Importante
também fazermos a distinção de quem seria o Consolador, pois alguns companheiros
o têm como sendo Jesus, enquanto outros já o veem como o Espírito de Verdade.
Vejamos esta passagem de João:
"Se me amais, guardareis os meus
mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim
de que esteja eternamente convosco, o Espírito de Verdade, que o mundo
não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque
ele habita convosco e estará em vós. Não vos deixarei órfãos, voltarei para
vós outros. Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu
nome, esse vos ensinará todas as cousas e vos fará lembrar de tudo o que vos
tenho dito." (João 14,15-18 e 26) (grifo nosso).
Por ter afirmado que
enviaria outro Consolador, devemos concluir, com Kardec, que o Consolador não é
Jesus. Entretanto, a passagem bíblica dá a entender que o Consolador é o
Espírito de Verdade, fato que vem causando
uma certa confusão para se
identificar quem realmente ele seja, se apenas tomarmos essa passagem como
referência. Mais à frente iremos ver que outras passagens bíblicas não trazem
esta ideia, separando um do outro.
Em A Gênese, capítulo XVII, item 39,
Kardec vai nos esclarecer isso, pois, para ele são duas coisas distintas.
Vejamos:
"Qual deverá ser esse Enviado? Dizendo: 'Pedirei a meu Pai e ele
vos enviará outro Consolador ', Jesus claramente indica que esse Consolador
não seria ele, pois, do contrário, dissera: 'Voltarei a completar o que vos
tenho ensinado'. Não só tal não disse, como acrescentou: 'A fim de que fique
eternamente convosco e ele estará em vós'. Esta proposição não poderia
referir-se a uma individualidade encarnada, visto que não poderia ficar
eternamente conosco, nem, ainda menos, estar em nós; compreendemo-la, porém,
muito bem com referência a uma doutrina, a qual, com efeito, quando a tenhamos
assimilado, poderá estar eternamente em nós. O Consolador é, pois,
segundo o pensamento de Jesus, a personificação de uma doutrina soberanamente
consoladora, cujo inspirador há de ser o Espírito de Verdade." (A
Gênese, FEB, 2007, p. 441) (grifo nosso).
Assim, Kardec, reafirmando o que
já havia dito alhures, relaciona o Consolador a uma doutrina soberanamente
consoladora, qual seja, o Espiritismo, cujo inspirador foi o Espírito de
Verdade. Portanto, fica claro para nós que Kardec também separa um do outro, o
que nos leva a concluir que o Espírito de Verdade não é o Consolador, o qual,
ele mesmo, nessa sua fala acima, identifica como sendo o Espiritismo. O que fica
ainda mais nítido com estas suas duas outras falas:
"Assim, o
Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento
das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na
Terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei de Deus e consola pela fé e
pela esperança." (O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo VI, item 4, p.
135) (grifo nosso).
"[ ... ] reconhece-se que o Espiritismo realiza todas
as promessas do Cristo a respeito do Consolador anunciado. Ora, como é o
Espírito de Verdade quem preside ao grande movimento da regeneração, a
promessa do seu advento se encontra realizada, porque, de fato, é ele o
verdadeiro Consolador," (A Gênese, item 42, IDE, p. 31) (grifo nosso).
Portanto, caracteriza o Espiritismo como sendo o Consolador prometido, ao qual
lhe atribui a realização da promessa de Jesus quanto ao seu envio, o que, mostra
claramente a separação que fazia entre Espírito de Verdade e o Consolador.
Nesta última fala, a que consta em A Gênese, ao dizer no final que "é ele o
verdadeiro Consolador", o "é ele!' a que Kardec aqui está se referindo, s.m.j.,
é à expressão "seu advento", o que, por conseguinte, nos remete ao Es-
piritismo e não ao Espírito de Verdade; ressaltamos, para que não se venha
confundi-los no entendimento deste texto.
Para confirmar este nosso
entendimento, vejamos esta outra fala de Kardec, contida em O Evangelho Segundo
o Espiritismo (p. 134):
"O Espiritismo vem, na época predita, cumprir a
promessa do Cristo: preside ao seu advento o Espírito de Verdade." (grifo
nosso). Comparando esta fala com a que acima é dita "a promessa do seu
advento se encontra realizada, porque, pelo fato, é ele o verdadeiro
Consolador", percebemos que nesta última frase o "seu advento" está se referindo
ao Espiritismo, o que pode ser conferido com o que foi colocado na primeira
frase.