(CP- Carlos Pereira/Médium;
DH – Dom Helder Câmara/Espírito)
CP. As eleições desse ano no
Brasil foram surpreendentes. Houve expressiva mudança na Câmara Federal, apesar
de se manter conservadora. Foram eleitos governadores novos na política. Vários
políticos tradicionais não se elegeram. Um presidente completamente diferente
chegou ao planalto. O que está acontecendo?
DH. Penso que é renovação. O
povo está cansado dos velhos políticos. Acham que o povo não pensa?Pensa sim,
mas tem seu jeito próprio de pensar, cabe a nós entendermos o seu recado que
saiu das urnas.
CP. Que recado foi esse?
DH. O recado de que está
cansado de corrupção. O recado que não aceita quem promete algo e faz outra
coisa. O recado que se sente inseguro. O recado que não dá mais para conviver
com a hipocrisia na política. O recado que quer melhoria efetiva na sua vida.
CP. Houve a eleição de alguém
nitidamente despreparado para o cargo. Além do mais um discurso raivoso e
violento. Por que essa opção?
DH. Entendamos o que povo
disse. Se ele estava cansado de tudo isso que citei quem melhor soube traduzir
essa inquietação popular foi o presidente eleito. Ele não sabe exatamente o que
quer, mas sabe certamente o que não quer. Nisto, o povo se identificou com ele
e deu seu voto de confiança. Sua eleição, por esse ponto de vista, foi
absolutamente legítima.
CP. O senhor fez crítica
indiretas contra ele nos seus textos. Disse que não iria se calar. Continua
pensando assim?
DH. Continuo, claro que
continuo. Não posso ouvir alguém dizer que vai matar o próximo e eu ficar
calado. Não posso ver alguém dizer que detesta a liberdade e aplaudir. Não
posso escutar alguém dizer uma série de equívocos e fingir que não escutei. Fui
ao encontro dos meus valores, só fiz isso.
CP. O presidente eleito se
coloca na postura de um cristão. Há incoerência entre no que diz e faz?
DH. Claro que há! São os
fatos que apontam isso, não eu. Ele disse abertamente várias coisas que vão de
encontro com a filosofia moral pregada por Jesus. Não são compatíveis os
discursos dele com o nosso libertador. Alguém está errado e esse alguém não é
Jesus.
CP. Essa campanha gerou muito
ódio, muita divisão no nosso povo. Por que ocorreu isso?
DH. Por desinformação porque
se agarraram as ideias de maneira apaixonante. Todos foram envolvidos numa
grande energia alienante. Foram sugados por uma onda entorpecente. Nada de
diferente do que são, por isso ocorreu sintonia. Automatizamos comportamentos e
emoções. Isso é tudo muito ruim porque perdemos noção real das coisas. O que
está em jogo é a liberdade de pensar. O que deve ser preservado é o respeito
uns com os outros. Nesse ponto, sobrou desaforos e esqueceu-se dos conteúdos
amorosos que Jesus nos ensinou.
CP. Notei que novamente houve
um estímulo ao maniqueísmo. Os bons têm que varrerem os maus na política. O
senhor também pensa assim?
DH. São os tais
condicionamentos alienantes a que me referi. Não é feio pensar de um jeito ou
de outro. Feio é achar que tudo que é diferente do seu jeito de pensar não
presta. Ora, é na divergência que nos tornamos grandes e melhores. O diferente
agrega, o igual apenas se repete. Há sementes de sabedoria e bondade em todas
as ideias. É só as catar e adotá-las.
CP. Como foi o comportamento
no mundo espiritual?
DH. Também houve divisão. Por
aqui se refletiu o que se viu por aí. Apesar de ter fatos novos que não podemos
revelar, estávamos divididos quanto a estratégia de mudança de nosso País. Como
ficou tudo muito resumido em dois flancos, então não houve consenso.
CP. Afinal, o que predominou?
DH. Os que defendiam uma
mudança radical, apesar de um jeito completamente antagônico. Era uma aposta e
estão trabalhando favoravelmente nesse sentido. Muitos respeitados estadistas e
gente comprometida com a política brasileira defenderam a eleição do senhor que
está aí. Foi uma forma encontrada de mudar a agenda viciada de nosso País.
CP. As ideias bélicas e
violentas que ele prega não atraem forças antagônicas ao bem?
DH. Claro que atrai! Elas
estiveram ativas nos dois lados no segundo turno. De certa forma, ganhariam em
qualquer que fosse o resultado. Como há uma esperança de mudança concreta com
quem se elegeu, então optaram em ficar ao lado dele os espíritos mais abertos,
digamos assim. Eu fiquei neutro, mas contra os princípios de retrocesso e que
considerei anticristão.
CP. E agora?
DH. Agora a vida prossegue.
Não há o que fazer senão inspirar os homens de bem para fazer o bem na medida
das suas possibilidades e deixar os equívocos de lado, subtraindo os ímpetos de
atraso que porventura venham a se instalar.
CP. O que esperar do futuro
do País?
DH. Eu não penso em outra
coisa sempre que não seja em gerar esperanças positivas para nossa gente.
Estimular a dar o seu melhor e fazer acontecer o que tem de bom nelas. Se cada
um faz isso, a gente terá um País melhor, onde se vai respirar com mais
dignidade e amor. Torço que o senhor presidente seja mais humano e menos
bélico, mais cristão e menos excludente. A luta continua.
CP. O senhor deseja falar do
PT?
DH. Não. O povo já falou o
que tinha que falar nas urnas. O povo, de alguma maneira, é sempre sábio em
suas decisões.
CP. Posso achar que o povo
vai continuar a se interessar pela política mesmo depois da eleição?
DH. Que bom que assim seja.
Com mais debate e menos radicalismo. Com mais cidadania e menos passividade.
Com mais responsabilidade e menos negligência. O povo tem o governo que merece
e precisa.
Blog Novas Utopias
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