Não
Sou Santo - III
O
que somos?
A
pergunta se torna pertinente para podermos dar uma direção nas nossas vidas.
Muita
gente pensa que é aquilo que vê. O mundo se resume aos sentidos físicos. O que
vejo, o que toco, o que percebo, é o mundo e nada mais.
Outros
– e graças a Deus que não são poucos – acreditam que são bem mais do que uma
simples carcaça de carne e ossos.
Esta
constatação já representa alguma coisa, mas não é suficiente para os planos do
Pai.
A
constatação é um primeiro passo para se chegar às alturas, mas é apenas um
primeiro passo. Importante, mas um avanço inicial.
O
processo que nos leva a espiritualização é algo grandioso e o tempo é o grande
senhor para nos levar a não sabemos onde.
O
que guarda esta distância até nós é uma imensa esperança, pois se não sabemos
até onde vamos parar, somente a esperança para nos dizer que um dia poderemos
chegar lá, certamente mais perto do Pai.
Este
desenvolvimento exige esforço, muito esforço, e uma perseverança de grandes
proporções.
Os
santos, os verdadeiramente santos, hão de alcançá-lo, mas isto representa o
esforço de séculos, de milhares de anos, talvez de um trabalho infinito.
A
santidade possivelmente significa o encontro com a sua própria luz interior que
é Deus. Ao nos encontrarmos com o deus que existe em nós, neste dia, seremos
santos e santas.
Esta
perspectiva da santidade é algo inimaginável ainda para o ser humano. Não
podemos alcançar tamanho progresso espiritual com as limitações que ainda
possuímos, mas ter uma ideia desta perspectiva já é alguma coisa.
Os
santos do mundo são, por mais que pareçam grandiosas as suas proezas, irmãos em
estado de evolução, pessoas dedicadas ao seu autocontrole interior que já
perceberam o quanto possuem para evoluir para se encontrarem com o Pai.
São
Tomás de Aquino, o grande pensador da Igreja Católica, atribuía à santidade um
sentido metafísico, mas alcançável. Na sua visão, o homem poderia sim ser santo
desde que estivesse em permanente contato com Deus. Está certo em suas palavras
e no seu raciocínio, mas quando é que estaremos neste contato permanente com o
Criador Deus Pai?
A
vida nos traz muitas felicidades, uma delas, no meu caso, foi a possibilidade
de arregimentar forças para trabalhar em função dos meus irmãos de caminho, a grande
causa da minha última existência que, na condição de padre, foi a minha
obrigação. Encontrar neste trabalho diuturno uma razão para viver foi a minha
grande ventura, mas daí coroar-me com um título magnífico, perdoem-me, irmãos
bondosos e carinhosos comigo, há enorme distância.
O
que faço neste plano que estou é o mínimo diante daquilo que se agiganta em mim
de necessidade. Falava, em vida física, destes desafios, mas quando me deparo
com a realidade neste lado da vida é que percebo o quanto ainda somos
insignificantes nos Planos do Senhor.
Incomoda-me
o título? Sim. Apesar de entender o que ele representa para todos. Passar a
carregar esta responsabilidade tendo consciência da sua miserabilidade humana é
algo por demais preocupante – no mínimo.
A
todos os idealizadores desta iniciativa, dedico o meu agradecimento de coração,
a minha sincera gratidão, mas não posso aceitá-lo, não posso vê-lo com bons
olhos, porque seria a confirmação de uma condição em que estou a dever – e
muito – na distância dos dias.
Peço
que revejam, se possível, tal ordem de coisas, mas como será difícil acreditar
nas palavras que aqui escrevo, fiquem conscientes que todos aqueles que estão
no panteão da santidade têm um terrível incômodo a arrastar.
Os
homens necessitam despertar, de uma vez por todas, para a sua condição
espiritual e, diante dela, verificar o quanto lhes falta, como disse o Nosso
Senhor Jesus Cristo, para estar em unidade com o Pai.
Enquanto
isto, que Deus, o maior de todos, a santidade por excelência, proteja a todos
nós.
Amém!Helder Camara
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