Brasileiros,
Parece que ficou fora de
moda amar a Pátria. Pouco se vê atualmente sobre o sentimento de nacionalismo. A
internacionalização das coisas tornou-nos cidadãos do mundo, todos nós, e,
portanto, enaltecer a pátria-mãe passou a ser algo considerado
ultrapassado.
Nos meus tempos entre vós
havia um sentimento nacionalista forte, possivelmente porque existia a
concorrência estrangeira a nos tirar espaços da economia e porque éramos, até
pouco tempo, então, dependentes da Coroa Portuguesa. Hoje, naturalmente, os
tempos são outros, bem sei, mas o que enalteço nestas linhas é a capacidade de
defesa dos interesses nacionais sobre aqueles que não julgarmos convenientes às
questões locais.
É claro que pouco pode se
fazer –e eu não estou aqui para criticar – quanto à avalanche que temos de
empresas multinacionais. Elas representam interesses legítimos e maioria delas
se estabelece por sua própria competência. Não é isto que está em jogo. O que
ressalto é que tais empreendimentos atendem a interesses matriciais ou mesmo
cosmopolitas e nada tem a ver com as necessidades do nosso povo representado em
nação. São tais interesses que repudio e evoco aqui a pátria como sendo uma
alavanca para defesa dos interesses locais.
O que devemos fazer diante
da desnacionalização?
Reprimir? Talvez sim. Não
creio, porém, que isto, por si só, irá ser suficiente. O que expresso é a
necessidade de desenvolvermos competência geral naquilo que somos mais fortes,
no que sejam as nossas vocações, e buscarmos incluir nisto a preservação das
rendas para o nosso povo.
O que se faz, de outro
modo, é o que se fez num passado não muito distante. Os grandes capitais aqui se
apeavam e tiravam todas as nossas riquezas enviando-as para seus Estados-Sede,
enquanto nós ficávamos a mercê dos restos da produção e dos ganhos. É contra
este estado de coisas que me rebelo.
Isto não vai de encontro a
nenhum princípio comercial ou desprotege demasiadamente acordos internacionais,
o que está sendo pregado é que tenhamos a coragem de afirmar que parte deste
capital fique aqui para alimentar novos investimentos e não se vá sem o devido
retorno para o povo nativo.
Eles, os grandes
capitalistas, fazem isto, sempre fizeram, mas respeitarão aqueles que de forma
concisa, objetiva, deixar bem claro que não repudia a expansão de mercados, mas
que observa, entretanto, a valorização dos interesses
nacionais.
Com regras claras, tudo
fica muito fácil para o entendimento. O que não se deve fazer é mudar regras
constantemente. O que não se aprova é um governo frouxo na economia. O que não
se aconselha é um alheamento a tais interesses. Se depender do jogo dos
capitalistas vencerá naturalmente o mais forte deles. Esta questão já é sabida
por todos.
O nacionalismo que defendo
não é anacrônico, caduco, conservador, piegas, eufemístico, vazio. Defendo um
nacionalismo onde os patriotas defendam a sua pátria. Onde lute para que tais
empreendimentos aqui fiquem, mas que respeitem as nossas
leis.
Que desejamos, senão, a
produção de riquezas e o usufruto dela pela maior parte de nossa
população?
A exclusividade, o
apadrinhamento, a restrição de créditos, e um sem número de privilégios, isto é
que não é recomendável.
Gostar do Brasil é dizer de
viva voz que queremos que a nossa riqueza fique, a maior parte dela, entre os
brasileiros, pois nossa gente ainda é bastante carente de coisas
mínimas.
Enquanto não deixarmos o
nosso povo de barriga cheia e de dignidade na sua moradia, não podemos nos
arvorar a expurgar nossos capitais, aumentando ainda mais a riqueza dos que já
são ricos.
O mesmo princípio, defendo
para todos os outros povos. Quantos países africanos vivem a míngua com riquezas
naturais abundantes? Quantas nações na Ásia e nas Américas vivem da subtração
dos seus recursos naturais que são exportados “a preço de banana” para os países
investidores?
Na prática, há uma parcela
significativa dessa gente que nem pátria possui, somente aquela que se denomina
a sua Organização.
Basta, meus senhores, de
escravidão disfarçada!
Paremos com a exploração
desenfreada!
Executemos uma política de
valorização nacional, sobretudo estimulando o empreendedor local a se fortalecer
a ponto de competir, de igual para igual, com o grande capital estrangeiro.
Isto, sim, pode ser feito.
Cadê os homens e mulheres
que sentem nas veias, de verdade, o pulsar do sangue
brasileiro?
Capacitemo-nos para sermos
mais competitivos.
Operemos a reciprocidade de
tratamento mercantil.
Façamos justiça fiscal e
social.
Há muitas formas de
privilegiar o empreendor brasileiro sem molestar os Interesses das grandes
empresas. Um e outro podem conviver pacificamente, principalmente se a liberdade
for respeitada e as regras regiamente definidas e
cumpridas.
A riqueza e o trabalho
devem circular para todos. Cada um a seu modo faça o melhor e assim se
estabeleça, mas preservemos os interesses locais quando estes estiverem sendo
vilipendiados.
Joaquim
Nabuco
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