TRANSPARÊNCIA
E VULNERABILIDADE
Muito difícil que, aos
outros, alguém possa se mostrar qual é sem sofrer alguma espécie de
retaliação.
Quase impossível que,
emocional e intelectualmente, alguém se desnude sem receio de se revelar a uma
sociedade repleta de preconceitos, e, a partir das religiões, extremamente
moralista e castradora.
Compreensível, pois, que,
até certo ponto, em relação às pessoas com as quais conviva, você adote uma
postura de autodefesa – para, pelo menos, não ser comido
vivo por elas.
Não estamos – óbvio – nos
referindo a nenhuma espécie de máscara afivelada ao rosto, com a qual escolha
viver sob tão rotineiro disfarce, que você próprio, mais tarde, não se
reconheça, perdendo, assim, a sua identidade.
De muito poucos você
poderia se aproximar na Terra ousando ser você mesmo, sem que recebesse rótulos
alienantes – porque, infelizmente, poucos, ou pouquíssimos, são capazes de amar
incondicionalmente – amar sem julgar, sem condenar, sem recriminar, sem
humilhar, e até sem mais graves atitudes de violência. (como, por exemplo,
atirar homossexuais do topo dos prédios, e, ainda, com as mãos cheias de pedras,
esperá-los lá embaixo para, caso não tenham morrido da queda, acabar de
assassiná-los)
Não se trata de pessimismo,
mas se você colocar o seu coração numa bandeja, entregando-o
indiscriminadamente, correrá sério risco de ter os seus sentimentos espezinhados
ou menosprezados – mesmo em se tratando de familiares consanguíneos
próximos.
O
que não se concebe, ou melhor, não se compreende, e deve ser algo inaceitável
para você, é que, no intuito de dissimular a sua realidade interior, você viva
enganando a si mesmo – mentindo a si próprio!
Crer-se virtuoso quando não
seja, é uma ilusão terrível – das piores que pode acometer o
espírito.
Não possuir, ou não se
buscar possuir, consciência dos próprios limites, é estado de inconsciência dos
mais doentios, que, inclusive, pode vir a ser causa de delírios e
alucinações.
Você não tem a obrigação de
deixar que, devassando-lhe as entranhas, os outros o conheçam, no entanto, tem,
sim, a obrigação de se conhecer, sempre com maior lucidez, a partir da qual
tenha condições de trabalhar as suas fragilidades e...
superá-las.
Procure, pois, não
desencarnar fazendo de sua vida uma mentira para você
mesmo.
Não pense que a sua
transparência possível no relacionamento com os semelhantes possa torná-lo
frágil – as pessoas, em geral, para que se animem a fazer o mesmo, estão
carecendo de exemplos de maior autenticidade.
Paulo, escrevendo aos
Coríntios, no capítulo 12, versículo 10, grafou com perspicácia: “... quando sou
fraco, então é que sou
forte.”
Não nos esqueçamos do que
nos ensina Jesus: carecemos de edificar a nossa casa íntima sobre a rocha da
sinceridade, e não sobre a areia da falta de
caráter.
O
espírito, até quando erra, pode ser grande.
Fora com qualquer
sentimento de autopiedade.
Preocupe-se com isto, não
consentindo que, na ampulheta do tempo, um só dia escoe sem que, com o auxílio
da consciência, você realize ainda que ligeiro exercício de
transparência.
Não se habitue a enganar
aos outros e a você – isso é um vício pior que
cocaína!
A
reconciliação que Jesus nos solicita buscar com os adversários é tão importante
quanto à reconciliação que precisamos promover conosco – reconciliemo-nos, pois,
conosco, na aceitação do que estejamos sendo, e sigamos adiante para que, um
dia, venhamos a ser o que somos em nossa essência
última.
INÁCIO
FERREIRA
Uberaba – MG, 15 de junho
de 2015.
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