Já no século II escrevia Orígenes:
.Presentemente é manifeste que grandes foram os desvios sofridos pelas cópias,
quer pelo descuido de certos escribas, quer pela audácia perversa de diversos
corretores, quer pelas adições ou supressões arbitrárias. (Patrologia Grega,
Migne, vol. 13, col. 1.293).
Quanto mais se avançava no tempo, mais
crescia o número de cópias e de variantes, aumentando sempre mais o desejo de
possuir-se um texto fixo e autorizado. Chegávamos ao 4.0 século. Constantino estabeleceu
que o Bispo de Roma devia ser o primaz da Cristandade. O imperador Teodósio deu
mão forte aos cristãos romanos, declarando o cristianismo .religião do Estado.,
e firmando, desse modo a autoridade do Bispo de Roma. Ocupava o Bispado o então
Papa Dâmaso (português de nascimento) , devendo anotar-se que, naquela época,
todos os Bispos eram denominados .papas.. Desejando atender ao clamor geral,
Dâmaso encarregou Jerônimo de estabelecer o TEXTO DEFINITIVO das Escrituras.
A tarefa era ingente, e Jerônimo tinha
capacidade para desempenhá-la, pois conhecia bem o hebraico, o grego e o latim.
Ele devia re-traduzir para o latim todas as Escrituras, já que as versões
antigas (vetus latina) eram variadíssimas.
Vulgata
A tradução latina de Jerônimo é conhecida
com o nome de Vulgata, ou seja, edição para o vulgo, e tem caráter dogmático
para os católicos romanos.
Língua
Original
A língua original do Novo Testamento é o
grego denominado Koiné, ou seja, comum, popular, falado pelo povo. Não é o
grego clássico.
O grego do Novo Testamento apresenta um
colorido francamente hebraista, e bem se compreende a razão: todos os autores
eram judeus, com exceção de Lucas, que era grego.
Os Evangelistas
MATEUS (nome grego, Matháios, que significa
.dom de Deus., o mesmo que Teodoro). Seu nome em hebraico era LEVI.
Diz Papias que .Mateus reuniu os .Logía. de
Jesus (ou seja os discursos) , e cada um os traduziu como pôde do hebraico em
que tinham sido escritos..
Todavia, jamais foi encontrada nenhuma
citação de Mateus em hebraico, nem mesmo em aramaico.
Com efeito, em hebraico é que não escreveu
ele, já que desde 400 anos antes de Cristo o hebraico não era mais falado, e
sim o aramaico, que é uma mistura de hebraico com siríaco. Parece, pois, que
Papias não tinha informação segura.
Um argumento em favor do hebraico ou
aramaico de Mateus original são seus numerosíssimos hebraismos.
Entretanto, qualquer tradutor teria o
cuidado de expurgar a obra dos hebraísmos. Se eles aparecem em abundância, é
mais lógico supor-se que o autor era judeu, e escrevia numa língua que ele não
conhecia bem, e por isso deixava escapar muitos barbarismos.
Supõe-se que Mateus haja escrito entre os
anos 54 e 62.
Dirige-se claramente aos judeus (basta
observar as numerosas citações do Velho Testamento e o esforço para provar que
Jesus era o Messias prometido aos judeus pelos antigos Profetas) . Mateus
mostra-se até irritado contra seus antigos correligionários.
MARCOS, ou melhor, JOÃO MARCOS, era
sobrinho de Pedro. O nome João era hebraico, mas o segundo nome Marcos era
puramente latino. Não deve admirar-nos esse hibridismo, sabendo-se que os
romanos dominavam a Palestina desde 70 anos antes de Cristo, introduzindo entre
o povo não apenas a língua grega, como os nomes latinos e gregos. (Os romanos
impuseram a língua latina às conquistas do ocidente e a grega às do oriente,
daí o fato de falar-se grego na palestina desde 70 anos antes de Cristo, por
coação dos dominadores) .
Marcos escreveu entre 62 e 66, e parece que
se dirigia aos romanos, tanto que não vemos nele citações de profecias; apenas
uma vez (e duvidosa) cita o Velho Testamento. Mais: se aparece algo de típico
dos costumes judaicos, Marcos apressa-se a esclarecer, explicando com
pormenores o de que se trata, como estando consciente de que seus leitores,
normalmente, não no perceberiam.
LUCAS, abreviatura grega do nome latino
Lucianus, não tinha sangue judeu: era grego puro, de nascimento e de raça.
Escreveu em linguagem correta, entre 66 e 70, interpretando o pensamento de
Paulo a quem acompanhava nas viagens apostólicas, talvez para prestar-lhe
assistência médica, pois o próprio Paulo o chama .médico querido. (cfr. 2.a
Cor. 12:7) .
Todo o plano de sua obra é
organizado, demonstrando hábito de estudo e leitura e de pesquisa.
JOÃO, chamado também .o discípulo amado., e
mais tarde .o presbítero., isto é, o .velho.. Filho de Zebedeu, e portanto
primo irmão de Jesus, acompanhou o Mestre no pequeno grupo iniciático, com seu
irmão Tiago e com Pedro.
Clemente de Alexandria diz
ter João escrito o .Evangelho Pneumático.. Sabemos que .pneuma. significa
.Espírito.. Então, é o Evangelho espiritual. Em que sentido? Escrito por um
Espírito? .Pneumografado.? Tal como hoje dizemos .psicografado.?
João escreveu entre 70 e 100, tendo
desencarnado em 104.
Seu estilo é altaneiro, condoreiro e seu
Evangelho está. repleto de simbolismos iniciáticos, tendo dado origem a uma
teologia.
Linguisticamente, Lucas é o mais correto e
Marcos o mais vulgar testando Mateus e João escritos numa linguagem
intermediária.
Livro: Sabedoria do Evangelho
- Carlos Torres Pastorino
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