A REFORMA ÍNTIMA
- A Reforma Íntima é um processo contínuo de
autoconhecimento, de conhecimento da nossa intimidade espiritual, modelando-nos
progressivamente na vivência evangélica, em todos os sentidos da nossa
existência. É a transformação do homem velho, carregado de tendências e erros
seculares, no homem novo, atuante na implantação dos ensinamentos do Divino
Mestre, dentro e fora de si.
- Por que a Reforma Íntima?
- Porque é o meio de nos libertarmos das
imperfeições e de fazermos objetivamente o trabalho de burilamento dentro de
nós, conduzindo-nos, compativelmente, com as aspirações que nos levam ao
aprimoramento do nosso Espírito.
- Para que a Reforma Íntima?
- Para transformar o homem e, a partir dele,
toda a Humanidade ainda tão distante das vivências evangélicas. Urge
enfileirarmo-nos ao lado dos batalhadores das últimas horas, pelos nossos
testemunhos, respondendo aos apelos do Plano Espiritual e integrando-nos na
preparação cíclica do Terceiro Milênio.
- Onde fazer a Reforma Íntima?
- Primeiramente dentro de nós mesmos, cujas
transformações se refletirão depois em todos os campos de nossa existência, no
nosso relacionamento com familiares, colegas de trabalho, amigos e inimigos e,
ainda, nos meios em que colaboramos desinteressadamente com serviços ao
próximo.
- Quando fazer a Reforma Íntima?
- O momento é agora e já; não há mais o que
esperar. O tempo passa e todos os minutos são preciosos para as conquistas que
precisamos fazer no nosso íntimo.
O CONHECIMENTO DE SI MESMO
De modo geral, vivemos todos em função dos
impulsos inconscientes que se agitam no nosso mundo interior.
Manifestamos, sem controle e
sem conhecimento próprio, nosso desejos mais recônditos, ignorando suas raízes
e origens. O campo íntimo, onde os desejos são despertados nas mais variadas
formas, encontra-se ainda muito vedado diante de um olhar mais profundo.
Refletimos inconscientemente um sem número
de emoções, pensamentos, atrações, repulsas, simpatias, antipatias, aspirações
e repressões. Somos um complexo indefinido de sentimentos e ideias que, na
maioria das vezes, brotam dentro de nós sem sabermos como e por quê.
Somos todos vítimas dos nosso próprios
desejos mal conduzidos.
Se sentimos dentro de nós uma atração
enorme e alimentamos um desejo de posse, não nos perguntamos se temos o direito
de adquirir ou de concretizar aquela inspiração. Sentimos como se fôssemos
donos do que queremos, desrespeitando os direitos do próximo. Queremos e isso
basta, custe o que custar, contrariando ou não a liberdade dos outros. O nosso
desejo é mais forte e nada pode obstá-lo, esta é a maneira habitual de
reagirmos internamente.
Agindo desse modo, interferimos na vontade
dos que nos cercam e contrariamos, na maioria das vezes, os desejos daqueles
que não se subordinam aos nossos caprichos. Provocamos reações, violências de
parte a parte, agressões, discussões, desajustes, conflitos, ansiedade,
tormentos, mal-estares, infelicidades.
Vemos constantemente os erros e defeitos
dos que nos rodeiam e somos incapazes de perceber nossos próprios erros, tão ou
mais acentuados que os dos estranhos. As nossas faltas são sempre justificadas
por nós mesmos, com razões claras ao nosso limitado entendimento. Colocamo-nos
sempre como vítimas.
Esse comportamento é típico nos seres
humanos e confirma o desconhecimento de nós mesmos, das reações e manifestações
que habitam a intimidade do nosso eu, sede da alma.
A grande maioria das criaturas humanas
ainda se compraz na manifestação das suas paixões e não encontra motivos para
delas abdicar em benefício de alguém; são os imediatistas, de necessidades mais
elementares, com predominância das funções animais, como reprodução,
conservação, defesa. Dentro dessa maioria, compreendemos claramente como
hábitos mais evidentes e comuns a sensualidade, a gula, a agressividade que, no
ser tradicional, muitas vezes ultrapassam os limites das reações primitivas
animais nos requintes de expressão, decorrentes daqueles três hábitos: ciúme,
vingança, ódio, luxúria, violência. Podemos dizer que há nesses tipos de
indivíduos a predominância da natureza animal, orgânica ou corpórea. Uma
pequena minoria da Humanidade compreende a sua natureza espiritual, e como tal,
reflete um comportamento mais racional e menos impulsivo, isto é, suas necessidades
já denotam aspirações do sentimento, algum esforço em conquistar virtudes e,
assim, libertar-se dos defeitos derivados do egoísmo.
Estamos todos, possivelmente, numa
categoria intermediária, numa fase de transição de Espíritos imperfeitos para
Espíritos bons e, portanto, ora nos comprazemos dos impulsos característicos do
primeiro, ora buscamos alimentar o nosso Espírito nas realizações do coração,
na caridade, na solidariedade, no esforço de autoaprimoramento. Vamos, assim,
de modo lento, nas múltiplas existências realizando o nosso progresso
individual, elevando-nos na escala que vai do ser animal ao ser espiritual,
alicerçando interiormente os valores morais.
Em [Livro dos Espíritos-questão 919a] Santo
Agostinho afirma: "O Conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do
progresso individual".
