24.6.16

Imaginem num baile funk...

(...)
Penetramos o recinto, servido de amplas janelas e abundantemente iluminado.
O ambiente sufocava. Desagradáveis emanações faziam cada vez mais espessas, à maneira que avançávamos.
No salão principal do edifício, onde abundavam extravagantes adornos, algumas dezenas de pares dançavam, tendo as mentes absorvidas nas baixas vibrações que a atmosfera vigorosamente insuflava.
Indefinível e dilacerante impressão dominou-me o ser. Não provinha da estranheza que a indiferença dos cavalheiros e a leviandade das mulheres me provocavam; o que me enchia de assombro era o quadro que eles não viam. A multidão de entidades conturbadas e viciosas que aí se movia era enorme. Os dançarinos não bailavam sós, mas, inconscientemente, correspondiam, no ritmo açodado da música inferior, a ridículos gestos dos companheiros irresponsáveis que lhes eram invisíveis. Atitudes simiescas surdiam aqui e ali, e, de quando em quando, gritos histéricos feriam o ar.
Calderaro não se deteve, Mostrava-se habituado à cena; mas, não conseguindo sofrear a estupefação que se assenhoreara de mim, solicitei-lhe uma intermitência, perguntando:
- Meu amigo, que vemos? Criaturas alegres cercadas de seres tão inconscientes e perversos? Pois será crime dançar? Buscar alegria constituirá falta grave?
O orientador escutou pacientemente as indagações ingênuas que me escapavam dos lábios, ditadas pelo espanto que me assomara repentinamente, e esclareceu:
_Que perguntas, André? O ato de dançar pode ser tão santificado como o ato de orar, pois a alegria legítima é sublime herança de Deus. Aqui, porém, o quadro é diverso. O bailado e o prazer nesta casa significam declarado retorno aos estados primitivos do ser, com iniludíveis agravantes de viciação dos sentidos. Observamos, neste recinto, homens e mulheres dotados de alto raciocínio, mas assumindo atitudes de que muitos símios talvez se pejassem. Todavia, esteja longe de nós qualquer recriminação: lastimemo-los simplesmente. São trânsfugas sociais, rebeldes à disciplina instituída pelos Desígnios Superiores para os seus trilhos terrestres. Muitos deles são profundamente infelizes, precisando de nossa ajuda e compaixão. Procuram afogar no vinho ou nos prazeres certas noções de responsabilidade que não logram esquecer. Fracos perante a luta, mas dignos de piedade pelos remorsos e atribulações que os devoram, merecem ser amparados fraternalmente.
E, passando os olhos de relance pela multidão de espíritos perturbadores que ali se davam ao vampirismo e ao sarcasmo, obtemperou:
- Quanto a estes infortunados, que fazer se não recomendá-los ao Divino Poder? Tentam igualmente a fuga impossível de si mesmos. Alucinados, apenas adiam o terrível minuto de auto-reconhecimento, que chega sempre, quando menos esperam, através dos mil processos da dor, esgotados os recursos do amor divino, que o Supremo Pai nos oferece a todos. A mente deles também está apegada aos instintos primitivos, e, frágeis e hesitantes, receiam a responsabilidade do trabalho da regeneração.(...)

Trecho do livro: ”No Mundo Maior” – Francisco C. Xavier – Emmanuel - Todos os livros espíritas como este, vendidos em nossa loja, terão o lucro repassado à Casa Espírita de Oração Amor e Luz de Limeira.

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