31.8.15

Não Sou Santo - IV

Aos irmãos de perto e de longe saúdo com a Paz e o Bem!
Sim, estou vivo e não gostaria que minha vivência terrena torne-se estanque no que se refere ao que fui e fiz. Certo é que deixei meus cargos e hoje tenho outras ocupações. Porém, não é o meu desejo que fiéis da Igreja Católica Apostólica Romana se ocupem ou preocupem em pensar ou provar se sou santo.
Santidade é algo que não se almeja. Lembrem da novela Roque Santeiro, que de santo não tinha nada. No final, o próprio sentia-se pequeno demais frente ao que acontecia ao redor. Ele era incapaz de frear as mentes acostumadas com os benefícios das graças do santo local.
Ora, não há monte santo, vale santo, rio santo, água santa, pedra santa, árvore santa, e por aí vai. Cidade santa? Que é isto? Agora, pensar: há homens justos nos locais em que vivem?
O Novo Testamento diz da bondade de Deus. O Antigo Testamento revela que o justo vive da fé. O Salmo reza que justiça e paz se abraçarão.
Apelo para os irmãos estudiosos que pensem no povo das regiões onde fui Bispo, Arcebispo. Como? Sou Pastor do jeito de Cristo. Não quero ser um mercenário. Não posso ser um doador de graças. Nem o Cristo pode. Vejam na passagem do Evangelho onde Jesus conta a parábola das Jovens imprevidentes. Queriam ir ao esposo e não tinham óleo suficiente em suas lâmpadas; cochilaram e ficaram com a porta na cara.
Sim! É uma justiça praticada pelo jovem que não cede frente aos apelos descabidos. Tanto é que algumas moças entraram porque estavam ligadas no momento presente e bem abastecidas para a cerimônia e vida que abraçariam no momento do chamado do seu senhor.
Assim também somos em vida na carne. Não há como ser previdente pelo outro. A chama a nós confiada cabe a cada um cuidar. Ao esposo compete chamar-nos e conduzir-nos daí por diante.
O que posso fazer é admoestar a cada um que pense e estude com cuidado os documentos do Concílio Vaticano II. Lembrando do Ecumenismo e Diálogo com as outras religiões e crenças.
A Liturgia já avançou muito. Não rezamos mais de costas para o povo e em latim. Voltamo-nos pra os irmãos e comunicamos a Boa Notícia na língua que o povo fala. O Altar é o ponto central duma assembléia reunida para a Eucaristia. Onde todos somos Um. Mas, há! Nas celebrações do Início do Terceiro Milênio de Nosso Senhor Jesus Cristo tivemos fatos curiosos em ano Jubilar como pedir a volta das indulgências e em contrapartida a ânsia de crescer à plena estatura do Cristo (Ef 4,13).
Minha gente! Pensar em mim como um Pai; vá lá.
Pensar em mim dum jeito solene? Fica meio confuso para a gente simples.
A gente ficava sem jeito quando alguém vinha beijar nossa mão. Ainda bem que já não temos o costume de beijar os anéis, nem tão pouco nos ajoelharmos frente a um soberano. Não são os gestos externos que nos diferenciam nem fazem de quem os pratica melhores ou piores. O que eu quero é que sigam fazendo o bem ao povo do Recife. Reúnam-se em Assembléia para lembrar dos personagens queridos da região, homens e mulheres de fé, independente do credo ou situação financeira. Falem de Cristo, conversem com Cristo. Discutam, debatendo soluções para problemas comuns.
Estejam abertos à novidade. Estarei com vocês na comunhão dos santos, ou seja, na reunião dos irmãos ao redor da mesa da partilha fraterna.

Paz e Luz!

Helder Camara

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