Certa vez, conversando com amigos, Chico
Xavier, referindo-se à grande produção de livros espíritas, de autores
encarnados e desencarnados, disse que todos devem ter o direito de expor, em
uma feira, a produção de seu “quintal”, deixando que as pessoas escolham o que
melhor lhes apeteça ao paladar...
Não obstante, infelizmente, não é o que
vemos acontecer no Movimento Espírita, em que muitos se arvoram em censores da
produção literária alheia, escolhendo eles o que outros devem, ou não,
intelectualmente consumir.
Sejamos mais objetivos.
Os “donos”, ou “diretores” de Clubes de
Livro Espírita, tanto quanto de Livrarias, se julgam no direito de escolher o
“cardápio doutrinário” a que os leitores podem ter acesso.
Trata-se, claro, de um absurdo, porque
atentado inequívoco contra a liberdade de pensamento, além de colocar em dúvida
a capacidade de discernimento do leitor.
Ressalve-se aqui o relevante papel que, sob
o protesto da “gestapo espírita”, as Distribuidoras Espíritas, em geral, vêm
cumprindo para a mais ampla divulgação do Espiritismo, adquirindo o maior
número de títulos possível, inclusive de interessantes obras espiritualistas
que sempre têm algo a ver com as de natureza espírita propriamente dita.
Compreenda-se que não estou aqui fazendo a
minha própria defesa, porque, se, quando encarnado, nunca careci dos dividendos
de obras espíritas de minha autoria para sobreviver – todas elas custeadas pelo
meu bolso –, muito menos agora que me vejo, pela graça do Senhor, continuando a
sobreviver sem eles.
Acontece que, sinceramente, considero um
“atentado” à Doutrina, e aos companheiros de Ideal, que, por exemplo, residindo
em cidades do interior, onde o acesso a publicações espíritas é sempre mais
difícil, permanecem sujeitos ao critério de escolha daquele que se considera um
“expert” em Espiritismo.
Não sei, na atualidade, de crime pior
praticado contra a liberdade de pensamento, porquanto, tais censores estão a
imitar os escribas e fariseus dos tempos do Cristo, que, chamados por ele de hipócritas,
ainda tiveram que ouvir de sua boca: “... porque fechais o reino dos céus
diante dos homens: pois, vós não entrais, nem deixais entrar os que estão
entrando.”
Confesso que, particularmente, não sou
adepto das obras de Roustaing, mas nem por isto sou de opinião que a Federação
Espírita Brasileira, que as edita, deixe de editá-las, para o conhecimento
daqueles que queiram lê-las e estudá-las.
Aliás, Kardec, o Codificador, dizia que uma
boa biblioteca espírita deve contar igualmente com obras que combatam a
Doutrina.
O espírita, interessado em aprender, não
deve se ater apenas e tão somente à leitura de obras doutrinárias, ampliando o
universo de seus conhecimentos gerais e procurando, alhures, pontos de
interação com os Princípios do Espiritismo.
Existem livros que, sem possuírem o rótulo
de “espíritas” são mais espíritas que muitos outros assim considerados.
A par desta questão da “censura”, à qual
estamos nos referindo, ainda há outra que precisa e deve ser mencionada: a do
interesse comercial, em que alguns livreiros espíritas, na venda desse ou
daquele livro, estão objetivando mais lucro financeiro para si do que lucro
espiritual para a Causa.
Lamentável.
Não olvidemos, porém, que todos os
envolvidos na difusão da Ideia Espírita no mundo, em seu papel de restaurar o
Cristianismo, mais cedo ou tarde, serão chamados à devida prestação de contas,
com cada qual respondendo exclusivamente pelos seus atos.
No Movimento Espírita da atualidade já se
encontra em vigor o “nihil obstat”, ou seja, o “nada obsta” da Igreja Católica
Romana, que Kardec, na publicação da primeira edição de “O Livro dos
Espíritos”, em 1857, teve que ludibriar, porque, segundo o Dr. Canuto Abreu, em
seu magnífico “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária”, o
título original da Obra seria “Religião dos Espíritos”, e, certamente, com tal
denominação, a Obra não teria obtido permissão para surgir a lume.
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 7 de fevereiro de 2016.
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