Uma leitura mais atenta do
livro “Nosso Lar”, por sinal, uma obra revolucionária sob todos os aspectos, em
nossos arraiais doutrinários, poderá modificar, substancialmente, a nossa visão
sobre a Vida no Mundo Espiritual.
No capítulo 9, intitulado
“Problema de Alimentação”, as revelações são, então, surpreendentes, de deixar
basbaque aquele que ainda não conseguiu libertar-se do dogmatismo que a
religião, de maneira geral, há séculos impõe à
Humanidade.
Em precioso diálogo com
Lísias, André Luiz fica sabendo que, por exemplo, segundo os anais da cidade, há
um século, ela “lutava com extremas dificuldades para adaptar os habitantes às
leis da simplicidade”, porque “muitos chegados ao ‘Nosso Lar’ duplicavam
exigências”, evidenciando, pois, a sua condição meramente
humana.
Acrescenta Lísias que, os
recém-chegados, “queriam mesas lautas, bebidas excitantes, dilatando velhos
vícios terrenos”, com certeza, sem maior consciência de sua própria condição de
desencarnados, que, por suas exigências, não possuíam qualquer pensamento de
ordem mais solidária, que envolvesse a carência do
próximo.
Destaca o amigo de André –
pasmemos! –, “que apenas o Ministério da União Divina ficou imune de tais
abusos” (de tais corrupções, que chegavam, inclusive, a envolver tráfico de
alimentos, ou, mais especificamente, de carne).
Uma situação que,
convenha-se, é muito parecida com a situação política vivenciada na atualidade
brasileira, que não se sabe de um único Ministério que não esteja envolvido em
questões de propina, sob o beneplácito do Governo.
Mas a questão política de
“Nosso Lar”, cidade fundada por distintos portugueses, desencarnados no Brasil
no século XVI, não para aí.
O novo Governador, que
assumira o lugar do anterior – que não se sabe se renunciou ou recebeu o
impeachment –, com o intuito de preservar a ordem, solicitou intervenção
externa: “... a pedido da Governadoria, vieram duzentos instrutores de uma
esfera muito elevada, e a fim de espalharam novos conhecimentos, relativos à
ciência da respiração e da absorção de princípios vitais da
atmosfera.”
Ainda tem mais: “Algumas
entidades eminentes (falsos intelectuais) chegaram a formular protestos de
caráter público” – ou seja, foram para a Avenida Paulista de “Nosso Lar”,
promovendo passeatas, com bandeiras desfraldadas certamente, reclamando das
novas medidas implementadas pelo Governador, que tentava evitar com que a cidade
caísse, de vez, sob o domínio das trevas.
A situação, então, segundo
Lísias, chegou a tal ponto, que o Governador, ipsis literis, “determinou
funcionassem todos os calabouços da Regeneração, para isolamento dos
recalcitrantes”, sendo que, em outras palavras, mandou para cadeia os que
estavam acostumados a usufruir das facilidades de um Governo que se
corrompera.
Bom que se frise, uma vez
mais, que estamos nos referindo ao que é descrito por André Luiz, em “Nosso
Lar”, e, os inconformados com semelhante realidade, são livres para protocolarem
em qualquer tribunal de justiça os seus pedidos de liminar, que, naturalmente,
envolverão o autor espiritual da Obra e o seu médium Chico
Xavier.
Claro, não houve conflito
armado na cidade espiritual, não obstante, ainda segundo André Luiz, o
Governador, com a finalidade de preservar a ordem pública, recorreu às Forças
Armadas “e pela primeira vez na sua administração, mandou ligar as baterias
elétricas da cidade, para emissão de dardos magnéticos a serviço da defesa
comum.”
Acrescenta Lísias em sua
narrativa, que “a colônia ficou, então, sabendo o que vem a ser a indignação do
espírito manso e justo”, que, talvez, tenha se inspirado na atitude do Cristo
quando, munido de uma vergasta, expulsou os vendilhões do Palácio (ops), do
Templo.
Num parágrafo anterior, do
referido capítulo, a fim de não ficarmos devendo citações aos nossos atentos
leitores, Lísias disse a André Luiz que, no Ministério da Regeneração, grande
número de colaboradores – gente do terceiro e do quarto e do quinto e, quiçá, do
sexto escalão – “entretinha certa intercâmbio clandestino em virtude dos vícios
de alimentação.”
Igualmente, não queremos
polemizar. Apenas desejamos deixar registrado que o ser humano, na Terra ou no
Mais Além, enquanto não logra transcender-se em sua humanidade, é sempre o mesmo
na defesa de seus mesquinhos interesses, apoiando-se em inúmeros sofismas para
que prossiga defendendo a sua cômoda posição em detrimento dos interesses da
coletividade.
INÁCIO
FERREIRA
Uberaba – MG, 3 de abril de
2016.
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