29.6.15

Apelo ao Patriotismo

Brasileiros,
Parece que ficou fora de moda amar a Pátria. Pouco se vê atualmente sobre o sentimento de nacionalismo. A internacionalização das coisas tornou-nos cidadãos do mundo, todos nós, e, portanto, enaltecer a pátria-mãe passou a ser algo considerado ultrapassado.
Nos meus tempos entre vós havia um sentimento nacionalista forte, possivelmente porque existia a concorrência estrangeira a nos tirar espaços da economia e porque éramos, até pouco tempo, então, dependentes da Coroa Portuguesa. Hoje, naturalmente, os tempos são outros, bem sei, mas o que enalteço nestas linhas é a capacidade de defesa dos interesses nacionais sobre aqueles que não julgarmos convenientes às questões locais. 
É claro que pouco pode se fazer –e eu não estou aqui para criticar – quanto à avalanche que temos de empresas multinacionais. Elas representam interesses legítimos e maioria delas se estabelece por sua própria competência. Não é isto que está em jogo. O que ressalto é que tais empreendimentos atendem a interesses matriciais ou mesmo cosmopolitas e nada tem a ver com as necessidades do nosso povo representado em nação. São tais interesses que repudio e evoco aqui a pátria como sendo uma alavanca para defesa dos interesses locais.
O que devemos fazer diante da desnacionalização?
Reprimir? Talvez sim. Não creio, porém, que isto, por si só, irá ser suficiente. O que expresso é a necessidade de desenvolvermos competência geral naquilo que somos mais fortes, no que sejam as nossas vocações, e buscarmos incluir nisto a preservação das rendas para o nosso povo.
O que se faz, de outro modo, é o que se fez num passado não muito distante. Os grandes capitais aqui se apeavam e tiravam todas as nossas riquezas enviando-as para seus Estados-Sede, enquanto nós ficávamos a mercê dos restos da produção e dos ganhos. É contra este estado de coisas que me rebelo.
Isto não vai de encontro a nenhum princípio comercial ou desprotege demasiadamente acordos internacionais, o que está sendo pregado é que tenhamos a coragem de afirmar que parte deste capital fique aqui para alimentar novos investimentos e não se vá sem o devido retorno para o povo nativo.
Eles, os grandes capitalistas, fazem isto, sempre fizeram, mas respeitarão aqueles que de forma concisa, objetiva, deixar bem claro que não repudia a expansão de mercados, mas que observa, entretanto, a valorização dos interesses nacionais.
Com regras claras, tudo fica muito fácil para o entendimento. O que não se deve fazer é mudar regras constantemente. O que não se aprova é um governo frouxo na economia. O que não se aconselha é um alheamento a tais interesses. Se depender do jogo dos capitalistas vencerá naturalmente o mais forte deles. Esta questão já é sabida por todos.
O nacionalismo que defendo não é anacrônico, caduco, conservador, piegas, eufemístico, vazio. Defendo um nacionalismo onde os patriotas defendam a sua pátria. Onde lute para que tais empreendimentos aqui fiquem, mas que respeitem as nossas leis.
Que desejamos, senão, a produção de riquezas e o usufruto dela pela maior parte de nossa população?
A exclusividade, o apadrinhamento, a restrição de créditos, e um sem número de privilégios, isto é que não é recomendável.
Gostar do Brasil é dizer de viva voz que queremos que a nossa riqueza fique, a maior parte dela, entre os brasileiros, pois nossa gente ainda é bastante carente de coisas mínimas.
Enquanto não deixarmos o nosso povo de barriga cheia e de dignidade na sua moradia, não podemos nos arvorar a expurgar nossos capitais, aumentando ainda mais a riqueza dos que já são ricos.
O mesmo princípio, defendo para todos os outros povos. Quantos países africanos vivem a míngua com riquezas naturais abundantes? Quantas nações na Ásia e nas Américas vivem da subtração dos seus recursos naturais que são exportados “a preço de banana” para os países investidores?
Na prática, há uma parcela significativa dessa gente que nem pátria possui, somente aquela que se denomina a sua Organização.
Basta, meus senhores, de escravidão disfarçada!
Paremos com a exploração desenfreada!
Executemos uma política de valorização nacional, sobretudo estimulando o empreendedor local a se fortalecer a ponto de competir, de igual para igual, com o grande capital estrangeiro. Isto, sim, pode ser feito.
Cadê os homens e mulheres que sentem nas veias, de verdade, o pulsar do sangue brasileiro?
Capacitemo-nos para sermos mais competitivos.
Operemos a reciprocidade de tratamento mercantil.
Façamos justiça fiscal e social.
Há muitas formas de privilegiar o empreendor brasileiro sem molestar os Interesses das grandes empresas. Um e outro podem conviver pacificamente, principalmente se a liberdade for respeitada e as regras regiamente definidas e cumpridas.
A riqueza e o trabalho devem circular para todos. Cada um a seu modo faça o melhor e assim se estabeleça, mas preservemos os interesses locais quando estes estiverem sendo vilipendiados.
Joaquim Nabuco

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