Diante do exposto nas postagens anteriores, analisemos agora o
controvertido episódio da ressurreição de Lázaro, irmão de Marta e Maria,
narrado no Evangelho de João, capítulo 11, versículos 1 a 46.
Pelo que se
depreende da leitura do texto evangélico, Lázaro, de fato, estava morto, ou
seja, havia desencarnado – é o próprio Cristo que o testifica.
“Isto dizia, e
depois lhes acrescentou: Nosso amigo Lázaro adormeceu, mas vou para despertá-lo.
Disseram-lhe, pois, os discípulos: Senhor, se dorme estará salvo. Jesus, porém,
falara com respeito à morte de Lázaro; mas eles supunham que tivesse falado do
repouso do sono. Então Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu...” (João,
capítulo 11, versículos 11 a 14).
Teria Jesus enganado os discípulos a
respeito da verdadeira situação de Lázaro, ou, ainda, se enganado na
interpretação de sua suposta morte?! Impossível.
Não resta dúvida: Lázaro
havia morrido! Ele estava sepultado há quatro dias e já cheirava mal... Quatro
dias, ou seja, noventa e seis horas, naquele clima quente do Oriente Médio, são
mais que suficientes para que um corpo entre em estado de putrefação!
Inclusive, no versículo 44, pode-se ler: “Saiu aquele que estivera morto, tendo
os pés e as mãos ligados com ataduras e o rosto envolto num lenço.” Ora, não
tivesse Lázaro morrido anteriormente, com certeza teria morrido por asfixia, já
que, no ato da preparação do corpo para sepultamento, os judeus cobriam
inteiramente o rosto do cadáver – inclusive, eles tinham, como alguns têm até
hoje, o hábito de colocar uma pedra dentro da boca do morto, evitando-se que ele
venha a questionar o motivo da própria morte.
Nos versículos seguintes, 43 e
44, João registra: “E, tendo dito isto, clamou em alta voz: Lázaro, vem para
fora. Saiu aquele que estivera morto, tendo os pés e as mãos ligados com
ataduras, e o rosto envolto num lenço. Então, lhes ordenou Jesus: Desatai-o, e
deixai-o ir.”
No caso de Lázaro, percebe-se, claramente, que,
após ter desencarnado, ele volta a ocupar o próprio corpo, religando-se a ele e
o vitalizando. Os laços perispirituais que o ligavam à forma física, segundo se
depreende, já haviam sido rompidos claramente.
No livro “A Gênese”, Allan
Kardec, com muita propriedade, no capítulo XV – “Os Milagres do Evangelho” –,
analisa, dentre outras, o tema da chamada ressurreição da filha de Jairo, do
filho da viúva de Naim e de Lázaro. Escrevendo sobre as ressurreições da filha
de Jairo e do filho da viúva de Naim, o Codificador esclarece: “Há, pois, toda
probabilidade de que, nos dois exemplos acima citados, apenas houve síncope e
letargia. Jesus mesmo o dizia, positivamente, em relação à filha de Jairo:Esta
moça não está morta, ela apenas está adormecida.”Notemos, pois, que, no caso da
jovem, a palavra de Jesus é totalmente diversa de quando Ele se refere ao irmão
de Marta e Maria, dizendo: “Lázaro morreu”!
Escrevendo, especificamente,
sobre Lázaro, Kardec afirma o seguinte: “A ressurreição de Lázaro, digam o que
disserem, não invalida de modo nenhum esse princípio. Diz-se que ele já estava
há quatro dias no sepulcro; mas sabe-se que há letargias que duram oito dias, e
mesmo mais.” Acontece, porém, no caso do amigo de Betânia, existe um detalhe
significativo: Lázaro já cheirava mal, evidenciando que o seu corpo entrara em
decomposição...
Em torno do tema da ressurreição de Lázaro, escrevendo nas
páginas de “A Gênese”, o Codificador, na tentativa de explicar o inusitado
fenômeno, o faz no condicional: “... em certos indivíduos há decomposição
parcial do corpo”; “E quem podia saber se ele cheirava mal? É sua irmã Marta que
o diz; mas como sabia? Lázaro se achava enterrado há quatro dias, ela supunha
isso, mas não podia ter certeza.”...
A verdade, porém, é que o Senhor, que
curara cegos e paralíticos, e limpara leprosos, também possuía poder para
ordenar que o espírito de Lázaro reentrasse em seu próprio corpo, e voltasse a
ocupá-lo antes de sua completa desintegração.
Podemos, pois, dizer, que há
possibilidade de o simpático irmão de Marta e Maria, por quem Jesus chorou, na
mesma existência reencarnou duplamente, religando-se ao corpo do qual ele se
encontrava desligado. Se um espírito pode vir a ocupar o corpo de outra pessoa,
com o afastamento do espírito que o habitava, por que o mesmo espírito não
poderia, em tempo hábil, voltar ao corpo que lhe pertenceu?! Foi justamente esta
crença que inspirou os adeptos da crença no Juízo Final, a respeito da
ressurreição generalizada dos mortos, quando, então, levantando-se do pó, eles
haverão de ser julgados... Mas isto é outra história.
INÁCIO
FERREIRA
Uberaba – MG, 8 de dezembro de 2014.
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