17.4.16

Pobreza Moral

A aposta democrática é ferrenha defensora dos direitos e das liberdades. A democracia sem estes dois pressupostos pode ser tudo, mas não é democracia. É, quando muito, um simulacro dela.
Ao longo do tempo, os homens, na maioria das nações, têm buscado encontrar uma forma melhor de governá-los e, infelizmente, ainda não encontrou. É o que temos, então façamos o melhor proveito.
A luta democrática se confunde coma a defesa da liberdade e do estado de direito, portanto. Os homens descobriram, em dado momento da história, que necessitavam criar regras para se auto-governarem. A obediência às regras, à ordem, passou a ser o atestado dos homens livres e respeitadores do direito.
É claro que o homem ainda sendo imperfeito na sua compleição moral leva inevitavelmente o traço da impureza para onde quer que vá e, no exercício democrático, traz o gérmen de inúmeros pecados, entre tantos a marca da corrupção.
O estado de direito reclama a posse da verdade e o cuidado com as normas constitucionais todas as vezes que tais regras são, de alguma maneira, usurpadas. A democracia é, neste sentido, a atenção à liberdade de escolha e à obediência às normas. Feri-las é, em primeira análise, ferir de morte a própria democracia.
Estes arranjos que se fazem de democracia em muitas partes do mundo é para que se ostente com um mínimo de civilidade entre outras nações, mas, muitos homens, se pudessem, se revelariam déspotas, verdadeiros tiranos, donos do poder.
No Brasil isto não é diferente. Os homens, poucos homens, ostentam o caráter democrático como regra real de sua conduta. Na verdade, usam o discurso democrático para se instalar no poder e de lá nunca mais sair. E, neste caso em particular, não me limito a configurar uma escola política específica, mas ouso dizer que são todas elas.
A prova disto é que ao longo de sua história republicana os casos de exceção democrática são quase mais superiores do que da vivência democrática plena. A instabilidade fez parte da história democrática brasileira e, parece-me, ainda faz.
O que se passa com nosso País é uma crise de identidade. O fato de ser grande territorialmente faz com que haja interesses mil em jogo. É difícil uni-lo numa só causa. Este foi o grito que dei nos meus tempos de político e aí a razão de ter defendido, à época, uma monarquia federativa. Um monarca que uniria o País, mas que respeitasse a autonomia dos estados federados.
Hoje, há um centralismo político excessivo. Os estados em sua maioria falidos, pois mal administrados, um governo federal que oprime a base estadual e municipal. No afã de guardar privilégios e seu espaço de poder tudo traz para perto de si. Distribui o ônus e fica com o bônus.
Quando, porém, vê-se que o estado central está falido, todo o tecido político brasileiro vai atrás. Centralidade burra, na verdade. Hoje, na falência econômica e gerencial que nos defrontamos, o colapso passa a ser geral.
O que se passa, entre outros males, é o mal original de achar que o que é público é seu. Não é. Você faz parte dele, mas não é só seu. A democracia se faz no embate das ideias para se procurar um equilíbrio. Ocorre, porém, que quando se instala no poder um déspota com ar de bom menino tudo passa a ser feito através da manipulação política. É uma farsa governista. Capitula-se para se manter no comando da nação. É uma tendência natural dos homens imperfeitos.
Podemos mudar este quadro de diversas maneiras. A moralidade pública vem se instalando pouco a pouco no Brasil, mas os especuladores da coisa pública sempre encontram um jeito para tirar o seu pedaço no quinhão de todos.
Isto se chama pobreza moral.
O fundo de tudo é isso é na ordem dos valores. Homens civilizados fazem governos civilizados. Homens corruptos fazem governos corruptos.
Repito que isto que vos escrevo é mal generalizado do estado brasileiro, em todas as suas esferas de poder, apenas, agora, se investiga o poder central.
Diante do impasse institucional que vivemos é preciso ter paciência para ver cada coisa ficar no seu lugar. O governo que aí está, é natural, não vai abrir mão de seus privilégios e lutará até onde puder para mantê-los.
O sofrimento popular poderia ser o grande motivo para mudanças das regras democráticas, mas não enquanto as regras do jogo atual ainda estejam em vigor.
Quem sabe um regime parlamentarista pudesse apaziguar ânimos? Logicamente para o ponto futuro, não para agora. Tentaria se desmitificar os males do parlamento e se mostraria, por outro lado, que não há salvadores da pátria, há, na verdade, são compromissos e regras que devem ser cumpridos.
As soluções não acontecerão num estalar de dedos. Haverá luta, sofrimento, desentendimento, mas, num segundo momento, convergência, acordos, diligência.
Que os homens aprendam com seus erros e acertos.
Que sejamos maduros em suplantarmos as deficiências presentes.
Que possamos, mais tarde, nos orgulharmos das decisões tomadas, porque respeitamos a democracia e a vontade popular.


Joaquim Nabuco - Blog Reflexões de um Imortal

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