Várias definições dessa palavra foram
dadas; a principal é esta: a extensão que separa dois corpos. De onde certos
sofistas deduziriam que ali onde não houvesse corpos, não haveria espaço; foi
sobre o que os doutores em teologia se basearam para estabelecer que o espaço
era necessariamente finito, alegando que dois corpos limitados em certo número
não podiam formar uma sequência infinita; e que ali onde os corpos se detinham,
o espaço se detinha também. Definiu-se ainda o espaço: o lugar onde se movem os
mundos, o vazio onde age a matéria, etc... Deixamos nos tratados onde eles
repousam todas essas definições que não definem nada.
O espaço é uma dessas palavras que
representam uma ideia primitiva e axiomática, evidente por si mesma, e que as
diversas definições que se podem dele dar não sabem senão obscurecer. Todos
sabemos o que é o espaço, e não quero senão estabelecer sua infinidade, a fim
de que nossos estudos não tenham nenhuma barreira se opondo às investigações de
nosso objetivo.
Ora, digo que o espaço é infinito, por esta
razão de que é impossível lhe supor algum limite, e que, apesar da dificuldade
que temos para conceber o infinito, nos é no entanto mais fácil ir eternamente
no espaço, em pensamento, do que nos deter num lugar qualquer junto ao qual não
encontraríamos mais extensão a percorrer.
Para nos figurar, tanto quanto são nossas
faculdades limitadas, a infinidade do espaço, suponhamos que partindo da Terra
perdida no meio do infinito, para um ponto qualquer do Universo, e isso com a
rapidez prodigiosa da centelha elétrica que transpõe milhares de léguas a cada
segundo, apenas tenhamos deixado este globo, não tendo percorrido milhões de
léguas, nós nos encontramos num lugar onde a Terra nos aparece mais que sob o
aspecto de uma pálida estrela. Um instante depois, seguindo sempre a mesma
direção, chegamos às estrelas distantes que distinguis com dificuldade de vossa
estação terrestre; e dali, não somente a Terra está inteiramente perdida para
os nossos olhares nas profundezas do céu, mas ainda o vosso próprio Sol, mesmo
em seu esplendor, é eclipsado pela extensão que dela nos separa. Animados
sempre da mesma rapidez do relâmpago, transpomos sistemas de mundos a cada
passo que avançamos na extensão, ilhas de luz etérea, caminhos estelares,
paragens suntuosas onde Deus semeou os mundos com a mesma profusão que semeou
as plantas nas campinas terrestres.
Ora, há apenas alguns minutos que
caminhamos, e já centenas de milhões e de milhões de léguas nos separam da
Terra, bilhões de mundos passaram sob nossos olhares, e no entanto escutai:
Não avançamos, em realidade, um só passo no
Universo.
Se continuarmos durante anos, séculos,
milhares de séculos, milhões de períodos cem vezes seculares e incessantemente
com a mesma rapidez do relâmpago, não teremos avançado quase nada! E isto de
algum lado que fôssemos e para algum ponto que nos dirigíssemos depois desse
grão invisível que deixamos o que se chama a Terra.
Eis o que é o espaço!
Livro: Revista Espírita -
tomo 5 - 1862 - Allan Kardec - Galileu
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