6.2.14

Manifestações de um polêmico
  É preciso entender direito o Espiritismo

Torna-se importantíssima uma campanha para fazer com que as pessoas entendam direito o Espiritismo.
Já sei, Alamar, você como divulgador do Espiritismo, conhecido que é, está mais uma vez conclamando por apoio para a divulgação da doutrina, para que o grande público conheça, não é?
Não. Não é isto. Esta necessidade de entendimento que sugiro agora, através deste artigo, não é para o grande público, é para os espíritas mesmo, as pessoas do movimento espírita.
Êh, rapaz! Que diabo é isto? Agora você vem dizendo que os espíritas precisam entender direito o Espiritismo? Então eles não entendem? Não fica muito presunçoso da sua parte?
Eu não quero me colocar no ridículo pedestal dos que se acham donos da verdade e nem quero posicionar-me como aquele tipo de espíritas que acham que só eles conhecem o Espiritismo (existem muitos desses) e até subestimam a inteligência dos outros, apenas quero manifestar idéias para reflexão dos amigos, já que Kardec nos sugere raciocinar sempre, questionar sempre, trocar idéias, aperfeiçoar e até rever os nossos conceitos.
Pois bem. Acreditando que todo leitor tenha entendido isto, vamos em frente então.
Pergunta básica:
Você, que está lendo este artigo, tem prestado muita atenção na conduta dos espíritas ao longo dos anos em que você convive com o movimento?
Vixi, Alamar, o que vem por aí?
A gente escuta sempre, em nosso movimento, as seguintes frases:
- “Você precisa estudar mais” (os outros)
- “Doutrina espírita é estudo”  (para os outros)
- “Tenho estudado muito a doutrina”
- “Temos um grupo de estudos bom, lá no centro”
O “você precisa estudar muito” é o que mais se ouve, sempre dentro de um entendimento que os outros precisam estudar, numa concepção que nós sabemos tudo e até que não temos muito mais a aprender, é o que implicitamente passa na cabeça de muita gente.
Mas sim. Diga então qual o sentido que você quer falar neste artigo. Vamos lá.
Ok. Vamos partir de uma linha de raciocínio:
Você acredita que Deus, através da Espiritualidade Superior, proporia para o mundo uma proposta doutrinária para cercear das pessoas o direito à felicidade, à alegria, ao sorriso, ao prazer e ao amor próprio?
Talvez alguns dizem:
Alamar, Jesus deixou bem claro: “o meu reino não é deste mundo”.
E daí? Será que por causa disto que ele falou, vamos dar uma interpretação que elimina das pessoas a idéia de alegria, prazer e felicidade, como se a Terra não fosse lugar para usufruir desses direitos?
Será que você está querendo dizer que os espíritas são contra a alegria, a felicidade e o prazer?
Não sei, quero que você mesmo tire as suas conclusões diante dos fatos que passo a relacionar:
Espírita adora dizer que não vale nada: 
“Eu não mereço isto que você está dizendo de mim”
“Menos! menos! menos! eu não sou nada disto que você está dizendo.”
“Eu sou um modesto trabalhadorzinho, engatinhando com muita dificuldade”
“Eu não sei nada”.
“Eu devo ter feito muito mal pra muita gente na encarnação passada”
“Somos almas fracassadas”
“Você deve se preocupar com OS OUTROS, meu irmão. Faça pelos OUTROS”.
“O que eu quero é AMAR, ser amado não importa”.
“Não permitimos elogios aqui na nossa casa”.
“Aqui não é permitido aplaudir ninguém”
“Olhe a vaidade, não há necessidade de vir vestida desse jeito”

Muitas são as frases que eu poderia colocar aqui, definindo muito bem o perfil de como é o espírita de um modo geral, salvo algumas exceções. 
Analisemos bem:
Será que para ser espírita eu tenho que me considerar a escória do mundo? Tenho que achar sempre que eu não valho nada, que sou um grande devedor, uma alma fracassada, um delinqüente espiritual e um lixo?
Será que diante de um momento difícil, sobretudo de um sofrimento, tenho que postar-me na acomodação sempre achando que eu sou um bandido mesmo e que estou merecendo aquilo?
