4.2.14


“ATÉ QUANDO VOS SOFREREI?”

Férias de espírita, meu caro, é isto aí: trabalho em dobro! Não foi assim que aprendemos com Chico Xavier?! Turismo na Europa, com a visão da paisagem, é só enquanto o carro desliza pela autoestrada, ou, então, enquanto o comboio, encurtando distâncias, nos enseja bucólicos cenários entre os pinhais e olivais...
Estivemos sim juntos, tanto quanto possível, em sua maratona doutrinária – enquanto você entretinha contatos com os confrades encarnados, íamos, na companhia espiritual de Laurentino Simões, e outros, dialogando com tanta gente que, deste Outro Lado, vem se preocupando com o futuro espiritual do Velho Mundo!
Apenas peço a você que me perdoe se não tive como evitar que, em Portugal, a sua bagagem fosse subtraída por mãos desocupadas, que muitos atribuíram aos pobres ciganos...
Eu estava tão preocupado em lhe vigiar a alma, que me esqueci de sua mala! Numa outra encarnação, prometo lhe devolver com juros e correção monetária tudo o que estava dentro dela – umas quinquilharias que apenas serviram para aumentar o infortúnio de quem supôs que ela pudesse estar recheada de euros e dólares! 
Deixemos, pois, o inusitado episódio para lá, recordando o quanto, ao longo dos séculos, temos nos transformado em ladrões da Mensagem Cristã, furtando do Cristo a essência de suas palavras.
Em várias oportunidades de nossa maratona doutrinária, que se estendeu aos Dois Lados da Vida, a constatação que, desde a Suíça, passando pela Inglaterra e culminando em Portugal, pudemos fazer é que, de fato, como dizia Chico Xavier, a Europa está precisando de Evangelho!
O imediatismo da vida material absorveu o pensamento das criaturas encarnadas de tal modo que, infelizmente, poucos são aqueles que encontram espaço em sua mente para cogitar do que seja pertinente à Vida além da morte – o seu exercício de introspecção não vai além das células que lhes constitui a epiderme castigada pelo frio!
Todavia, meu caro, o que mais me deixou, digamos, entristecido, foi observar o mesmo fenômeno que, entre os espíritas, igualmente, se observa no Brasil: a falta de compreensão do que, verdadeiramente, a Doutrina deve significar em nossas vidas.
Poucos são aqueles que já tomaram consciência de que estão a cuidar do próprio destino, através das existências que se sucedem...
Pude, sim, verificar a ancianidade de espíritos que, há séculos e séculos, praticamente se encontram na mesma, entrando e saindo do corpo com a naturalidade de alguém que deita e se levanta de uma cama, quase que vivendo completamente na horizontal...
Ah, como é difícil, estando na carne e, por vezes, até mesmo fora dela, verticalizar o pensamento!...
Qual lhe sucedeu no silêncio das reflexões que você efetuava – reflexões que, não raro, se transformavam em conversa entre nós –, pude compreender melhor as indignadas palavras do Cristo que foram registradas pelo Evangelista Mateus, no capítulo 17, versículo 17, de seus apontamentos: “Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?”
Sei não... Nada sou para me atrever dar ao Senhor qualquer resposta, mas, de minha parte, desconfio que, durante longuíssimo tempo, Ele ainda continuará a sofrer por nós!
O que podemos e devemos fazer é continuar a trabalhar, em dobro, porque a verdade é que o Cristo que, um dia, pregamos à cruz, permanece à espera que venhamos a resgatá-lo ao madeiro em que Ele continua a se afligir pela Humanidade inteira!...

INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 2 de Fevereiro de 2014

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