19.6.15

Não Sou Santo - III
O que somos?
A pergunta se torna pertinente para podermos dar uma direção nas nossas vidas.
Muita gente pensa que é aquilo que vê. O mundo se resume aos sentidos físicos. O que vejo, o que toco, o que percebo, é o mundo e nada mais.
Outros – e graças a Deus que não são poucos – acreditam que são bem mais do que uma simples carcaça de carne e ossos.
Esta constatação já representa alguma coisa, mas não é suficiente para os planos do Pai.
A constatação é um primeiro passo para se chegar às alturas, mas é apenas um primeiro passo. Importante, mas um avanço inicial.
O processo que nos leva a espiritualização é algo grandioso e o tempo é o grande senhor para nos levar a não sabemos onde.
O que guarda esta distância até nós é uma imensa esperança, pois se não sabemos até onde vamos parar, somente a esperança para nos dizer que um dia poderemos chegar lá, certamente mais perto do Pai.
Este desenvolvimento exige esforço, muito esforço, e uma perseverança de grandes proporções.
Os santos, os verdadeiramente santos, hão de alcançá-lo, mas isto representa o esforço de séculos, de milhares de anos, talvez de um trabalho infinito.
A santidade possivelmente significa o encontro com a sua própria luz interior que é Deus. Ao nos encontrarmos com o deus que existe em nós, neste dia, seremos santos e santas.
Esta perspectiva da santidade é algo inimaginável ainda para o ser humano. Não podemos alcançar tamanho progresso espiritual com as limitações que ainda possuímos, mas ter uma ideia desta perspectiva já é alguma coisa.
Os santos do mundo são, por mais que pareçam grandiosas as suas proezas, irmãos em estado de evolução, pessoas dedicadas ao seu autocontrole interior que já perceberam o quanto possuem para evoluir para se encontrarem com o Pai.
São Tomás de Aquino, o grande pensador da Igreja Católica, atribuía à santidade um sentido metafísico, mas alcançável. Na sua visão, o homem poderia sim ser santo desde que estivesse em permanente contato com Deus. Está certo em suas palavras e no seu raciocínio, mas quando é que estaremos neste contato permanente com o Criador Deus Pai?
A vida nos traz muitas felicidades, uma delas, no meu caso, foi a possibilidade de arregimentar forças para trabalhar em função dos meus irmãos de caminho, a grande causa da minha última existência que, na condição de padre, foi a minha obrigação. Encontrar neste trabalho diuturno uma razão para viver foi a minha grande ventura, mas daí coroar-me com um título magnífico, perdoem-me, irmãos bondosos e carinhosos comigo, há enorme distância.
O que faço neste plano que estou é o mínimo diante daquilo que se agiganta em mim de necessidade. Falava, em vida física, destes desafios, mas quando me deparo com a realidade neste lado da vida é que percebo o quanto ainda somos insignificantes nos Planos do Senhor.
Incomoda-me o título? Sim. Apesar de entender o que ele representa para todos. Passar a carregar esta responsabilidade tendo consciência da sua miserabilidade humana é algo por demais preocupante – no mínimo.
A todos os idealizadores desta iniciativa, dedico o meu agradecimento de coração, a minha sincera gratidão, mas não posso aceitá-lo, não posso vê-lo com bons olhos, porque seria a confirmação de uma condição em que estou a dever – e muito – na distância dos dias.
Peço que revejam, se possível, tal ordem de coisas, mas como será difícil acreditar nas palavras que aqui escrevo, fiquem conscientes que todos aqueles que estão no panteão da santidade têm um terrível incômodo a arrastar. 
Os homens necessitam despertar, de uma vez por todas, para a sua condição espiritual e, diante dela, verificar o quanto lhes falta, como disse o Nosso Senhor Jesus Cristo, para estar em unidade com o Pai.
Enquanto isto, que Deus, o maior de todos, a santidade por excelência, proteja a todos nós.
Amém!
Helder Camara

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