A
história da vida ocidental é escrita de diversas maneiras. Cada uma reflete o
ponto de vista do seu autor. Uns enunciam o que cada um deles quer que os
outros acreditem. Desejam que a sua versão seja considerada na posteridade como
a verdade inconteste dos fatos. Graças a Deus que a pluralidade das ideias
imperantes no mundo hoje permite que tenhamos uma visão mais abrangente da
realidade nos seus diversos matizes.
Uma
história que será muito ainda contada, por um longo período, será a de senhores
monarcas, sobretudo nos séculos 18 e 19, que aproveitaram as ideias
iluministas, vindas principalmente da França, para tocar os seus impérios sob a
sua inspiração, os ditos déspotas esclarecidos.
Na
verdade, tais senhores e senhoras estavam sob o domínio das influências
iluministas em suas próprias almas. A espiritualidade necessitava do contágio
daquelas ideias no berço da Europa para disseminar para outros povos aquela
experiência governativa e de direção política. Os iluminados monarcas eram tão
somente espíritos que se afinavam, mesmo antes de nascer, com estes princípios,
e reencarnaram no seio de famílias que possibilitassem mais tarde abraçá-los.
Foi assim que aconteceu.
Como
se vê, não há improviso na história da humanidade. Tudo ocorre mediante prévio
planejamento, mesmo que os resultados, às vezes, durem alguns séculos para se
estabelecerem no status quo.
A
verdade, queiram ou não os materialistas de plantão, é que há um perfeito
“conluio” de ideias e interesses entre os dois planos da vida. Um reflete
aquilo que o outro pensa e planeja. Quando os planos são de alguma forma
distorcidos, eles agem em busca do restabelecimento da ordem desejada.
Conto
tudo isso para justificar algumas ações que estão em curso no nosso imenso
País.
As
forças que atuam na política brasileira há algumas décadas, depois da ditadura
militar, tiveram a oportunidade de implantar no Brasil uma nova forma de vida
institucional. A Assembleia Nacional Constituinte foi o grande fórum de debates
deste novo País que deveria se construir. Muito foi aproveitado naquela ocasião
de sugestões para a edificação de um Brasil diferente. E a vida do povo, em
muitos aspectos, evoluiu grandemente de lá para cá. Outros pontos, no entanto,
não saíram do papel e amargamos hoje os frutos de uma mudança interrompida ou
mal feita.
A
grande mudança, porém, que se vislumbrava para aquela nova constituição, é que
o povo pudesse se sentir soberano nas suas decisões. Uma série de normas foi
induzida por nós para que pudéssemos exercitar, de fato, uma democracia mais
que representativa, mas aos auspícios das lutas populares, cunhássemos uma
democracia deliberativa ou participativa. Mecanismos para isso não faltaram em
diversos segmentos.
Ocorre
que ficamos a mercê do grande poder decisório. Uma parte dos constituintes
vislumbrava a implantação de uma república parlamentarista. Outra, a que ganhou
força e se estabeleceu, mantinha a tradição recente do presidencialismo. E isto,
meus senhores, tem profundo reflexo nos dias de hoje.
Ora,
o mal dos soberanos, desde então, era trazer para si a chave e solução dos
problemas nacionais. Todos queriam, de certa forma, sentirem-se reis, déspotas
esclarecidos, em
certa ordem. Pura fachada, porém. Alguns, é claro, tentaram
exercer este papel predominantemente, outros, no entanto, desejavam mais era a
sua perpetuação no poder central.
As
consequências desta ordem de coisas foram gradualmente a construção de um
chamado presidencialismo de colisão, em contraponto ao que desejava muitos do
lado de cá da vida, que era um parlamentarismo de inclusão.
Explico
melhor.
Nossa
ideia, de um grupo de pensadores e políticos brasileiros “mortos”, é que
pudéssemos desenvolver uma política mais sadia e menos contaminada com os
interesses individuais. A melhoria gradual da qualidade do parlamento,
pensávamos, poderia promover uma nata de políticos responsáveis e comprometidos
com o engrandecimento do Estado brasileiro. Tínhamos consciência dos erros que
seriam cometidos, mas planejávamos que eles seriam pouco a pouco corrigidos e,
no longo prazo, teríamos a sorte de possuir um colegiado de gestores
competentes como se desenvolveu no seio da Europa nos dias atuais.
A
ideia de inclusão se dá porque os políticos iriam se adaptar às novas
exigências e começariam a traçar um projeto de País em longo prazo, onde seriam
incluídos aos poucos os novos integrantes para que um dia pudesse predominar
diante dos aproveitadores de plantão. Era a nossa estratégia, a nossa maneira
de pensar o País visando um futuro melhor.
Em
contrapartida, ao adotarmos o presidencialismo de coalização fizemos um
processo distorcido e que fatalmente teria os seus dias contados, como de fato
o vemos hoje. Os tais aproveitadores dos bens públicos fizeram neste tempo todo
a festa de seus próprios bolsos e, infelizmente, culminou com o estabelecimento
de uma gangue – desculpe o termo – que arregimentou boa parte das riquezas
brasileiras. E não pensem que me expresso apenas de uma determinada facção
política, não é isso. O que adianto é que a maioria dos políticos continuaram,
como nos tempos áureos do império, a achar que o Estado era o quintal de suas
casas e que servia apenas para se locupletarem. Este foi o triste final que
ainda presenciamos.
Uma
nova ordem de coisas está em ebulição. Não há ainda, do lado de cá, uma
plataforma idealizada, pelo que sei, mas existem diretrizes que estão sendo, há
algum tempo, postas em prática.
A
primeira delas é a moralização da política. Seja qual for o governo ou facção,
ele terá que governar sob o império da honestidade, da transparência, do zelo
com o dinheiro público, com a responsabilidade social e econômica nas suas
decisões.
Em
segundo lugar, a ascensão paulatina de políticos sérios e comprometidos com o
bem geral do País. Serão políticos de todos os partidos e tendências
ideológicas. Abominarão esta dicotomia falida de direita e esquerda e abraçarão
compromissos acima destas tendências ultrapassadas.
Num
outro prisma de ação política estratégica para o nosso País temos a
determinação de prioridades inegociáveis. Todos se juntarão num projeto único
de Brasil na sua coluna central, cujas variações serão respeitadas, mas o
centro do que se vai fazer ficará bastante claro, independentemente de quem
esteja à frente do poder executivo.
Há
outras diretrizes em aprovação e direcionamento para a vida prática dos
brasileiros. Nosso destino, cremos nós, não é de estarmos a reboque das grandes
transformações que o mundo exige, mas que sejamos, pelas nossas ações,
protagonistas de uma nova era.
Junto-me
a políticos como Miguel Arraes de Alencar, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães,
Darcy Ribeiro, Plínio de Arruda Sampaio, Leonel Brizola, Dom Pedro II, João
Mangabeira, Juscelino Kubitschek e tantos outros que formam como que um
parlamento brasileiro à margem do que aí existe. Pode parecer loucura para
alguns, mas somente aqueles que não possuíam a política como ofício de vida é
que deixam de se preocupar com os destinos da nossa nação depois de falecido.
Continuamos
a ser os mesmos brasileiros. Sonhadores, comprometidos com uma nação melhor,
com um povo feliz e respeitado nos seus direitos fundamentais. Sabemos, porém,
que isto não ocorre sem luta, mas com destemor e coragem de mudar.
Por
que você não se alia a esta grande frente de reconstrução nacional?
O
nosso País é de todos e precisa da sua inteligência e trabalho para ser um bom
lugar para se viver.
Joaquim
Nabuco – Blog Reflexões de um Imortal
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