Todo esforço individual no sentido de
melhorar nesta vida e resistir ao arrebatamento do mal só pode ser realizado
conscientemente, por disposição própria, distinguindo-se claramente os impulsos
íntimos e optando por disposições que nos levam às mudanças de comportamento.
Desse modo, "conhecer-se a si mesmo" é a condição indispensável para
nos levar a assumir deliberadamente o combate à predominância da natureza
corpórea.
E por quais razões o conhecimento próprio é
o meio prático mais eficaz?
Na Grécia, 400 anos antes de Cristo,
Sócrates já assim ensinava. Essa sabedoria milenar ainda hoje é sobretudo
evidente, e constitui o meio para evoluirmos. Não é compreensível que ao nos
conhecermos estaremos a um passo de melhorar? Não se torna mais fácil, sabendo
os perigos a que estamos sujeitos, afastarmo-nos deles e evitá-los?
COMO CONHECER-SE
A disposição de conhecer-se a si mesmo pode
surgir naturalmente como fruto do amadurecimento de cada um, de forma
espontânea, nata, resultante da própria condição do indivíduo, ou poderá ser
provocada pela ação do sofrimento renovador que, sensibilizando a criatura,
desperta-a para valores novos do Espírito. Uns chegam pela compreensão natural,
outros pela dor, que também é um meio de despertar a nossa compreensão.
Um grande número de indivíduos são levados,
devido a desequilíbrios emocionais, a gabinetes psiquiátricos ou psicoterápicos
para tratamento específicos. Através desses tratamentos vêm a conhecer as
origens de seus distúrbios, aprendendo a identificá-los e a controlá-los,
normalizando, até certo ponto, a sua conduta. Porém, isso acorre dentro de uma
motivação de comportamento compatível com os padrões de algumas escolas
psicológicas, quase todas materialistas.
Na Doutrina Espírita, como Cristianismo
Redivivo, igualmente buscamos o conhecimento de nós mesmos, embora dentro de um
sentido muito mais amplo, segundo o qual entendemos que a fração eterna e
indissolúvel de nosso ser só caminha efetivamente na sua direção evolutiva
quando pautando-se nos ensinamentos evangélicos, únicos padrões condizentes com
a realidade espiritual nos dois planos da nossa existência.
É preciso, então, despertar em nós a
necessidade de conhecer o nosso íntimo, objetivando nossa transformação dentro
do sentido cristão original, ensinando e exemplificado pelo Divino Mestre
Jesus.
Conhecer exclusivamente as causas e as
origens de nossos traumas e recalques, de nossas distonias emocionais nos
quadros da presente existência é limitar os motivos dos nossos conflitos,
olvidando a realidade das nossas existências anteriores, os delitos
transgressores do ontem, que nos vinculam aos processos reequilibradores e aos
reencontros conciliatórios do hoje.
As motivações que nos induzem a desenvolver
nossa remodelação de comportamento projetam-se igualmente para o futuro da
nossa eternidade espiritual, onde os valores ponderáveis são extremamente
aqueles obtidos nas conquistas nobilizantes do coração.
Percebendo o passado longínquo de erros,
trabalhamos livremente no presente, preparando um futuro existencial mais suave
e edificante. Esse é o amplo contexto de nossa realidade espiritual, à qual
almejamos nos integrar atuantes e produtivos.
Allan Kardec [O Céu e o Inferno-cap. VII]
mostra, nos itens 16º do Código Penal da Vida Futura, que no caminho para a
regeneração não basta ao homem o arrependimento. São necessárias a expiação e a
reparação, afirmando que "A reparação consiste em fazer o bem àqueles a
quem se havia feito o mal" , e também "praticando o bem em
compensação ao mal praticado, isto é, tornando-se humilde se tem sido
orgulhoso, amável se foi rude, caridoso se foi egoísta, benigno se perverso,
laborioso se ocioso, útil se for inútil, frugal se intemperante, exemplar se
não o foi."
Como podemos nos reabilitar dentro dessa
visão panorâmica da nossa realidade espiritual, infinitamente ampla, é o que
pretendemos, à luz do Espiritismo, abordar neste trabalho de aplicação prática.
Reabilitar-se exige modificar-se,
transformar o comportamento, a maneira de ser, de agir; é reformar-se
moralmente, começado pelo conhecimento de si mesmo.
Múltiplas são as formas pelas quais vamos
conhecendo a nós mesmos, nossas reações, nosso temperamento, o que imprime as
nossas ações ao meio em que vivemos, aquilo que é a maneira como respondemos
emocionalmente, como reagimos aos inúmeros impulsos externos no relacionamento
social.
Podemos concluir que a nossa existência é
todo um processo contínuo de reformulação de nossos próprios sentimentos e de
nossa compreensão dos porquês, como eles surgem e nos levam a agir.
Quando não procuramos deliberadamente nos
conhecer, alargando os campos da nossa consciência, dirigindo-a rumo ao nosso
eu, buscando identificar o porquê e a causa de tantas reações desconhecidas,
somos igualmente levados a nos conhecer, exatamente nos entrechoques com
aqueles do nosso convívio, no seio familiar, no meio social, nos setores de
trabalho, nos transportes coletivos, nos locais públicos, nos clubes
recreativos, nos meios religiosos, enfim, em tudo o que compreende os contratos
de pessoa a pessoa.
Bibliografia
1) Livro “Manual Prático do
Espírita” - Ney Prietro Peres
Apostila Original: Instituto de Difusão Espírita
de Juiz de Fora - MG