Não posso ter direito aos prazeres que a vida proporciona, aqui mesmo no Planeta Terra, tendo que fugir deles, no exercício do masoquismo explícito?
Não posso ter uma casa boa, um carro bom, uma roupa boa... porque sempre terá uma língua espírita espezinhando a minha cabeça com argumentações de que estou sendo vaidoso?
Espírita não pode ser candidato a cargo político nenhum, porque o movimento espírita reprova e ainda afasta dos trabalhos. Fica uma imagem que determina que quanto mais o espírita ficar na miséria, mais agrada o movimento.
Veja só esta: Se, por exemplo, um dono de uma padaria, que não seja espírita, vai a um centro espírita e oferece desconto de 50% no pão, para os freqüentadores daquela casa, todo mundo aceita numa boa, considera a vantagem e até coloca aviso no quadro de avisos. Agora, se o dono da padaria for espírita e fizer a mesma proposta, vão dizer que ele está querendo tirar proveito do movimento espírita, ganhar dinheiro com o Espiritismo e não constará do quadro de avisos. 
Gente, a construção deste exemplo é produto de pesquisa que eu faço, não é chute! Tenho catalogado inúmeros exemplos de fatos semelhantes.
Muitos centros espíritas não permitem qualquer tipo de evento ou qualquer coisa que faça as pessoas felizes nas dependências da casa, sob argumentação de que não é o lugar apropriado e que baixa o tal “padrão vibratório”, o pior é que tem mentores que dão respaldo a essa bobagem. No fundo, esse tipo de espírita não gosta de ver felicidade no ambiente espírita.
Num debate que tive com um grupo da internet, quando se discutia as rifas dos carros feitas pelo Richard Simonetti, para conseguir recursos para a CEAK, o repúdio foi tão grande à iniciativa dele que o grupo, em maioria, achou melhor fechar a instituição, por falta de recursos, do que tomar iniciativa desta natureza para salvá-la.
Veja bem a que ponto chega a apologia da desgraça, pregada por muitos espíritas: o Richard Simonetti deveria FECHAR o CEAK, do que promover um evento para angariar recursos para continuar fazendo o bem para as pessoas, como ele faz ao longo de tantos anos.
É terrível a visão de pobreza, do meio espírita, gente!
Eu só gostaria de saber se os amantes dessa idéia gostariam de viver nas favelas e nas periferias mais fétidas e carentes das suas cidades. Será que gostariam mesmo?
Eu tenho que me mostrar bem pequeno, bem insignificante, bem irrelevante para poder ostentar “qualidade” espírita para os outros. Ao chegar ao centro, eu tenho que me sentar lá atrás, para mostrar qualidade espírita para os outros.
Que diabo é isto, gente? Allan Kardec nunca fez isto.
Porque Chico Xavier disse que se considerava um simples pé de grama, de um gramado, na visão ampla que ele tinha, em referência a grandeza cósmica do Universo, os espíritas entenderam que ele se achava mesmo uma bosta, que não valia nada e que se exporia ao ridículo em subestimar a inteligência das pessoas.
Admirar Chico Xavier é uma coisa, se fingir de Chico Xavier é outra.
Duas coisas eu quero comentar: O egoísmo e o outrismo.
O egoísmo todo mundo sabe o que é, que é essa coisa da pessoa que SÓ pensa em si mesmo, o mundo gira em torno de si e não está nem aí pra ninguém. Isto é sério e devemos combater, não resta a menor dúvida.
Mas tem também o outrismo, que também é uma praga, que é essa filosofia maluca de que devemos viver apenas em função dos outros:
Eu tenho que pensar nos outros, tenho que fazer pelos outros, tenho que me preocupar com os outros, tenho que viver pelos outros... Só os outros, eu não.
Pelo amor de Deus, que diabo é isso?
Será que você terá mesmo apoio, amparo e socorro desses tais OUTROS, quando estiver passando por sérias necessidades? 
“Ah, Alamar, isto não importa. Eu tenho que fazer pelos outros sem me preocupar com retorno”.
Deixe ser besta, o Espiritismo não ensina isto pra ninguém. Isto é masoquismo.
