8.3.16

“ESCOLHA” DE LIVROS ESPÍRITAS

Certa vez, conversando com amigos, Chico Xavier, referindo-se à grande produção de livros espíritas, de autores encarnados e desencarnados, disse que todos devem ter o direito de expor, em uma feira, a produção de seu “quintal”, deixando que as pessoas escolham o que melhor lhes apeteça ao paladar...
Não obstante, infelizmente, não é o que vemos acontecer no Movimento Espírita, em que muitos se arvoram em censores da produção literária alheia, escolhendo eles o que outros devem, ou não, intelectualmente consumir.
Sejamos mais objetivos.
Os “donos”, ou “diretores” de Clubes de Livro Espírita, tanto quanto de Livrarias, se julgam no direito de escolher o “cardápio doutrinário” a que os leitores podem ter acesso.
Trata-se, claro, de um absurdo, porque atentado inequívoco contra a liberdade de pensamento, além de colocar em dúvida a capacidade de discernimento do leitor.
Ressalve-se aqui o relevante papel que, sob o protesto da “gestapo espírita”, as Distribuidoras Espíritas, em geral, vêm cumprindo para a mais ampla divulgação do Espiritismo, adquirindo o maior número de títulos possível, inclusive de interessantes obras espiritualistas que sempre têm algo a ver com as de natureza espírita propriamente dita.
Compreenda-se que não estou aqui fazendo a minha própria defesa, porque, se, quando encarnado, nunca careci dos dividendos de obras espíritas de minha autoria para sobreviver – todas elas custeadas pelo meu bolso –, muito menos agora que me vejo, pela graça do Senhor, continuando a sobreviver sem eles.
Acontece que, sinceramente, considero um “atentado” à Doutrina, e aos companheiros de Ideal, que, por exemplo, residindo em cidades do interior, onde o acesso a publicações espíritas é sempre mais difícil, permanecem sujeitos ao critério de escolha daquele que se considera um “expert” em Espiritismo.
Não sei, na atualidade, de crime pior praticado contra a liberdade de pensamento, porquanto, tais censores estão a imitar os escribas e fariseus dos tempos do Cristo, que, chamados por ele de hipócritas, ainda tiveram que ouvir de sua boca: “... porque fechais o reino dos céus diante dos homens: pois, vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando.”
Confesso que, particularmente, não sou adepto das obras de Roustaing, mas nem por isto sou de opinião que a Federação Espírita Brasileira, que as edita, deixe de editá-las, para o conhecimento daqueles que queiram lê-las e estudá-las.
Aliás, Kardec, o Codificador, dizia que uma boa biblioteca espírita deve contar igualmente com obras que combatam a Doutrina.
O espírita, interessado em aprender, não deve se ater apenas e tão somente à leitura de obras doutrinárias, ampliando o universo de seus conhecimentos gerais e procurando, alhures, pontos de interação com os Princípios do Espiritismo.
Existem livros que, sem possuírem o rótulo de “espíritas” são mais espíritas que muitos outros assim considerados.
A par desta questão da “censura”, à qual estamos nos referindo, ainda há outra que precisa e deve ser mencionada: a do interesse comercial, em que alguns livreiros espíritas, na venda desse ou daquele livro, estão objetivando mais lucro financeiro para si do que lucro espiritual para a Causa.
Lamentável.
Não olvidemos, porém, que todos os envolvidos na difusão da Ideia Espírita no mundo, em seu papel de restaurar o Cristianismo, mais cedo ou tarde, serão chamados à devida prestação de contas, com cada qual respondendo exclusivamente pelos seus atos.
No Movimento Espírita da atualidade já se encontra em vigor o “nihil obstat”, ou seja, o “nada obsta” da Igreja Católica Romana, que Kardec, na publicação da primeira edição de “O Livro dos Espíritos”, em 1857, teve que ludibriar, porque, segundo o Dr. Canuto Abreu, em seu magnífico “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária”, o título original da Obra seria “Religião dos Espíritos”, e, certamente, com tal denominação, a Obra não teria obtido permissão para surgir a lume.

INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 7 de fevereiro de 2016.

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