18.3.18

Os Textos


    Já no século II escrevia Orígenes: .Presentemente é manifeste que grandes foram os desvios sofridos pelas cópias, quer pelo descuido de certos escribas, quer pela audácia perversa de diversos corretores, quer pelas adições ou supressões arbitrárias. (Patrologia Grega, Migne, vol. 13, col. 1.293).
    Quanto mais se avançava no tempo, mais crescia o número de cópias e de variantes, aumentando sempre mais o desejo de possuir-se um texto fixo e autorizado. Chegávamos ao 4.0 século. Constantino estabeleceu que o Bispo de Roma devia ser o primaz da Cristandade. O imperador Teodósio deu mão forte aos cristãos romanos, declarando o cristianismo .religião do Estado., e firmando, desse modo a autoridade do Bispo de Roma. Ocupava o Bispado o então Papa Dâmaso (português de nascimento) , devendo anotar-se que, naquela época, todos os Bispos eram denominados .papas.. Desejando atender ao clamor geral, Dâmaso encarregou Jerônimo de estabelecer o TEXTO DEFINITIVO das Escrituras.
    A tarefa era ingente, e Jerônimo tinha capacidade para desempenhá-la, pois conhecia bem o hebraico, o grego e o latim. Ele devia re-traduzir para o latim todas as Escrituras, já que as versões antigas (vetus latina) eram variadíssimas.
 
    Vulgata
    A tradução latina de Jerônimo é conhecida com o nome de Vulgata, ou seja, edição para o vulgo, e tem caráter dogmático para os católicos romanos.

    Língua  Original
    A língua original do Novo Testamento é o grego denominado Koiné, ou seja, comum, popular, falado pelo povo. Não é o grego clássico.
    O grego do Novo Testamento apresenta um colorido francamente hebraista, e bem se compreende a razão: todos os autores eram judeus, com exceção de Lucas, que era grego.

    Os Evangelistas
    MATEUS (nome grego, Matháios, que significa .dom de Deus., o mesmo que Teodoro). Seu nome em hebraico era LEVI.
    Diz Papias que .Mateus reuniu os .Logía. de Jesus (ou seja os discursos) , e cada um os traduziu como pôde do hebraico em que tinham sido escritos..
    Todavia, jamais foi encontrada nenhuma citação de Mateus em hebraico, nem mesmo em aramaico.
    Com efeito, em hebraico é que não escreveu ele, já que desde 400 anos antes de Cristo o hebraico não era mais falado, e sim o aramaico, que é uma mistura de hebraico com siríaco. Parece, pois, que Papias não tinha informação segura.
    Um argumento em favor do hebraico ou aramaico de Mateus original são seus numerosíssimos hebraismos.
    Entretanto, qualquer tradutor teria o cuidado de expurgar a obra dos hebraísmos. Se eles aparecem em abundância, é mais lógico supor-se que o autor era judeu, e escrevia numa língua que ele não conhecia bem, e por isso deixava escapar muitos barbarismos.
    Supõe-se que Mateus haja escrito entre os anos 54 e 62.
    Dirige-se claramente aos judeus (basta observar as numerosas citações do Velho Testamento e o esforço para provar que Jesus era o Messias prometido aos judeus pelos antigos Profetas) . Mateus mostra-se até irritado contra seus antigos correligionários.
    MARCOS, ou melhor, JOÃO MARCOS, era sobrinho de Pedro. O nome João era hebraico, mas o segundo nome Marcos era puramente latino. Não deve admirar-nos esse hibridismo, sabendo-se que os romanos dominavam a Palestina desde 70 anos antes de Cristo, introduzindo entre o povo não apenas a língua grega, como os nomes latinos e gregos. (Os romanos impuseram a língua latina às conquistas do ocidente e a grega às do oriente, daí o fato de falar-se grego na palestina desde 70 anos antes de Cristo, por coação dos dominadores) .
    Marcos escreveu entre 62 e 66, e parece que se dirigia aos romanos, tanto que não vemos nele citações de profecias; apenas uma vez (e duvidosa) cita o Velho Testamento. Mais: se aparece algo de típico dos costumes judaicos, Marcos apressa-se a esclarecer, explicando com pormenores o de que se trata, como estando consciente de que seus leitores, normalmente, não no perceberiam.
    LUCAS, abreviatura grega do nome latino Lucianus, não tinha sangue judeu: era grego puro, de nascimento e de raça. Escreveu em linguagem correta, entre 66 e 70, interpretando o pensamento de Paulo a quem acompanhava nas viagens apostólicas, talvez para prestar-lhe assistência médica, pois o próprio Paulo o chama .médico querido. (cfr. 2.a Cor. 12:7) .
Todo o plano de sua obra é organizado, demonstrando hábito de estudo e leitura e de pesquisa.
    JOÃO, chamado também .o discípulo amado., e mais tarde .o presbítero., isto é, o .velho.. Filho de Zebedeu, e portanto primo irmão de Jesus, acompanhou o Mestre no pequeno grupo iniciático, com seu irmão Tiago e com Pedro.
Clemente de Alexandria diz ter João escrito o .Evangelho Pneumático.. Sabemos que .pneuma. significa .Espírito.. Então, é o Evangelho espiritual. Em que sentido? Escrito por um Espírito? .Pneumografado.? Tal como hoje dizemos .psicografado.?
    João escreveu entre 70 e 100, tendo desencarnado em 104.
    Seu estilo é altaneiro, condoreiro e seu Evangelho está. repleto de simbolismos iniciáticos, tendo dado origem a uma teologia.
    Linguisticamente, Lucas é o mais correto e Marcos o mais vulgar testando Mateus e João escritos numa linguagem intermediária.

Livro: Sabedoria do Evangelho - Carlos Torres Pastorino

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