9. ─ Cada dia o Espiritismo
estende o círculo de seu ensino moralizador. Sua grande voz repercutiu de um
extremo ao outro da Terra. A Sociedade se comoveu com ela, e de seu seio
partiram adeptos e adversários.
Adeptos fervorosos,
adversários hábeis, mas cuja própria habilidade e renome serviram à causa que
queriam combater, chamando para a doutrina nova a atenção das massas e lhes
dando o desejo de conhecer os ensinos regeneradores que seus adeptos preconizam
e que eles escarneciam e ridicularizavam.
Contemplai o trabalho
realizado e alegrai-vos com o resultado! Mas que efervescência indizível se
produzirá entre os povos, quando os nomes de seus mais amados escritores vierem
juntar-se aos nomes mais obscuros e menos conhecidos daqueles que se comprimem
em redor da bandeira da verdade!
Vede o que produziram os
trabalhos de alguns grupos isolados, na maioria entravados pela intriga e pela
má vontade, e imaginai a revolução que se operará, quando todos os membros da
grande família espírita se derem as mãos e declararem, fronte alta e o coração
firme, a sinceridade de sua fé e de sua crença na realidade do ensinamento dos
Espíritos.
As massas gostam do
progresso, buscam-no, mas o temem. O desconhecido inspira um secreto temor aos
filhos ignorantes de uma sociedade embalada pelos preconceitos, que ensaia os
primeiros passos na via da realidade e do progresso moral. As grandes palavras
liberdade, progresso, amor, caridade ferem o povo sem comovê-lo; muitas vezes
ele prefere seu estado presente e medíocre a um futuro melhor, mas
desconhecido.
A razão desse temor do futuro
está na ignorância do sentimento moral num grande número, e do sentimento
inteligente nos outros. Mas não é certo, como disseram vários filósofos
célebres, que uma concepção falsa da origem das coisas tenha feito errar, como
eu mesmo o disse, ─ por que coraria de dizê-lo? Não pude enganar-me? ─ não é
certo, dizia eu, que a Humanidade seja má por essência. Não, aperfeiçoando a
sua inteligência, ela não dará um impulso maior às suas más qualidades. Afastai
de vós esses pensamentos desesperadores que repousam num falso conhecimento do
espírito humano.
A Humanidade não é má por
natureza, mas é ignorante, e por isso mesmo mais apta a se deixar governar por
suas paixões. Ela é progressiva e deve progredir para atingir os seus destinos;
esclarecei-a; mostrai-lhe seus inimigos ocultos na sombra; desenvolvei sua
essência moral, que nela é inata, e apenas entorpecida sob a influência dos
maus instintos, e reanimareis a centelha da eterna verdade, da eterna presciência
do infinito, do belo o do bom, que residem para sempre no coração do homem,
mesmo do mais perverso.
Filhos de uma doutrina nova,
reuni as vossas forças! Que o sopro divino e o socorro dos bons Espíritos vos
sustentem, e fareis grandes coisas. Tereis a glória de haver posto as bases dos
princípios imperecíveis cujos frutos vossos descendentes colherão.
MONTAIGNE (Paris, 1865)
Revista Espírita 1868 »
Fevereiro » Instruções dos Espíritos
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