26.5.20

Regeneração da Humanidade - 1


No livro “Obras Póstumas” encontra-se uma síntese realizada por Allan Kardec das comunicações dadas pelas Sras. M... e T... em estado sonambúlico, no dia 25 de abril de 1866, em Paris. É um texto de uma lucidez e atualidade impressionantes. Muito do que atualmente se lê sobre o assunto nas lides espíritas representa um desdobramento deste conteúdo.
Reproduzirei, abaixo, esta síntese e farei algumas considerações complementares. Vamos lá!
OS TEMPOS SÃO CHEGADOS
Precipitam-se com rapidez os acontecimentos, pelo que já não vos dizemos, como outrora: “Aproximam-se os tempos.” Agora, dizemos: “Os tempos são chegados.” Não suponhais que as nossas palavras se referem a um novo dilúvio, nem a um cataclismo, nem a um revolvimento geral. Revoluções parciais do globo se hão produzido em todas as épocas e ainda se produzem, porque decorrem da sua constituição, mas não representam os sinais dos tempos.
Entretanto, tudo o que está predito no Evangelho tem de cumprir-se e neste momento se cumpre, conforme o reconhecereis mais tarde. Não tomeis, porém, os sinais anunciados, senão como figuras, que precisam ser compreendidas segundo o espírito e não segundo a letra. Todas as Escrituras encerram grandes verdades sob o véu da alegoria e, por se terem apegado à letra, é que os comentadores se transviaram. Faltou-lhes a chave para lhes compreenderem o verdadeiro sentido. Essa chave está nas descobertas da Ciência e nas leis do mundo invisível, que o Espiritismo vem revelar. Daqui em diante, com o auxílio desses novos conhecimentos, o que era obscuro se tornará claro e inteligível.
FIM DO MUNDO
Tudo segue a ordem natural das coisas e as leis imutáveis de Deus não serão subvertidas. Não vereis milagres, nem prodígios, nem fatos sobrenaturais, no sentido vulgarmente dado a essas palavras.
Não olheis para o céu em busca dos sinais precursores, porquanto nenhum vereis, e os que vo-los anunciarem estarão a enganar-vos. Olhai em torno de vós, entre os homens: aí é que os descobrireis.
Não sentis que um como vento sopra sobre a Terra e agita todos os Espíritos? O mundo se acha na expectativa e como que presa de um vago pressentimento de que a tempestade se aproxima.
Não acrediteis, porém, no fim do mundo material. A Terra tem progredido, desde a sua transformação; tem ainda que progredir e não que ser destruída. A Humanidade, entretanto, chegou a um dos períodos de sua transformação e o mundo terreno vai elevar-se na hierarquia dos mundos.
O que se prepara não é, pois, o fim do mundo material, mas o fim do mundo moral. É o velho mundo, o mundo dos preconceitos, do orgulho, do egoísmo e do fanatismo que se esboroa. Cada dia leva consigo alguns destroços. Tudo dele acabará com a geração que se vai e a geração nova erguerá o novo edifício, que as gerações seguintes consolidarão e completarão.
De mundo de expiação, a Terra se mudará um dia em mundo ditoso e habitá-lo será uma recompensa, em vez de ser uma punição. O reinado do bem sucederá ao reinado do mal.
- As narrativas mediúnicas resumidas por Allan Kardec possuem mais de 150 anos. Decretava que todas as predições do passado, o que fora trazido pelo Evangelho nas falas de Jesus ou no Apocalipse de João, principalmente, haveria de se tornar realidade.
O que viesse a denunciar este suposto final dos tempos, os tais sinais reveladores, deveriam ser interpretados como algo ilustrativo e não como um acontecimento taxativo do início definitivo da regeneração da humanidade. Os acontecimentos deveriam ser compreendidos bem mais na sua essência do que como pontos marcadores de uma nova era.
Tsunamis, enchentes, terremotos, erupção de vulcões e um sem número de fenômenos geológicos, por exemplo, fazem parte do transcurso esperado de acomodação da natureza na sua própria dinâmica.
A ciência, neste sentido, ajuda a explicar os acontecimentos previstos de estudos investigatórios ou provocados pela incúria dos homens em explorar inadvertidamente os recursos naturais. Separa, assim, o natural da especulação sobrenatural, originada pela ignorância da razão de ser das coisas.
Os acontecimentos anunciadores da transformação planetária, no entanto, passariam a ocorrer de maneira acelerada, a partir de então.
Junto aos fenômenos naturais de ajuste planetário à nova era, começaria outro movimento mais importante: a mudança moral.
O velho mundo, sustentado pelo egoísmo e pelo orgulho, tendo como referência o materialismo, teria que dar lugar, gradativamente, a um novo mundo, baseado na ética do amor e, com ele, a construção de uma humanidade mais altruísta e fraterna, e crescentemente ancorada em valores espirituais.
É deste modo que se sucede o progresso dos mundos, segundo a explicação didática, mas não absoluta trazida pelos espíritos. A Terra deixará a condição de planeta de expiações e provações para iniciar a sua fase de regeneração, um ponto intermediário no seu caminho para planeta onde reinará a felicidade de seus habitantes.  O mal deixará aos poucos de predominar e as atenções coletivas serão na direção da organização de uma morada focada no bem, na justiça e na paz.
Tudo isso representa um processo de transformação global e nada indica que haverá uma virada de chave e, a partir daí, todos acordarão melhores. A espiritualidade não é afeta à mágicas de rua. É certo, no entanto, que haverá um período de mudanças mais profundas, como já se vive hoje, e em dado momento elas se concretizarão de maneira mais efetiva, mas este dia apenas Deus é que sabe – segundo a narrativa de Jesus.
Aguardemos os fatos se desenrolarem naturalmente e que as informações que a filosofia espírita traz há mais de um século e meio possam servir de anteparo seguro contra o medo, o conflito, o caos.
Carlos Pereira


Nenhum comentário:

Postar um comentário