2.6.15

MISSIVISTA CANSADA

Minha irmã.
Recebi a sua carta, na qual você me diz que se encontra muito cansada de viver na Terra...
- Dr. Inácio – resumo a sua missiva de quase três páginas –, viver aqui embaixo anda muito difícil – muita violência, muita indiferença, da parte das pessoas, em geral, para com os semelhantes, muito materialismo imperando em quase todos os setores da existência... Antes, eu tinha muito medo de morrer, de deixar este mundo, mas agora, praticamente, estou perdendo quase todo o meu apego a ele... Não sei se a Humanidade vai ter jeito, não! Sou viúva, tenho filhos, mas eles já se encontram criados, cuidando dos filhos deles, meus netos queridos. Eu já sou vovó, no entanto, quase ninguém liga para os idosos... Vivo sozinha, em minha casa, quase a maior parte do tempo, cuidando de pequeno jardim e de alguns vasos com samambaias e avencas. Tenho uma gatinha por companhia – uma gatinha e um cachorrinho vira-lata: eles se dão muito bem – chegam a dormir juntos! Os animais, seres irracionais, parecem se entender melhor que os homens, o senhor não acha?! Penso que onde o senhor vive, no Mundo Espiritual, existem menos problemas que na Terra – as pessoas são mais sinceras, transparentes e... amorosas.

Foi justamente neste trecho de sua carta, minha irmã, que eu resolvi, deste Outro Lado da Vida, colocar meu
notebook mediúnico para funcionar, a fim de lhe enviar uma resposta – e também por que, escrevendo a você, acredito que o esteja fazendo a dezenas de outras pessoas com as quais me encontro em pendência epistolar. Sim, porquanto, infelizmente, por mais me esforce, não tenho conseguido por a minha correspondência em dia.
Não se equivoque, pois aqui, no Mundo Espiritual, não existem menos problemas que na Terra, não! Se a sua vontade de desencarnar estiver sendo motivada por isto, é melhor que você se demore por aí pelo tempo mais longo possível...
Aqui, minha cara, está cheio de gente desencarnada – homens e mulheres que, apesar da
morte, continuam sendo as mesmas mulheres e os mesmos homens de sempre! Viram que não morreram e, com o propósito de festejar
a própria imortalidade, resolveram deixar a sua vida seguir como dantes – continuam até duvidando da existência de Deus, e, pasme, a maioria transferiu a sua incerteza em relação à sobrevivência para a sua próxima etapa existencial...
Deixa-me explicar: quando encarnados, muitos duvidavam de que a vida pudesse prosseguir além da morte de seu corpo físico, e, agora, estando desencarnados, duvidam de que a vida possa continuar além da morte de seu corpo espiritual... Entendeu?! Se não, devo dizer a você que é complicado mesmo.
Não se aperreie, não, porque a Humanidade vai ter jeito, um dia! Quando será, com todo o respeito, creio que nem Jesus Cristo arriscaria um palpite... Aliás, o Divino Mestre, falando sobre a vinda do Filho do homem, quando findasse a “grande tribulação”, esclareceu:
“Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai.”

Convém, pois, que pense que, se os seus filhos, e mesmo netos, não precisam de sua presença na Terra, a sua gatinha e seu vira-lata precisam, por que, caso você venha a desencarnar, quem haverá de adotá-los?! Quem haverá de cuidar de suas flores e de seus lindos vasos de avencas e samambaias, com os quais você procura tornar um pouco menos árida a paisagem moral deste mundo, em que uma bala de fuzil, feita pela mão do homem, vale muito mais que uma rosa, feita pela Mão de Deus?!...
Não, não queira vir para cá agora, não! – você vai se decepcionar! Neste suposto “andar de cima” ainda faz muito barulho, quase tanto quanto neste “andar de baixo”, onde os ruídos apenas diminuem quando a lâmpada do Sol se apaga no firmamento, mergulhando a Terra em quase completa escuridão – se não fosse pela bênção da noite, os homens enlouqueceriam pelo grande barulho que fazem a si mesmos durante o dia!
Não se preocupe. Quando, pela Vontade de Deus, você vier para cá, haverá muitos jardins à espera de suas mãos de jardineira devotada e muitos bichanos e vira-latas, na expectativa do amor que você lhes possa dedicar.
De seu irmão menor –
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 1 de junho de 2015.

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