“Mas Jesus ensinou isto”.
Mentira, Jesus nunca nos ensinou a sermos masoquistas, você que entendeu errado. Ele ensinou que devemos, sim, amar ao nosso próximo, mas COMO A NÓS MESMOS. Nunca disse que devemos APENAS E SOMENTE preocupar com os outros.
Muitos têm sido tão bestas que para dar respaldo ao seu derrotismo, à sua degradação e desvalorização destorcem até os ensinamentos de Jesus.
O Mestre ensinou que devemos amar os outros como a nós mesmos e ele entende que devemos amar só aos outros. O Mestre ensinou que devemos dar de graça O QUE DE GRAÇA recebemos, a peste do espírita entende que a gente deve dar TUDO de graça, e ficar sem nada, para sofrer bem, ficar na miséria e em total pindaíba. Jesus alertou quanto ao perigo do apego apenas aos bens materiais, tem gente que condena todos os bens materiais, alertou na história da agulha e do camelo sobre o risco do mau uso da riqueza, e alguns acham que TODOS os ricos vão pros quintos dos infernos.
Vai gostar de miséria assim nos infernos!
Os Espíritos nos orientam que em alguns casos o sofrimento se faz necessário para o crescimento de alguns espíritos, mas os espíritas entendem que o sofrimento é necessário e indispensável para TODOS NÓS, e que não existe possibilidade de evolução sem sofrimento. TEMOS QUE SOFRER!!!!
Então sofra, peste, você, porque eu não quero sofrimento nenhum! Ligue uma boca do fogão da sua casa, de preferência aquela maior, e bote a mão lá, deixe uns cinco minutos, que vai ser uma beleza, você vai evoluir uma encarnação inteira.
Em muitas casas espíritas não se pode abraçar ninguém, beijar ninguém, manifestar qualquer gesto de carinho a alguém, porque é desrespeitoso à casaaaaaaa!
Vê se pode, uma coisa desta.
Se existem recomendações para não elogiarmos ninguém, não aplaudirmos ninguém, não citarmos as qualidades das pessoas e repudiarmos qualquer idéia de “honra ao mérito”, implicitamente entramos na filosofia da falta de educação, da frieza e da indiferença total em relação a nós mesmos. Ninguém pode ter talento na arte e em outra atividade do fazer ao bem, para servir de exemplo para os outros, que nós jamais o reconheceremos. Só podemos nos manifestar para chamar a atenção e para punir quando a criatura falha, reconhecer o lado bom não.
E aí aparecem alguns para buscarem Francisco de Assis, como modelo para TODOS NÓS seguirmos.
Ora, Francisco de Assis foi um grande homem, mas aquilo era um estilo de vida particular dele, adotado por ele, de acordo com a preferência dele, o que não quer dizer que sejamos obrigados a seguir exatamente daquele jeito para sermos felizes, porque não é o único modelo de dignidade no comportamental humano.
Se você quiser comer gafanhotos, faça bom proveito e tenha um bom apetite, porque eu não tenho o menor interesse em comer aquilo. Aproveite e coma também algumas baratas, moscas, lesmas, besouros porque tudo é criação de Deus. Com uma farofinha deve ser uma delícia. Prepare em sua casa, hoje. Coma com arroz.
Ora, tenha a santa paciência.
Pelo amor de Deus, não denigramos tanto a imagem do Espiritismo desta forma, porque fica ruim demais para aqueles que estão a procura de uma proposta de vida sensata e coerente, que talvez poderiam vir para cá. As pessoas hoje são mais racionais e com certeza estão fugindo daquilo que vá de encontro a racionalidade.
Que os congressos espíritas se disponham a ser CONGRESSOS mesmo e, como os demais congressos de outras vertentes do conhecimento, tenham a coragem de debater, sem medos, os problemas existentes em nosso meio, essas interpretações malucas, as nossas relações, as nossas falhas e os erros terríveis que estamos cometendo.
Fica aí, então, mais este tema para reflexão de todos. 
Abração.
Alamar Régis Carvalho
Analista de Sistemas, Escritor e Antares DINASTIA

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