"A cada dia que vivo, mais
me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças
que não usamos, na prudência egoísta que nada
arrisca."
Carlos Drummond de
Andrade
O RAIO DE
LUZ
Todas as noites antes
de fazer os filhos adormecerem, um pai muito carinhoso conversava com eles,
enquanto afagava-lhes os cabelos anelados.
Diariamente escolhia um
assunto que encontrava no evangelho, ou em algum acontecimento do cotidiano.
Naquela noite sem luar,
quando as nuvens encobriam as estrelas, ele arranjou uma forma diferente de
chamar a atenção das crianças.
Colocou-as no sofá da
sala e disse-lhes que não se assustassem com a escuridão, porque apagaria todas
as luzes da casa, de propósito.
E assim o fez.
Deixou a casa às
escuras e sentou-se no meio dos filhos que o aguardavam apreensivos.
Perguntou-lhes o que
eles eram capazes de ver em meio àquele breu.
O menininho mais velho
comentou que conseguia distinguir os contornos da cadeira que estava a sua
frente, mas que não conseguia saber ao certo qual objeto produzia a sombra que
se apresentava um pouco mais adiante.
O pai, aproveitando a
oportunidade esclareceu: - "nossos olhos acostumam-se com a ausência de luz e
acabam conseguindo, com algum esforço, distinguir alguns objetos.
Porém, não é possível
notar tudo quando a luz nos falta.
Alguns contornos podem
enganar nossos sentidos.
Muitos detalhes passam
despercebidos.
As cores deixam de ser
perceptíveis.
A ausência de luz
dificulta nosso caminhar, porque não conseguimos notar com segurança para aonde
estamos indo."
Nesse momento, ele
acendeu uma vela que trazia consigo.
As crianças exultaram
diante da claridade que se fez na sala.
"Vejam!" - convidou o
pai - "percebam como tudo parece diferente na presença da luz.
As sombras já não mais
nos confundem.
Agora as formas assumem
contornos mais exatos.
Como é mais fácil
buscar um caminho, quando há luz a mostrar a direção correta."
Encantadas com a
singela, porém, inesquecível descoberta, as crianças concordaram com o pai,
enquanto o cobriam de carinhos antes de serem levados para a cama.
A maior glória da alma
que deseja participar na obra de Deus será transformar-se em luz na estrada de
alguém.
Registramos a luz sem
nos adentrar em sua grandeza.
O raio de luz penetra a
furna escura, levando a réstia de claridade que espanca as trevas.
Adentra o vale sombrio
e estimula o florescer.
Atinge a gota d'água e
reverte-a em um diamante multicolorido.
Visita o pântano e
transforma-o em jardim, em pomar.
Viaja pelo ar, aquece
vidas e alimenta-as.
Beija as corolas e
desata perfumes inesquecíveis.
Aninha-se no cristal e
ele reverbera, embelezando-se ainda mais.
.............................
Não nos deixemos
adoecer pelo amolentamento.
Há tantas
possibilidades de darmos utilidade e beleza à vida.
Com o exemplo da luz, o
Criador convida-nos a fazer o mesmo.
Desfaçamos as sombras
nos corações.
Drenemos os charcos das
almas.
Projetemos alegrias
fomentadoras de vida naqueles que se encontram combalidos pela tristeza e pelo
desalento.
Sejamos também um raio
de luz, espraiando brilho e calor, beleza e harmonia, em todos os momentos,
iluminando, assim, também, nossos próprios caminhos.
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