O Sonho de uma Igreja Nova
Amigos,
Já há algum tempo, venho
defendendo, no seio da Igreja Católica Apostólica Romana, mudanças
radicais.
Não imagino uma Igreja que fique de costas aos pobres de
Deus.
Não concebo uma Igreja rica e solitária.
Não penso numa Igreja que
seja associada a soberba e ao luxo.
Não admito uma Igreja burocrática e cheia
de privilégios.
Sei que muito do que aí está é fruto do desarranjo criado há
muito séculos e que sucessivos papas fizeram apenas reforçar ou omitir-se sobre
estas estruturas ultrapassadas ou sobre estes vícios danosos.
Alguns papas
intervieram neste estado de coisas e conseguiram dar uma sobrevida à Igreja
contemporânea a começar pelo nosso querido João XXIII e, depois, meu amigo Paulo
VI. Albino Luciani sonhava com uma Igreja pobre tanto quanto o nosso bravo e
corajoso Papa Francisco.
Sendo rigoroso no cumprimento dos compromissos
assumidos durante os debates pré-Conclave, o Papa Francisco iniciou esta semana,
num ato simbólico em Assis, aquilo que poderá vir a ser a grande revolução da
nossa Santa Igreja.
Dias virão para comprovar aquilo que hoje prego porque há
forças subterrâneas que tentam atrapalhar este conjunto de mudanças fundamentais
reclamadas há muito tempo.
Como forma de ajudar a construir a Igreja Nova foi
constituída pelo Papa Francisco uma comissão de notáveis cardeais renovadores,
que darão a sua contribuição na construção de um novo edifício do Cristo na
Terra, em bases mais sólidas e consentâneas com o pensamento vivo do jovem de
Nazaré.
A Igreja Nova que sonhamos já está no papel aqui nos planos do
espírito. Uma equipe de papas e cardeais, fora do corpo, já colocaram no papel
as bases desta igreja sonhada e influenciarão os destinos da comissão
institucionalizada para traduzir igualmente as suas vontades.
Vejo um
empenho, em particular, do Papa sorriso, João Paulo I, e de João Paulo II.
Ambos, lideram uma corrente reformista mais aguda, com traços mais definidos e
de profunda modificação nas bases. É de se estranhar para alguns, mas o papa
Woytila não se cansou de dizer, entre nós, “poderia ter feito mais, tive tempo
para isso, mas deixei-me, sem querer, ser envolvido pela Cúria Romana entre meus
afazeres, mas aqui eu posso influenciar e vou fazê-lo com todas as minhas
forças.”
Que vigor para o trabalho deste homem que aqui é incansável na
defesa das mudanças reclamadas.
As mudanças iniciais serão no corpo e na
práxis da Cúria Romana, é verdade, mas elas refletirão no outro estilo de fazer
a Igreja acontecer para o mundo.
A estrutura colegiada de poder, a maior
transparência do Banco do Vaticano, uma ordem de padres mais servidores do que
servidos, o foco na população pobre e sofrida, entre outros pontos, serão
debatidos e, certamente, atingirá seu cume com as propostas concretas que
chegarão às mãos do Papa da paz e da humildade.
Sobre Francisco recaem
inúmeras responsabilidades e expectativas – e ele sabe disso. Não será fácil
modificar estruturas carcomidas pelo tempo. Resistências não faltarão ao
reformismo clerical como muitos chamarão, mas este é o seu papel e nós torcemos
para que tudo dê certo.
Há uma inspiração por detrás de tudo isso, meus
irmãos, e creiam que não é somente da boca para fora. Quem preside este conjunto
de mudanças é o próprio Francisco de Assis.
Se no passado ele foi chamado
pelo Cristo Jesus a colocar a pedra fundamental da nova igreja, hoje, o nosso
amigo celestial o chama para novo desafio: reerguer a igreja do Cristo em bases
novas.
Não que Jesus seja exclusivista, nada disso, mas ele sabe o enorme
papel que cabe à Igreja Católica no processo de modificação planetária e não
pode deixar de ajudar neste momento crucial, já que a Igreja não é projeto
apenas de homens, mas de Deus para a renovação humana na Terra.
Francisco de
Assis, com certeza, inspirará para uma Igreja humilde e servidora. Uma Igreja
sem pompas e privilégios, mas com sua face voltada para o povo, todo o povo de
Deus, todos aqueles que necessitem de um apoio, de uma ajuda redentora,
notadamente os menos afortunados, os excluídos, os caídos do caminho.
Meu
Pai, que momento solene, que instante maravilhoso. Tua obra redentora há de se
materializar entre os homens, aquele a quem chamamos de católicos. Junto com
outras denominações religiosas, muitas outras, nos abraçaremos na defesa da
mesma causa, dos meus propósitos, de confraternização humana, de resolução dos
conflitos políticos, de solução dos problemas sociais, do ajustamento da
economia para todos.
Este mundo virá e que sonho extraordinário é este,
Pai.
Estaremos juntos, os dois lados da existência humana, em parceria
constante, para desfrutar deste novo mundo. Um mundo que trará felicidade para
todos. Um mundo mais igual. Um mundo mais humano.
Hei de ver este novo mundo,
Pai.
Faz-me humilde trabalhador desta Tua Seara de amor entre os
homens.
Em tuas mãos,
Helder Camara
Nenhum comentário:
Postar um comentário