Agora que estamos nos unindo em torno de uma causa, a
sobrevivência da Terra pela sobrevivência de cada um de nós, necessitamos nos
perguntar o que fazer com o legado que estamos construindo a partir da reclusão
proveniente do Novo Coronavírus e seus efeitos na sociedade planetária.
Se um vírus como esse chega e vai embora e não
aproveitamos as lições que ele nos deixa de nada adiantaria passar por tudo
isso que estamos passando.
A lição a ser aprendida, como já disse,
está em nos tornarmos – ou nos reconhecermos – como uma comunidade planetária e, com isso, podermos mudar os
nossos valores e as nossas práticas diárias.
Que práticas poderiam ser implementadas a partir da
reflexão de que somos uma sociedade global?
Por que mantermos as guerras?
Que proveito terá se digladiar, ferir, tirar vidas, se
no fundo algo que não pertence a ninguém vai lá e faz o estrago em todos?
A mesma causa abomina as partes envolvidas numa guerra
e todos saem perdendo?
Por que excluirmos os ganhos de capital e de serviços
a parcelas significativas da população?
Na hora que vem uma avalanche de contaminação, todos,
sem exceção, se tornam vulneráveis. Ricos e pobres podem sofrer do mesmo mal.
Então, acabemos com as distâncias sociais e econômicas. Criemos, ao mínimo, um
sistema mais justo de produção e distribuição da riqueza, não se limitando a
alguns países ou a uma elite.
Por que ignorar que a raça humana é uma só?
Não há negros, brancos, amarelos, isso e aquilo, há
pessoas que são iguais a outras pessoas. Alto ou baixo, o vírus não escolhe
diferença para mostrar a nossa vulnerabilidade. O fortalecimento da raça humana
depende que todos os humanos sejam fortalecidos e não apenas uns poucos.
Por que não criar uma rede de proteção e promoção
inclusiva?
Ao cabo dessa pandemia, vamos ter que pensar em um
sistema de saúde e proteção social que abranja a todos.
Se outra pandemia viesse, como reagiríamos?
Perderíamos tantas vidas como agora por falta de
iniciativa ou companheirismo?
Ou nos juntaríamos para enfrentarmos o mal maior?
Por que não pensar em sermos mais educados uns com os
outros?
Por que não nos preocuparmos mais com o irmão de
caminho?
Por que passar pela vida de modo inconsequente?
Por que?
A falta de solidariedade tem demonstrado que o ser
humano perece quando pensa em resolver os problemas sozinho ou somente pensa
nele.
A grande vitória do ser humano está na possibilidade
de pensar e agir como uma grande comunidade à semelhança dos nossos irmãos
gafanhotos, formigas, abelhas e tantos outros que se fortalecem exatamente por
se imaginarem como uma mega comunidade a serviço uns dos outros, mesmo que não
tenham consciência disso.
Nosso mal, talvez, é poder pensar e escolher.
Como, Dom Hélder?
Sim, nosso mal talvez esteja em pensarmos e agirmos
como se fôssemos os donos do mundo e únicos proprietários da verdade.
Talvez nosso mal seja imaginar que podemos fazer mais
que o outro, ter mais que o outro, ser mais que o outro.
As formigas não pensam assim. Tampouco os gafanhotos e
as abelhas. Exatamente porque não pensam, cumprem o seu papel instintivamente
dando a sua contribuição para a grande comunidade.
Quem me dera que pudéssemos recuar no tempo e aprender
com os nossos “irmãozinhos inferiores”.
Talvez não houvesse miséria no mundo e a violência
estaria na faixa do zero.
Quem dera voltar atrás e aprender as primeiras lições
da vida...
Helder Camara de:
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