Por que trago tanta indignação?
Por que brado com tanto temor?
Por que me expresso com tamanha avidez?
Não podemos mais acobertar nas entranhas da
Pátria o roubo eloquente da nossa dignidade.
Até quando teremos que suportar tanta
desfaçatez como se fosse normal alguém roubar o Estado e ficar por isso mesmo?
Ou, pior, achar que tudo que se faz contra o
Estado, solapando terrivelmente os seus bens e recursos, é algo muito natural?
A Nação se envergonha porque tudo não passa
de um jogo de cena que é feito para se manter no poder e se locupletar dele.
Não cito apenas o que aí está, é preciso
rever a república brasileira desde os seus primeiros dias. Bem mais. Precisamos
rever toda a nossa história e encontrar lá as raízes de tamanho despautério que
se arregimentou em nosso País.
Será que não há outro objetivo que não seja
o de roubar os cofres do Estado? De tentar a todo custo tirar proveito do
recurso público?
O País tem que mudar, mas para que isso
aconteça é importante, imprescindível, que se mude a cabeça da nossa gente. Os
políticos representam, tão somente, o reflexo do voto popular. Não aparecem
políticos representantes do povo saindo do chão, mas do voto, então é
necessário escolher melhor – bem melhor.
Não se pode deixar se levar por promessas
sem fundamento.
Não se pode trocar o voto por um prato de
comida ou outra ajuda qualquer.
Não se pode mentir para o povo e ficar
impunemente.
Não prego a rebeldia inconsequente, prego,
sim, a mudança de consciência e uma ativa posição de melhoria do status quo. O
povo tem que mudar a sua maneira de ser e começa pelo voto, o voto responsável
e sério.
Depois, quando a crise se instala, e não me
refiro apenas ao contexto atual, é que se reflete sobre o mal que fez. Tudo
bem, há aprendizado, mas ele tem que ser verdadeiro e se traduza em ações
concretas de mudança.
Não se pode mais admitir que a corrupção
seja tratada neste País como um crime qualquer. Nada disso. O crime da
corrupção se agiganta cada vez mais. Faz parte, infelizmente, da nossa cultura
política, é tolerável para muitos se não for exorbitante. Isto não mais. É
necessário ter uma pena máxima no Código Penal brasileiro a quem for pego em
corrupção contra o Estado, em todos os seus níveis.
Talvez com o perigo da pena máxima, 30 ou 35
anos de reclusão sem direito a flexibilidade, possam os agentes do roubo ao
Estado pensarem duas vezes antes de se locupletarem das comissões por debaixo
do pano.
Quando se tira um centavo que seja do bolso
do povo, lesa-se toda uma nação. Prejudica-se toda uma cadeia de benefícios
públicos. Elege-se, portanto, o prejuízo
de toda uma gente.
Esta semana, o povo foi novamente vai as
ruas. O que se pede, ou deveria se pedir, não é apenas uma solução contra os
desmandos comprovados do atual governo, isto é pouco. O que está em jogo é o
futuro da nação brasileira, uma nação constantemente subtraída de seus direitos
fundamentais.
Expressar-se contra ou favor deste ou
daquele governo faz parte do embate democrático, mas há valores aos quais todos
devem se curvar. A honestidade não deve ser uma exceção nas coisas de governo e
de Estado, mas uma obrigação. Feri-la, minimamente que seja, deve ser
severamente punida.
Necessitamos criar leis mais rigorosas que
provoquem medo para aqueles que possuem o terrível vício de lesar os recursos
públicos.
Quando criarmos tais leis, quando
verificarmos a sua aplicação real, quando percebermos que tudo não é uma
falácia, aí então, neste dia, tudo mudará.
Os recursos públicos serão mais bem
aplicados.
Os serviços públicos serão mais bem
administrados.
Os bens públicos serão mais bem preservados.
O público, o povo em geral, a nação, será,
finalmente, respeitada.
Joaquim Nabuco
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