27.11.16

Cuidar-se

A patroa pede ao menino, seu criado, que lhe faça um cafuné nas costas. Está cansada, um dia dolorido, muitas preocupações e nada como um momento de relaxamento.
Após o carinho do pequeno, eis que lhe dá a vontade de dormir. Sonhos chegam a sua mente. Onde estaria naquele lugar? O que se passa com ela? Não conhece quem quer que seja por ali.
No sonho se vê em pé olhando para um espelho. Se enxerga naquela imagem, mas descobre que há algo de diferente nela. Suas feições são as mesmas, mas muita coisa ao seu redor parece diferente. Não sabe explicar bem, mas aquela era ela de uma forma jamais vista.
Ela se viu por completa naquele espelho. Ele refletia tão somente as projeções de sua alma, algo que não conseguira ver pelos olhos físicos. 
Uma aura distorcida, meio embranquecida, um tanto pegajosa, não era agradável ver aquilo. De outro modo, partes de seu corpo mostravam-se igualmente escurecidas, como a lhe dizer: “cuide de mim, cuide de mim”.
Ela de pronto se recorda de muitos fatos da vida. Alguns, proveitosos. Outros, mais distantes, menos agradáveis. Um nó na garganta e uma dor no coração lhe aprisionaram àquelas imagens.
Dor é o que sentia. Dor na alma e parecia que doía mais que as dores físicas. Tinha consciência, naquele momento, que não estava se vendo num espelho real, ou melhor, num espelho material. Era como se visse translucidamente, transparentemente, um auto reconhecimento. 
Chorou. Chorou copiosamente no sonho. O que estava fazendo com a sua vida? O que estava lhe atormentando tanto que ela não percebia? Ou pelo menos não queria perceber?
De pronto, retorna ao corpo. Descobre-se molhada de suor. Um leve trêmito e uma angústia no coração. Teria aquele sonho sido um aviso? Pusera-se a pensar.
No dia seguinte, após recuperada do impacto inicial daquele sonho revelador, Maria Alice tomou uma decisão, segundo ela a decisão da sua vida: não iria mais se preocupar tanto com a vida dos outros, bastava a dela, que já tinha muito para observar. Ela iria cuidar dela mesma a partir daquele momento. Não achou isto um golpe de egoísmo, tratava-se de dar um tempo maior a si mesma, a sua vida que escoava de suas mãos todos os dias.
Cuidar de si mesma, eis a decisão magnânima de Maria Alice. E você, cuida carinhosamente da sua vida?
Meus pais, em vida física, sempre depositaram muita confiança em mim. Diziam que eu era um menino próspero, inteligente, que saberia me arrumar na vida. Acreditei nisso e durante muito tempo investi em mim. Hoje, aqui no lugar dos espíritos, continuo a investir o meu tempo nos bens mais preciosos que posso ter: a minha formação moral.
Todos os dias aprendo um pouco mais. Exerço sobre mim o cuidado de aprender nos mínimos detalhes, nas oportunidades que a vida me dá. Por isso, sou imensamente feliz e grato. Feliz por ter estas oportunidades à mão e grato por tudo que o Deus Pai nos concede gratuitamente.
Se você ainda não despertou para cuidar carinhosamente de você, pare um pouco e reflita sobre isso. Não prego aqui o abandono da solidariedade, o que trato nestas linhas é que se não dermos atenção primeiramente a nós mesmos estaremos condenados a sermos infelizes, porque até para fazer o outro melhor, nós necessitamos estar melhores.
Cuide-se, cuide-se com carinho e a vida também haverá de lhe tratar da mesma maneira.
Um abraço,

Joaquim Nabuco – Blog Reflexões de um Imortal.

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