Estávamos em imenso Posto de Assistência e
Orientação, nos arredores da Crosta Planetária, compartilhávamos das atividades
que durante a tarde ali se realizavam.
Considerável número de almas recém
desencarnadas reunia-se em amplo salão, recebendo instruções necessárias ante a
nova realidade.
Em espaço contíguo, Espíritos que haviam
chegado de regiões mais baixas, ouviam semelhante explanação, com questões
adequadas ao progresso alcançado por cada um.
Após os benefícios da oração de louvor e
agradecimento, aproximamo-nos de pequeno grupo. Calvino, instrutor que há muito
se fazia credor da minha fraternal admiração, despertou minha atenção para interessante
fenómeno.
Senhora de avançada idade, que se havia
desligado do corpo físico há alguns anos, apoiava-se no ombro de respeitável
entidade, conhecida pelo nome de Manoel Sobreira.
Calvino, observando meu peculiar interesse
pelos estudos, olhou-me diretamente e disse:
- André, esta é nossa irmã Carmelita.
Despediu-se das experiências terrenas faz poucos anos. Sua mais recente
passagem pela Crosta representou longo período de torturas íntimas. Seus
últimos meses foram cravados de angústia e dor, mas, recebendo carinhosa
assistência dos familiares esclarecidos, pôde, com relativa dignidade, anular
sombras de um passado delituoso.
Hoje - prosseguiu o emissário bondoso -
nossa Carmelita, de coração suavizado pelos sentimentos de resignação e
paciência que tem aprendido a nutrir, demonstra visíveis pendores para o
trabalho renovador.
Num gesto de quem parece escutar voz
longínqua, Manoel Sobreira convidou-nos a acompanhá-los até a extensa sacada do
edifício.
O céu era: azul e melancólico. O
cronómetro em Brasília estava assinalando 18 horas.
Olhávamos o espaço vestido de saudade e
esperança e, nossos corações, atentos para o que deveria acontecer, guardavam
serena expectação.
Subitamente, Manoel fitou Carmelita e
disse:
- Filha, procura dilatar a sensibilidade e
pensa em Deus.
A tutelada, obedientemente, estendeu a
visão para baixo, tentando talvez distinguir alguma imagem.
Nesse instante vimos a mulher abrir os
braços, num gesto místico, e de seus olhos rolarem grossas lágrimas.
A circunstância traduzia perplexidade e
encantamento.
Manoel Sobreira, percebendo meu estado
d'alma, esclareceu:
- Prezado amigo, nossa irmã vive momento
realmente sublime. Suas lágrimas não representam saudades ou mágoas, e sim,
felicidade.
Neste exato momento - continuou afável e
atencioso - alguém que foi sua filha na última encarnação, acha-se em prece.
Apesar da relativa distância, vejo-a ao ar livre, elevando aos céus profunda
oração em favor de sua mãezinha.
Após alguns instantes de silêncio, saímos,
e Calvino aproveitou para dissipar as dúvidas que guardava comigo.
- Compreendo sua preocupação, André. Em
verdade, o mistério acompanha-nos por muito tempo, nas diversas faixas da
existência. O conhecimento das leis que presidem aos nossos destinos é gradual,
conforme nossa depuração diante do Altíssimo.
E continuou:
- Tudo é onda. Fenómeno simples ou
complexo, gestos, palavras, pensamentos, em qualquer parte, movimentam-se em
ondas energéticas nem sempre detectáveis pela ciência do mundo.
A oração proferida por um coração sincero,
projeta-se no espaço, podendo produzir os mais extraordinários afeitos.
Concluiu:
- Dona Carmelita registrou na tecitura
subtil do seu perispírito as ondas salutares da prece, recobrando forças
iluminativas. Suas energias mais íntimas foram tonificadas em função de um
futuro em sendas redentoras.
A lição era altamente expressiva. E antes
de retomarmos atividades diversas, agradecemos a Jesus as dádivas daquela
tarde.
Livro: NOVAS LUZES - Ariston
S. Teles - André Luiz e Hilário Silva
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