22.11.18

Dia Negro


Há quantos falam por aí das cores. Imaginam que o ser humano é diferente porque a tez de um é diferente da tez do outro. Uma raça específica, por conta disso, se torna superior a outra. Que ledo engano! Como poderíamos aferir a superioridade de um homem pela cor de sua pele?  Somente muita presunção e desconhecimento da realidade espiritual para falar num despautério desses.
O homem, por si só, é uma individualidade, criação única de Deus, não há dois seres iguais por mais que se pareçam. A partir daí, do mistério da criação divina, podemos chegar rapidamente à conclusão: somos todos, sem exceção, absolutamente iguais perante Deus, porque cada um é filho do Altíssimo. Não há diferenças nem privilégios. Quem faz isso, quem procede à discriminação, são os homens, não Deus.
O princípio da igualdade se manifesta na criação divina, somos todos iguais, no entanto, nas diversas experiências que o Ser tem na Terra, ele se abriga em corpos diferenciados para o seu tentame existencial. Para isso, a roupa que veste é igualmente diferenciada. Numa existência pode vir negro, branco e assim sucessivamente.
Demorei a entender a este raciocínio, mas ele é justo na sua essência, porque permite a todos a maravilha das experiências diversificadas e assim sentirem um pouco do que o outro sente. É uma incrível forma de promover a excelsitude do Pai com os seus filhos e exercitar a solidariedade racial.
Meus queridos irmãos, para aquele que me conheceu em vida há de estranhar estas palavras, pode vir a dizer: “Hélder agora, depois que morreu, deu para acreditar nesta tal de reencarnação”. Sinto decepcionar a este e dura a mim reconhecer, mas os renascimentos são obras de Deus.
Eu sei que isso vai ferir a meio mundo de gente, mas o que eu posso fazer? Eu não posso mentir diante da realidade a que me deparo. Do lado de cá, presencio pessoas que foram outras personalidades em outras vidas e se preparam para novas existências no corpo físico. É um fato, meus caros irmãos, não há como fugir. Deparo com esta realidade e ponho-me a perguntar: por que Deus esconde estas coisas a tantas criaturas? Apresso-me a responder dizendo que Ele não procede desta maneira, nós é que não queremos enxergar esta realidade tão profetizada por milhões de criaturas que pregam tais palavras no mundo inteiro.
A Teologia Católica poderá dizer: isto é uma blasfêmia aos ensinamentos do Cristo. Eu poderia retrucar com as palavras dele mesmo quando afirmou que aquilo que é do corpo é do corpo e o que é do espírito é do espírito. É o espírito que renasce, não o corpo que morreu. O corpo é outro, bem diferente. Por que então ignorar estas palavras? Porque é mais cômodo, confesso, imaginar que Deus vai nos salvar diante dos casuísmos que fizemos de nossas vidas. E onde estaria a Misericórdia Divina que viria a condenar definitivamente os seus filhos pelo mal que cometera?
É duro afirmar, mas eu repito, a vida não apenas continua depois da morte como ela se reveste de muitas transformações corporais em quantas existências sejam necessárias para o aperfeiçoamento do espírito.
Alguém, seguindo o mesmo raciocínio de antes, poderia dizer: “Dom Hélder, depois de morto, virou espírita”. Não é verdade. Apesar de nutrir grande admiração por aqueles profitentes do Espiritismo do lado de cá, e compartilhar com eles algumas ações, não deixei de me juntar àqueles que, em vida, dividiram comigo as mesmas preocupações do clero, em fazer da Igreja que abraçamos um lugar de inclusão de todos, sem preconceitos de qualquer ordem e aberta ao diálogo. Sou favorável ao repensar de nossas práticas em direção a integração geral com todos os partidários do Cristo e do bem que somos, mas contra uma realidade posta, não posso me furtar de desconsiderá-la para manter-me fiel àquilo que doutrinariamente defendi em vida.
Diante desta realidade pós-vida física, diante da multiplicidade de experiências que obtemos, como ainda pensar em supremacia racial? Isto é uma ignomínia. Não se sustenta com a razão e o bom senso. É ainda reflexo do orgulho humano de querer-se mostrar superior uns aos outros.
Neste dia de comemoração à Consciência Negra (20/11), tenho a dizer que me congratulo com todos aqueles que lutam pelo reconhecimento dos direitos de sua raça, sem discriminação de qualquer ordem, porque quem discrimina é o homem, não é Deus, repito.
Hoje é o Dia Negro, não que tudo vai dar errado, como preconceituosamente tem sido atestado por aqueles que usam o verbo para separar as pessoas, mas porque haveremos de reverenciar os irmãos que vestem na presente experiência o manto negro na carne. A todos eles, ricos na cultura e na diversidade, quero deixar o meu abraço e o meu pedido de perdão. Perdão pela discriminação que inadvertidamente a nossa Igreja ajudou a sentenciar dando cores mais nítidas ao preconceito racial.
Perdoe-nos, irmãos! Quantas atrocidades, quantos abusos, e muitas vezes usando o santo nome de Deus, não foi desferido àqueles que voltavam na condição de escravos na Terra? Por esta razão, neste dia feliz de comemorações, junto-me aos gritos daqueles que lembram o herói dos Palmares:
     - Viva Zumbi! Viva Zumbi!

Helder Camara – Blog Novas Utopias

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