Uma amiga nossa, de nome
Dinorah, que nos auxilia em nossas atividades no Hospital dos Médiuns,
supervisionando o serviço de limpeza, veio, há três dias, conversar conosco,
quase apavorada.
- Dr. Inácio – disse-me –,
fui a uma palestra de um orador espírita, na semana passada, e fiquei, deveras,
desanimada – uma colega me convidou e eu fui, toda esperançosa,
mas...
- O que aconteceu,
Dinorah?! – perguntei na sequência da conversa. – Ele falou muitas asneiras?!
Mexeu com vocês?!...
- Não, Doutor, ele até que
é um homem sério, fala com muita calma e simplicidade – ele não complica, não!
Entendi tudo, e a minha colega também – acredito que, enfim, todos os que
estavam lá entenderam...
- De quê, então, você está
se queixando?! Hoje em dia, quando a gente encontra um orador que fala e a gente
entende, a gente precisa se tornar macaco de auditório dele! Por que o que tem
de gente falando sem real conhecimento de causa, e mais, imaginando que faz
parte de algum show desses programas de auditório na TV
norte-americana...
- O senhor sabe: a gente
deve ter muitas dívidas relacionadas às vidas passadas – talvez, não o senhor,
mas eu tenho!...
- De minha parte – respondi
–, sinceramente, não conheço espírito que, de alguma forma, não seja espírito
devedor... Todos, ou quase todos, têm dívida no Cartório... Eu, por enquanto,
sem querer saber o quanto devo, vou pagando – não está na hora de efetuar um
balanço, não, pois a consciência do tamanho da dívida é mais terrível que a
própria dívida!...
- Pois é, mas o orador
começou a falar de umas miuçalhas, que, sinceramente, eu não imaginava que a Lei
pudesse levar em conta umas quirelas...
- Deus é sovina, Dinorah! –
exclamei.
- Sovina?! Como
assim?!...
- Jesus falou que a gente,
enquanto não pagar o último ceitil, não sai da cadeia – demorei a entender que
Deus faz contas de “centavos”... O “Homem” é mão aberta para emprestar, mas, na
hora de receber, não faz abatimento, não! Eu nunca vi infinita generosidade e
sovinice infinita, de uma só vez, reunidas numa “Pessoa”
só!...
- Pois é, Doutor! Eu
pensava: graças a Deus, não tenho tão grandes dívidas assim para quitar, pois, a
minha consciência não me diz que eu já tenha matado, ou que já atentando contra
a própria vida, ou que, ainda, tenha sido uma pessoa deliberadamente má,
prejudicando comunidades inteiras...
- Que maravilha, Dinorah!
Você é uma felizarda, quase uma bem-aventurada!...
- Ah, não brinca, Doutor! O
conferencista disse que, depois de a gente saldar as nossas maiores dívidas para
com a Lei Divina, vamos ter que começar a quitar as dívidas
menores...
- E ele, que deve ser a
reencarnação de algum publicano, está certíssimo – repliquei. – É assim mesmo...
Primeiro, a gente paga no atacado, e depois no
varejo!...
- Mas, quais são essas
dívidas que vamos ter que pagar no varejo?! – inquiriu-me. – Por que eu não sou
uma pequena grande devedora, mas reconheço que sou uma grande pequena
devedora...
- São justamente, Dinorah,
as miuçalhas morais: falar mal de uma pessoa aqui, de outra ali; uma mentira
aqui, outra ali; uma desonestidade aqui, outra ali; um escorregão aqui, outro
ali... A coisa vai longe!...
- Ai, meu
Senhor!...
- O “Homem” é meticuloso! –
prossegui. – Você não vê que Jesus pregou o Evangelho falando de miudezas: um
óbolo, uma dracma, um punhado de fermento, uma pérola, uma semente de
mostarda...
-
Sim!...
-
Então?!...
- Doutor, mas eu pensei que
Ele podia...
- Não pode! Ele quer
receber tudo... E tem mais: tem juros em cima disso... O “Homem” quer
receber, multiplicados, os talentos que
empresta!...
Silenciei por instantes e
arrematei:
- Então, minha cara, vai
cuidando aí do seu serviço, que eu vou cuidar do meu, porque Ele é severo, ceifa
onde não semeou e ajunta onde não espalhou!...
INÁCIO
FERREIRA
Uberaba – MG, 21 de março
de 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário