo.
Isto é badernagem.
Meus irmãos, este
estado de coisas tem que parar. Não é possível que se permita que meia dúzia de
desavisados, de irresponsáveis, contamine, a ponto de parar, uma manifestação
ordeira e reivindicativa de direitos.
Eu acompanhei, no meu tempo de bispado,
algumas manifestações. Além de conteúdo, vibrante é verdade, havia autorização
até para que fosse feita, era comunicada na polícia algumas delas. O povo fazia
presença nestas manifestações e possuíam um conteúdo sério e não provocações.
Somente no tempo da ditadura militar é que as coisas se complicaram e eles não
deixavam ninguém se juntar para nada. Até uma conversa de amigos, às vezes, era
considerada como subversiva.
Pois bem, meus amigos, o que vemos hoje é
desproposital. Não se pode ficar de braços cruzados, as autoridades e a
sociedade, diante da ação de vândalos. Estes não sabem o que é democracia e,
portanto, não estão nem aí para defendê-la. Sob a égide dos fundamentos
democráticos é que reivindico, do lado de cá da vida, que se separe o joio do
trigo.
Não se pode, irmãos, contaminar a democracia. Eu sei – e sei muito bem
– o que ela representa. O que se respira atualmente no Brasil é fruto de muita
luta, de muito suor e lágrimas. É o esforço de anos para que pudéssemos
expressar livremente as nossas opiniões e vontades. Confundir expressão de
opinião com bandidagem há aí uma diferença capital.
Revolução se faz nas
ruas, sempre se fez e se fará, mas na ordem, na paz, na tranquilidade, no embate
democrático, e não em arruaças. Há que se distinguirem bem as
coisas.
Democracia é coisa séria para se tratar desta maneira. O povo é
ordeiro e quer ver os seus direitos legítimos serem colocados na prática e se
há, por parte dos governos e do poder legislativo, uma ausência de atenção, deve
se usar o mecanismo da reivindicação que proporcione os melhores resultados, mas
na ordem e na paz, isto sempre.
Um abraço,
Helder Camara
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