30.8.15

A Verdade
O que esperar da verdade? 
Será que ela vai aparecer assim, irradiante e fiel, ou teremos nós que conquistá-la passo a passo?
Penso que a verdade é conquista permanente e infinita, não há tempo determinado para adquiri-la. Podemos, é certo, acessá-la cada vez mais e aí conseguirmos avançar no progresso individual e coletivo.
Mas o que é a verdade para uns hoje não representa para outros. É como se a luz que alumia um não iluminasse ao outro, pois ele não consegue percebê-la. Sua verdade, portanto, é outra, não bate com o seu dialogador.
E assim se passa mundo afora. As verdades se entrecruzam, se dilaceram, se rebatem, mas é desse jeito que ela floresce, no apertar dos raciocínios, no abafar das críticas, na elucidação dos conflitos.
A verdade maior existe, mas nós não a conseguimos abraçá-la ainda, então devemos nos contentar com aquela em cujas nossas mãos podemos apalpá-la.
Se divergimos com alguém, é provável que um dos dois esteja com a razão dos fatos. Ou nenhum deles. Ou teremos apenas uma visão parcial da realidade. Não podemos, contudo, é nos acomodar com a verdade que nos basta neste momento imaginando que outra não há.
O progresso humano somente se faz porque há homens inquietos, mentes borbulhantes, raciocínios fugazes. Se a humanidade manifestasse contentamento pelo que tem em suas mãos haveríamos, é bem provável, de estar um pouco além da época das cavernas.
Se possuímos hoje o ímpeto do progresso é porque o homem percebeu que à medida que pensa no mais além outras possibilidades lhe abrem as portas da mente.
É por essa razão que imaginar que todo o conhecimento até o momento se finda é saber bem pouco da realidade humana.
Somos incansáveis em querer mais e, por causa dessa atitude indômita, avançamos a patamares atuais e ninguém, por mais informação que possua, poderá imaginar qual será realmente o nosso real desiderato.
Nos círculos em que vivo, no mundo dos espíritos, tenho abraçado tantos conhecimentos que sequer passavam à minha mente quando entre vós. Nunca haveria de imaginar um mundo tão desconhecido e fascinante como este.
O mundo dos espíritos, os desprovidos de corpo físico, nos demonstra um estado de coisas que ainda precisamos desenvolver em nossas mentes e em nossos corações. São tantas as possibilidades, são imensos os segredos, são intangíveis os mistérios.
Quem pensa, tão somente, no mundo dos mortais da carne, é deverasmente tacanho e improvável que vá escutar as nossas vozes.
Os espíritos têm muito a dizer, mas se atêm ao que é possível dizer, até porque se disséssemos realmente o que vemos do lado de cá da vida seríamos absurdamente mal interpretados, se é que seríamos compreendidos pela maioria das gentes.
De certa forma isto é bom. O exercício da busca da verdade faz o homem sair da sua cadeira de conforto e adentrar a mares antes nunca navegados.
São tantos os conhecimentos a adquirir.
São tantos os mistérios a descobrir.
São tantos os esconderijos a encontrar a verdade.
Dia haverá em que os homens estarão mais avançados do que hoje e se embriagarão pela imensa corrente de ideias sobre o porvir da vida.
Enquanto isto não acontecer, contentemo-nos em dividir o que já alcançamos. Se fizermos isto haveremos de multiplicar o conhecimento da verdade possível e muitos sairão ganhando com isso.

Joaquim Nabuco

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