25.8.17

Espaço

    Várias definições dessa palavra foram dadas; a principal é esta: a extensão que separa dois corpos. De onde certos sofistas deduziriam que ali onde não houvesse corpos, não haveria espaço; foi sobre o que os doutores em teologia se basearam para estabelecer que o espaço era necessariamente finito, alegando que dois corpos limitados em certo número não podiam formar uma sequência infinita; e que ali onde os corpos se detinham, o espaço se detinha também. Definiu-se ainda o espaço: o lugar onde se movem os mundos, o vazio onde age a matéria, etc... Deixamos nos tratados onde eles repousam todas essas definições que não definem nada.
    O espaço é uma dessas palavras que representam uma ideia primitiva e axiomática, evidente por si mesma, e que as diversas definições que se podem dele dar não sabem senão obscurecer. Todos sabemos o que é o espaço, e não quero senão estabelecer sua infinidade, a fim de que nossos estudos não tenham nenhuma barreira se opondo às investigações de nosso objetivo.
    Ora, digo que o espaço é infinito, por esta razão de que é impossível lhe supor algum limite, e que, apesar da dificuldade que temos para conceber o infinito, nos é no entanto mais fácil ir eternamente no espaço, em pensamento, do que nos deter num lugar qualquer junto ao qual não encontraríamos mais extensão a percorrer.
    Para nos figurar, tanto quanto são nossas faculdades limitadas, a infinidade do espaço, suponhamos que partindo da Terra perdida no meio do infinito, para um ponto qualquer do Universo, e isso com a rapidez prodigiosa da centelha elétrica que transpõe milhares de léguas a cada segundo, apenas tenhamos deixado este globo, não tendo percorrido milhões de léguas, nós nos encontramos num lugar onde a Terra nos aparece mais que sob o aspecto de uma pálida estrela. Um instante depois, seguindo sempre a mesma direção, chegamos às estrelas distantes que distinguis com dificuldade de vossa estação terrestre; e dali, não somente a Terra está inteiramente perdida para os nossos olhares nas profundezas do céu, mas ainda o vosso próprio Sol, mesmo em seu esplendor, é eclipsado pela extensão que dela nos separa. Animados sempre da mesma rapidez do relâmpago, transpomos sistemas de mundos a cada passo que avançamos na extensão, ilhas de luz etérea, caminhos estelares, paragens suntuosas onde Deus semeou os mundos com a mesma profusão que semeou as plantas nas campinas terrestres.
     Ora, há apenas alguns minutos que caminhamos, e já centenas de milhões e de milhões de léguas nos separam da Terra, bilhões de mundos passaram sob nossos olhares, e no entanto escutai:
    Não avançamos, em realidade, um só passo no Universo.
    Se continuarmos durante anos, séculos, milhares de séculos, milhões de períodos cem vezes seculares e incessantemente com a mesma rapidez do relâmpago, não teremos avançado quase nada! E isto de algum lado que fôssemos e para algum ponto que nos dirigíssemos depois desse grão invisível que deixamos o que se chama a Terra.
    Eis o que é o espaço!


Livro: Revista Espírita - tomo 5 - 1862 - Allan Kardec - Galileu

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