“ATÉ QUANDO VOS SOFREREI?”
Férias de espírita, meu caro, é isto aí:
trabalho em dobro! Não foi assim que aprendemos com Chico Xavier?! Turismo na
Europa, com a visão da paisagem, é só enquanto o carro desliza pela autoestrada,
ou, então, enquanto o comboio, encurtando distâncias, nos enseja bucólicos
cenários entre os pinhais e olivais...
Estivemos sim juntos, tanto quanto
possível, em sua maratona doutrinária – enquanto você entretinha contatos com os
confrades encarnados, íamos, na companhia espiritual de Laurentino Simões, e
outros, dialogando com tanta gente que, deste Outro Lado, vem se preocupando com
o futuro espiritual do Velho Mundo!
Apenas peço a você que me perdoe se não
tive como evitar que, em Portugal, a sua bagagem fosse subtraída por mãos
desocupadas, que muitos atribuíram aos pobres ciganos...
Eu estava tão
preocupado em lhe vigiar a alma, que me esqueci de sua mala! Numa outra
encarnação, prometo lhe devolver com juros e correção monetária tudo o que
estava dentro dela – umas quinquilharias que apenas serviram para aumentar o
infortúnio de quem supôs que ela pudesse estar recheada de euros e dólares!
Deixemos, pois, o inusitado episódio para lá, recordando o quanto, ao longo
dos séculos, temos nos transformado em ladrões da Mensagem Cristã, furtando do
Cristo a essência de suas palavras.
Em várias oportunidades de nossa maratona
doutrinária, que se estendeu aos Dois Lados da Vida, a constatação que, desde a
Suíça, passando pela Inglaterra e culminando em Portugal, pudemos fazer é que,
de fato, como dizia Chico Xavier, a Europa está precisando de Evangelho!
O
imediatismo da vida material absorveu o pensamento das criaturas encarnadas de
tal modo que, infelizmente, poucos são aqueles que encontram espaço em sua mente
para cogitar do que seja pertinente à Vida além da morte – o seu exercício de
introspecção não vai além das células que lhes constitui a epiderme castigada
pelo frio!
Todavia, meu caro, o que mais me deixou, digamos, entristecido,
foi observar o mesmo fenômeno que, entre os espíritas, igualmente, se observa no
Brasil: a falta de compreensão do que, verdadeiramente, a Doutrina deve
significar em nossas vidas.
Poucos são aqueles que já tomaram consciência de
que estão a cuidar do próprio destino, através das existências que se
sucedem...
Pude, sim, verificar a ancianidade de espíritos que, há séculos e
séculos, praticamente se encontram na mesma, entrando e saindo do corpo com a
naturalidade de alguém que deita e se levanta de uma cama, quase que vivendo
completamente na horizontal...
Ah, como é difícil, estando na carne e, por
vezes, até mesmo fora dela, verticalizar o pensamento!...
Qual lhe sucedeu no
silêncio das reflexões que você efetuava – reflexões que, não raro, se
transformavam em conversa entre nós –, pude compreender melhor as indignadas
palavras do Cristo que foram registradas pelo Evangelista Mateus, no capítulo
17, versículo 17, de seus apontamentos: “Ó geração incrédula e perversa! Até
quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?”
Sei não... Nada sou para
me atrever dar ao Senhor qualquer resposta, mas, de minha parte, desconfio que,
durante longuíssimo tempo, Ele ainda continuará a sofrer por nós!
O que
podemos e devemos fazer é continuar a trabalhar, em dobro, porque a verdade é
que o Cristo que, um dia, pregamos à cruz, permanece à espera que venhamos a
resgatá-lo ao madeiro em que Ele continua a se afligir pela Humanidade
inteira!...
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 2 de Fevereiro de 2014
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