8.10.13


O Sonho de uma Igreja Nova
Amigos,

Já há algum tempo, venho defendendo, no seio da Igreja Católica Apostólica Romana, mudanças radicais.
Não imagino uma Igreja que fique de costas aos pobres de Deus.
Não concebo uma Igreja rica e solitária.
Não penso numa Igreja que seja associada a soberba e ao luxo.
Não admito uma Igreja burocrática e cheia de privilégios.
Sei que muito do que aí está é fruto do desarranjo criado há muito séculos e que sucessivos papas fizeram apenas reforçar ou omitir-se sobre estas estruturas ultrapassadas ou sobre estes vícios danosos.
Alguns papas intervieram neste estado de coisas e conseguiram dar uma sobrevida à Igreja contemporânea a começar pelo nosso querido João XXIII e, depois, meu amigo Paulo VI. Albino Luciani sonhava com uma Igreja pobre tanto quanto o nosso bravo e corajoso Papa Francisco.
Sendo rigoroso no cumprimento dos compromissos assumidos durante os debates pré-Conclave, o Papa Francisco iniciou esta semana, num ato simbólico em Assis, aquilo que poderá vir a ser a grande revolução da nossa Santa Igreja.
Dias virão para comprovar aquilo que hoje prego porque há forças subterrâneas que tentam atrapalhar este conjunto de mudanças fundamentais reclamadas há muito tempo.
Como forma de ajudar a construir a Igreja Nova foi constituída pelo Papa Francisco uma comissão de notáveis cardeais renovadores, que darão a sua contribuição na construção de um novo edifício do Cristo na Terra, em bases mais sólidas e consentâneas com o pensamento vivo do jovem de Nazaré.
A Igreja Nova que sonhamos já está no papel aqui nos planos do espírito. Uma equipe de papas e cardeais, fora do corpo, já colocaram no papel as bases desta igreja sonhada e influenciarão os destinos da comissão institucionalizada para traduzir igualmente as suas vontades.
Vejo um empenho, em particular, do Papa sorriso, João Paulo I, e de João Paulo II. Ambos, lideram uma corrente reformista mais aguda, com traços mais definidos e de profunda modificação nas bases. É de se estranhar para alguns, mas o papa Woytila não se cansou de dizer, entre nós, “poderia ter feito mais, tive tempo para isso, mas deixei-me, sem querer, ser envolvido pela Cúria Romana entre meus afazeres, mas aqui eu posso influenciar e vou fazê-lo com todas as minhas forças.”
Que vigor para o trabalho deste homem que aqui é incansável na defesa das mudanças reclamadas.
As mudanças iniciais serão no corpo e na práxis da Cúria Romana, é verdade, mas elas refletirão no outro estilo de fazer a Igreja acontecer para o mundo.
A estrutura colegiada de poder, a maior transparência do Banco do Vaticano, uma ordem de padres mais servidores do que servidos, o foco na população pobre e sofrida, entre outros pontos, serão debatidos e, certamente, atingirá seu cume com as propostas concretas que chegarão às mãos do Papa da paz e da humildade.
Sobre Francisco recaem inúmeras responsabilidades e expectativas – e ele sabe disso. Não será fácil modificar estruturas carcomidas pelo tempo. Resistências não faltarão ao reformismo clerical como muitos chamarão, mas este é o seu papel e nós torcemos para que tudo dê certo.
Há uma inspiração por detrás de tudo isso, meus irmãos, e creiam que não é somente da boca para fora. Quem preside este conjunto de mudanças é o próprio Francisco de Assis.
Se no passado ele foi chamado pelo Cristo Jesus a colocar a pedra fundamental da nova igreja, hoje, o nosso amigo celestial o chama para novo desafio: reerguer a igreja do Cristo em bases novas.
Não que Jesus seja exclusivista, nada disso, mas ele sabe o enorme papel que cabe à Igreja Católica no processo de modificação planetária e não pode deixar de ajudar neste momento crucial, já que a Igreja não é projeto apenas de homens, mas de Deus para a renovação humana na Terra.
Francisco de Assis, com certeza, inspirará para uma Igreja humilde e servidora. Uma Igreja sem pompas e privilégios, mas com sua face voltada para o povo, todo o povo de Deus, todos aqueles que necessitem de um apoio, de uma ajuda redentora, notadamente os menos afortunados, os excluídos, os caídos do caminho.
Meu Pai, que momento solene, que instante maravilhoso. Tua obra redentora há de se materializar entre os homens, aquele a quem chamamos de católicos. Junto com outras denominações religiosas, muitas outras, nos abraçaremos na defesa da mesma causa, dos meus propósitos, de confraternização humana, de resolução dos conflitos políticos, de solução dos problemas sociais, do ajustamento da economia para todos.
Este mundo virá e que sonho extraordinário é este, Pai.
Estaremos juntos, os dois lados da existência humana, em parceria constante, para desfrutar deste novo mundo. Um mundo que trará felicidade para todos. Um mundo mais igual. Um mundo mais humano.
Hei de ver este novo mundo, Pai.
Faz-me humilde trabalhador desta Tua Seara de amor entre os homens.
Em tuas mãos,
Helder Camara

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