No
livro “Obras Póstumas” encontra-se uma síntese realizada por Allan Kardec das
comunicações dadas pelas Sras. M... e T... em estado sonambúlico, no dia 25 de
abril de 1866, em Paris. É um texto de uma lucidez e atualidade
impressionantes. Muito do que atualmente se lê sobre o assunto nas lides
espíritas representa um desdobramento deste conteúdo.
Reproduzirei,
abaixo, esta síntese e farei algumas considerações complementares. Vamos lá!
OS TEMPOS SÃO CHEGADOS
Precipitam-se
com rapidez os acontecimentos, pelo que já não vos dizemos, como outrora:
“Aproximam-se os tempos.” Agora, dizemos: “Os tempos são chegados.” Não
suponhais que as nossas palavras se referem a um novo dilúvio, nem a um
cataclismo, nem a um revolvimento geral. Revoluções parciais do globo se hão
produzido em todas as épocas e ainda se produzem, porque decorrem da sua
constituição, mas não representam os sinais dos tempos.
Entretanto,
tudo o que está predito no Evangelho tem de cumprir-se e neste momento se
cumpre, conforme o reconhecereis mais tarde. Não tomeis, porém, os sinais
anunciados, senão como figuras, que precisam ser compreendidas segundo o
espírito e não segundo a letra. Todas as Escrituras encerram grandes
verdades sob o véu da alegoria e, por se terem apegado à letra, é que os
comentadores se transviaram. Faltou-lhes a chave para lhes compreenderem o
verdadeiro sentido. Essa chave está nas descobertas da Ciência e nas leis do
mundo invisível, que o Espiritismo vem revelar. Daqui em diante, com o auxílio
desses novos conhecimentos, o que era obscuro se tornará claro e inteligível.
FIM DO MUNDO
Tudo
segue a ordem natural das coisas e as leis imutáveis de Deus não serão
subvertidas. Não vereis milagres, nem prodígios, nem fatos sobrenaturais, no
sentido vulgarmente dado a essas palavras.
Não
olheis para o céu em busca dos sinais precursores, porquanto nenhum vereis, e
os que vo-los anunciarem estarão a enganar-vos. Olhai em torno de vós, entre os
homens: aí é que os descobrireis.
Não
sentis que um como vento sopra sobre a Terra e agita todos os Espíritos? O
mundo se acha na expectativa e como que presa de um vago pressentimento de que
a tempestade se aproxima.
Não
acrediteis, porém, no fim do mundo material. A Terra tem progredido, desde a
sua transformação; tem ainda que progredir e não que ser destruída. A
Humanidade, entretanto, chegou a um dos períodos de sua transformação e o mundo
terreno vai elevar-se na hierarquia dos mundos.
O que
se prepara não é, pois, o fim do mundo material, mas o fim do mundo moral. É o
velho mundo, o mundo dos preconceitos, do orgulho, do egoísmo e do fanatismo
que se esboroa. Cada dia leva consigo alguns destroços. Tudo dele acabará com a
geração que se vai e a geração nova erguerá o novo edifício, que as gerações
seguintes consolidarão e completarão.
De
mundo de expiação, a Terra se mudará um dia em mundo ditoso e habitá-lo será
uma recompensa, em vez de ser uma punição. O reinado do bem sucederá ao reinado
do mal.
- As
narrativas mediúnicas resumidas por Allan Kardec possuem mais de 150 anos.
Decretava que todas as predições do passado, o que fora trazido pelo Evangelho
nas falas de Jesus ou no Apocalipse de João, principalmente, haveria de se
tornar realidade.
O que
viesse a denunciar este suposto final dos tempos, os tais sinais reveladores,
deveriam ser interpretados como algo ilustrativo e não como um acontecimento
taxativo do início definitivo da regeneração da humanidade. Os acontecimentos
deveriam ser compreendidos bem mais na sua essência do que como pontos
marcadores de uma nova era.
Tsunamis,
enchentes, terremotos, erupção de vulcões e um sem número de fenômenos
geológicos, por exemplo, fazem parte do transcurso esperado de acomodação da
natureza na sua própria dinâmica.
A
ciência, neste sentido, ajuda a explicar os acontecimentos previstos de estudos
investigatórios ou provocados pela incúria dos homens em explorar
inadvertidamente os recursos naturais. Separa, assim, o natural da especulação
sobrenatural, originada pela ignorância da razão de ser das coisas.
Os
acontecimentos anunciadores da transformação planetária, no entanto, passariam
a ocorrer de maneira acelerada, a partir de então.
Junto
aos fenômenos naturais de ajuste planetário à nova era, começaria outro
movimento mais importante: a mudança moral.
O
velho mundo, sustentado pelo egoísmo e pelo orgulho, tendo como referência o
materialismo, teria que dar lugar, gradativamente, a um novo mundo, baseado na
ética do amor e, com ele, a construção de uma humanidade mais altruísta e
fraterna, e crescentemente ancorada em valores espirituais.
É deste modo que se sucede o progresso dos mundos, segundo a
explicação didática, mas não absoluta trazida pelos espíritos. A Terra deixará
a condição de planeta de expiações e provações para iniciar a sua fase de
regeneração, um ponto intermediário no seu caminho para planeta onde reinará a
felicidade de seus habitantes. O mal deixará aos poucos de predominar e as atenções coletivas serão
na direção da organização de uma morada focada no bem, na justiça e na paz.
Tudo isso representa um processo de transformação global e nada indica
que haverá uma virada de chave e, a partir daí, todos acordarão melhores. A
espiritualidade não é afeta à mágicas de rua. É certo, no entanto, que haverá
um período de mudanças mais profundas, como já se vive hoje, e em dado momento
elas se concretizarão de maneira mais efetiva, mas este dia apenas Deus é que
sabe – segundo a narrativa de
Jesus.
Aguardemos
os fatos se desenrolarem naturalmente e que as informações que a filosofia
espírita traz há mais de um século e meio possam servir de anteparo seguro
contra o medo, o conflito, o caos.
Carlos
Pereira
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