Era uma vez um menino de nome
Severino. Severino ou Biuzinho, como era comumente chamado, era um pobre das
periferias. Vivia no seu barraco com os pais e mais dois irmãos. Severino nada
tinha de posses. A roupa mirrada servia para tudo. Escola não ia porque
faltava-lhe tudo para viver dignamente entre seus iguais.
Um dia Severino teve uma
ideia: seria engraxate. Seu ofício haveria de ajudar a alimentar a si e a sua
família, afinal, os trocados que ganharia não haveria de deixar-lhe passar
fome, nem a si nem aos seus.
Conseguiu, às duras penas, um
caixote emprestado de um amigo. Um dia, prometeu, haveria de pagar pelo
empréstimo, quando pudesse. Conseguiu com um vendedor de pipas uns artefatos de
trabalho. A graxa pediu, pediu mesmo, para um comerciante do bairro dizendo dos
seus propósitos.
E foi Severino para o meio da
cidade a se colocar à disposição dos sessentões e outros mais a dar um grau nos
seus sapatos surrados. O engraçado disso tudo é que Severino lustrava os
sapatos dos outros e ele mesmo não tinha o que calçar. Que vergonha sentia, mas
era o jeito.
Um dia, um dos fregueses,
notando a ausência de botas em Severino, perguntou qual era o número que ele
calçava. Severino enrubesceu. Teria uns sapatos, mas como responder àquela
pergunta se ele jamais soubera o quanto significava o numeral de seus pés.
“Chutou” um número qualquer para não passar mais vergonha. Dia seguinte, o
sapato estava nos seus pés. Agradeceu e encheu-se de alegria. Seu primeiro
pisante, enfim. Não cabia em si. E olha que nem era tempo de natal.
Pois bem, Severino cresceu.
Com muita luta, ajudou os pais inicialmente no sustento da casa. Começou a
estudar e fez até a quarta série primária. Com muito esforço e trabalho,
Severino ganhou a oportunidade de um emprego em uma loja de calçados. Vejam
como são as coisas. Vendedor astuto, Severino se tornou rapidamente o melhor
vendedor da loja. Dali, foi um pulo para se tornar gerente. Sua loja primou
pelos resultados e logo era a melhor loja da rede. Um belo dia, o proprietário
da rede de calçados lhe conferiu o título de gerente geral da rede. Estava velho
e os filhos não queriam tocar o negócio. Foi de vento em popa e assumiu a
grande responsabilidade da sua vida.
Pois bem, já feito na vida,
casado, pais de filhos, vida bem melhor, eis que certo dia Severino passa pela
rua e vê um fracote a lustrar sapatos dos outros. Pronto. Aquela imagem fez
Severino voltar no tempo e encontrar as suas origens. Daquele dia em diante,
Severino tomou uma decisão: toda vez que encontrasse um menino naquela condição
iria acolhê-lo, dar um estudo, ajudar a família e uma oportunidade de aprendiz
nas sapatarias da rede, criou até um programa social especial para esta
finalidade.
O que aprender com o exemplo
de Severino?
Severino é cada um de nós, de
um jeito ou de outro. Todos passamos dificuldades na vida, elas são inerentes
ao viver, mas a maneira como as enfrentamos é fundamental. O bom pensamento, o
trabalho reto, a perseverança e a fé em Deus são fundamentais para reverter a
situação.
Severino em dado instante
utilizou dos préstimos dos outros e a maneira de agradecer, lá na frente, foi
retribuir tudo com trabalho para novos iniciantes na profissão. Foi solidário,
foi grato, foi justo.
Este é o preço que
naturalmente se paga, sem que ninguém nos cobre, que devemos fazer nas nossas
vidas, retribuir incessantemente aos outros tudo aquilo que aprendemos ou
temos, porque o mundo melhor gira dessa maneira, na reciprocidade do bem. Hoje,
alguém dá e outro recebe. Amanhã, aquele que recebeu doa, aí então o ciclo
virtuoso do bem se estabelece.
É assim que Nosso Senhor
Jesus Cristo deseja que façamos, retribuir sempre com o bem para o bem
prosperar, esta é a incessante cadeia da virtude.
Neste natal de Jesus, faça
apenas o bem quando esta oportunidade bater à sua porta. Mais ainda, se puder,
vá ao encontro de um irmão aflito, sem ânimo, na desesperança. Faça, então, o
papel de Jesus, o mesmo papel que Severino fez com a espontaneidade que deve
ser e sem esperar qualquer coisa em troca.
Seja o natal de Jesus todos
os dias do ano para que esta data seja apenas a celebração do bem entre irmãos.
Que Deus nos abençoe!
Helder Camara – Blog Novas
Utopias
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