16.6.15

TRANSPARÊNCIA E VULNERABILIDADE
 
Muito difícil que, aos outros, alguém possa se mostrar qual é sem sofrer alguma espécie de retaliação.
Quase impossível que, emocional e intelectualmente, alguém se desnude sem receio de se revelar a uma sociedade repleta de preconceitos, e, a partir das religiões, extremamente moralista e castradora.
Compreensível, pois, que, até certo ponto, em relação às pessoas com as quais conviva, você adote uma postura de autodefesa – para, pelo menos, não ser comido vivo por elas.
Não estamos – óbvio – nos referindo a nenhuma espécie de máscara afivelada ao rosto, com a qual escolha viver sob tão rotineiro disfarce, que você próprio, mais tarde, não se reconheça, perdendo, assim, a sua identidade.
De muito poucos você poderia se aproximar na Terra ousando ser você mesmo, sem que recebesse rótulos alienantes – porque, infelizmente, poucos, ou pouquíssimos, são capazes de amar incondicionalmente – amar sem julgar, sem condenar, sem recriminar, sem humilhar, e até sem mais graves atitudes de violência. (como, por exemplo, atirar homossexuais do topo dos prédios, e, ainda, com as mãos cheias de pedras, esperá-los lá embaixo para, caso não tenham morrido da queda, acabar de assassiná-los)  
Não se trata de pessimismo, mas se você colocar o seu coração numa bandeja, entregando-o indiscriminadamente, correrá sério risco de ter os seus sentimentos espezinhados ou menosprezados – mesmo em se tratando de familiares consanguíneos próximos.
O que não se concebe, ou melhor, não se compreende, e deve ser algo inaceitável para você, é que, no intuito de dissimular a sua realidade interior, você viva enganando a si mesmo – mentindo a si próprio!
Crer-se virtuoso quando não seja, é uma ilusão terrível – das piores que pode acometer o espírito.
Não possuir, ou não se buscar possuir, consciência dos próprios limites, é estado de inconsciência dos mais doentios, que, inclusive, pode vir a ser causa de delírios e alucinações.
Você não tem a obrigação de deixar que, devassando-lhe as entranhas, os outros o conheçam, no entanto, tem, sim, a obrigação de se conhecer, sempre com maior lucidez, a partir da qual tenha condições de trabalhar as suas fragilidades e... superá-las.
Procure, pois, não desencarnar fazendo de sua vida uma mentira para você mesmo.
Não pense que a sua transparência possível no relacionamento com os semelhantes possa torná-lo frágil – as pessoas, em geral, para que se animem a fazer o mesmo, estão carecendo de exemplos de maior autenticidade.
Paulo, escrevendo aos Coríntios, no capítulo 12, versículo 10, grafou com perspicácia: “... quando sou fraco, então é que sou forte.”
Não nos esqueçamos do que nos ensina Jesus: carecemos de edificar a nossa casa íntima sobre a rocha da sinceridade, e não sobre a areia da falta de caráter.
O espírito, até quando erra, pode ser grande.
Fora com qualquer sentimento de autopiedade.
Preocupe-se com isto, não consentindo que, na ampulheta do tempo, um só dia escoe sem que, com o auxílio da consciência, você realize ainda que ligeiro exercício de transparência.
Não se habitue a enganar aos outros e a você – isso é um vício pior que cocaína!
A reconciliação que Jesus nos solicita buscar com os adversários é tão importante quanto à reconciliação que precisamos promover conosco – reconciliemo-nos, pois, conosco, na aceitação do que estejamos sendo, e sigamos adiante para que, um dia, venhamos a ser o que somos em nossa essência última.
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 15 de junho de 2015.

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