26.12.12

Encontro com Jesus

Certa vez, há bastante tempo, de pés calejados de muito andar, fui a determinada cidadezinha no meu Ceará. Ainda jovem e querendo mostrar trabalho, fui rezar uma missa a que me convidaram.
Fui entusiasmado com a possibilidade de servir como pároco temporário daquela cidade distante e pequena, quase uma rua só, mas estava feliz.
Ao iniciar a missa, via apenas alguns pingados de gente. Ora, pensava eu, vim de tão longe e ninguém aqui quis me ver, nem mesmo matar a curiosidade de um padre novo, mesmo que temporário.
Qual não foi a minha surpresa que, aos poucos, a igreja foi se enchendo. Senta aqui, senta acolá, e, no final, estava cheinha de gente e com alguns em pé.
Falei do Espírito Santo nas nossas vidas, o que é a graça de viver sob a sua égide e todos me aplaudiram no final pelo meu entusiasmo, certamente.
Ao cumprimentar a todos depois da missa alguém chegou e me disse que estavam ali depois de velar a um dos amigos da comunidade que acabara de morrer, daí o motivo do atraso.
Quis saber imediatamente quem era e se poderia dar os meus préstimos à família enlutada. Um senhor logo me disse que carecia não porque o homem era protestante e que a família não gostaria da minha presença na sua casa. Teimoso, pedi que me mostrasse a casa que queria ir lá de todo jeito.
Ao chegar, bati palmas, me apresentei e antes que dissessem qualquer coisa fui logo afirmando:
- Vim me solidarizar com a morte de meu irmão. Se Deus quiser, ele estará em bom lugar, mas devo dizer que o Pai Amantíssimo não vê a religião que abraçamos, mas o coração que possuímos.
O homem da casa me fixou os olhos e disse:
- Olhe, seu padre, nós todos estamos desconsolados com a morte de nosso irmão, mas o senhor veio dizer que é o coração que engrandece um homem perante os olhos de Deus. Pois bem, meu irmão era um homem de fé e trabalhador, então, Deus haverá de colocá-lo num bom lugar.
- Certamente, meu caro, certamente. Eu vou rezar uma missa em seu nome, se vocês me permitirem, logicamente, asseverei.
- Carece não, seu padre. Estamos todos na nossa igreja reverenciando a sua imagem. Fico contente, porém, com seu desprendimento, retrucou o irmão de homem que faleceu.
- Então, me permitam ir ao culto. Quero deixar claro que nada tenho contra qualquer dos meus irmãos de outras denominações, enquanto estiver por aqui.
Aceitaram-me a presença no culto e a cidade escandalizada com aquele meu ato. Uns aprovavam, outros censuravam. Não liguei. Fui ao culto protestante e lá pelas tantas o pastor pediu que eu rezasse a oração final.
Rezei. Pedi pela alma daquele nosso irmão e por todos ali da família. Consternado estava porque parecia que o irmão falecido era muito considerado pela comunidade.
Ao final, me abraçaram e um da família veio até mim e disse:
- Seu padre, hoje eu me encontrei com Jesus.
- Foi, como isso se deu?
- Quando o senhor entrou naquela porta eu disse para mim mesmo: ou ele veio nos catequizar ou veio prestar, de verdade, a sua solidariedade com a nossa dor. Como o senhor só falou coisa boa e de incentivo, acho que o senhor veio representando Jesus.
- Meu filho – disse -, todo aquele que vem falar em nome de Jesus, assim está representando-o. Eu sou apenas mais um.
Despedi-me e fui a pensar sobre aquela história. Estava intimamente feliz com minha iniciativa. De lá para cá, me convenci ainda mais que somos todos irmãos e que a fé, seja ela qual for, deve ser respeitada. Assim, se vive mais feliz e em harmonia.
Que neste natal do Menino Jesus, sejamos solidários com a dor do irmão, acolhendo-a como nossa.
Que sejamos solidários com a fé de quem que seja, porque todos estão referenciando a Jesus e a Deus – que é um só para todos.
Foi Jesus que nos ensinou a amarmos uns a outros e no seu natal não poderá ter expressão maior e melhor para fazer senão honrar os seus ensinamentos.
Que Deus nos abençoe!
Helder Camara pelo médium Carlos Pereira - 23/12/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário